Últimas indefectivações

segunda-feira, 30 de abril de 2012

O chão que pisamos

"Um Campeonato Nacional, três apuramentos para a Liga dos Campeões, uma meia-final e dois quartos de final europeus, três Taças da Liga, 120 milhões de euros em vendas de jogadores, um título de Juvenis e um título de Iniciados, em Futebol; uma UEFA Cup, uma Taça de Portugal e duas Supertaças de Futsal, uma Taça CERS, uma Taça Continental, uma Taça de Portugal e uma Supertaça em Hóquei em Patins; um Campeonato, uma Taça da Liga, duas Supertaças, uma Taça Compal e um Torneio dos Campeões em Basquetebol; uma Taça de Portugal uma Taça da Liga e uma final europeia em Andebol; duas Taças de Portugal e uma Supertaça de Voleibol; dois Campeonatos de Atletismo; um Campeonato de Judo, vários triunfos no Futsal e no Râguebi femininos, entre muitas outras vitórias nas mais diversas modalidades e categorias.
Estes são alguns dados relativos ao último triénio do nosso Clube, e carecem de actualização com o que falta disputar da corrente época, na qual mantemos ainda múltiplas aspirações - designadamente nas modalidades extra-Futebol.
Para quem se queixa dos resultados recentes do Benfica bastará contrastar estes números - reafirmo, apenas relativos aos últimos três anos - com toda a década compreendida entre 1994 e 2003, para perceber cabalmente a nossa realidade actual. E falo apenas de resultados desportivos.

Comparação injusta
Quando analisamos o momento do Benfica, não podemos perder a perspectiva histórica. A memória por vezes é curta, e esconde atrás de si um caminho percorrido, um ponto de partida, e um passado esquecido. Ao ignorar tudo o que não corresponda ao imediatismo reinante, esse esquecimento emperra-nos a lucidez, tolhe-nos o pensamento, afunda-nos a serenidade.
O Benfica dos anos sessenta engrandece a nossa história, mas não é o termo exacto para uma comparação com a actualidade. O Mundo mudou demasiado, o Desporto português também, e hoje temos uma concorrência muitíssimo mais forte (dentro e fora dos campos, por cima e por baixo das mesas) do que a da altura - resumida, então, a um esforçado mas subalterno Sporting, que ainda anda por aí. Com ódio, com corrupção, mas também com determinação e alguma competência, fizeram-nos frente. Inquietaram-nos. De cabeça perdida, demos voltas e reviravoltas, cometemos erros, navegámos em equívocos e em ilusões, andámos para trás, batemos nas paredes. Chegámos ao grau zero da ambição e da esperança. Andámos fora da Europa, e até fora da lei. Recuperámos a identidade perdida, e estamos a caminho do futuro. Ninguém nos pode ainda exigir o céu, mas voltámos a voar bem alto.
Quem de nós não gostaria de ter ganho ainda mais? Quem de nós se satisfaz com o 'bom', existindo o 'óptimo' logo ali à frente? É próprio da natureza do adepto apaixonado, que quer sempre este mundo e o outro. No Desporto, que é um brinquedo de emoções, é legítimo pedir, querer, exigir. Até mesmo protestar. Mas se pararmos para reflectir, veremos a luz de um imenso brilho, que ilumina todo um caminho percorrido.

Muito mais perto da glória
De facto, o Benfica de hoje voltou a orgulhar-nos, e a arrebatar-nos enquanto adeptos do Futebol. São as fortíssimas expectativas criadas (de ser sempre Campeão, de triunfar sempre na Europa, de recuperar uma hegemonia perdida), que nos deixam alguns sentimentos de angústia quando nos temos de confrontar com a desilusão de uma derrota. A oportunidade de golo desperdiçada, o fora-de-jogo que o fiscal-de-linha não vê, o penálti que não é assinalado, são hoje estes, apenas estes, os detalhes que nos levam ao sofrimento.
Naquilo que mais nos move, em três anos ganhámos um título, e estivemos muito perto de um segundo. É pouco? Sim, mas comparando a quê? Alguém, com menos de trinta anos, terá visto o Benfica ser Campeão em dois anos consecutivos? Eu, com mais de quarenta, só festejei um Bi-Campeonato (com Eriksson... em 1984).
A assimetria entre aquilo que é uma nostalgia de tempos que não existem mais, e uma contemporaneidade de crescimento, de vitalidade, de progressão e de esperança, que, porém, ainda não ofusca esse passado, não pode ser raiz de qualquer angústia existencial que nos corroa a alma.
O Benfica de hoje é muito grande. Voltou a ser muito grande. Voltou a estar perto, muito perto, da sua identidade histórica. E se, com lucidez, com empenho, com perseverança, soubermos guiá-lo até mais longe, rapidamente retomará o lugar que essa nostalgia deixou para trás."

Luís Fialho, in O Benfica

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