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quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Um inverno para dois Outonos


"A CONQUISTA DO 1.º TROFÉU DE TIRO FEMININO DO BENFICA VIU-SE IMPACTADA PELA FORÇA DAS VIROSES DE JANEIRO

Em 1945, Lisboa vestiu-se de branco, e até no Algarve nevou. “As árvores cobriram-se de renda, e os telhados começaram a alvejar. Os automóveis traziam uma camada de neve de alguns centímetros de espessura em cima.” Era a sétima vez que nevava em Lisboa em 73 anos.
Mas a beleza da neve embranquecia um cenário mais negro. Em todo o país, a vaga de frio daquele janeiro de fim de guerra resultou em água congelada nas canalizações, atrasos mercantis, e, nas ruas, nem só os mais pobres sucumbiam às temperaturas negativas. As doenças propagavam-se, sobretudo a gripe, numa sociedade empobrecida e “enregelada” como era a portuguesa.
A Carris de Ferro registou 200 trabalhadores doentes. Vários serviços municipais também foram afetados, com 142 enfermos. O desporto foi avançando, “batendo-se contra a neve”, com provas de râguebi, hóquei em campo, andebol, futebol, basquetebol e tiro, mostrando o “bom espírito de sacrifício, como só atletas sabem possuir”.
O CA Campo de Ourique organizou um torneio de tiro, chamado Outono. Para a primeira parte, em 12 de janeiro, o Benfica inscreveu quatro atiradoras para a categoria feminina e dez masculinos na categoria B. A equipa principal jogaria numa segunda parte, em fevereiro.
Logo de início, as equipas viram-se desfalcadas. Só do Benfica, foram três os atiradores da categoria B que não puderam comparecer por doença.
As benfiquistas Ester Loureiro, Maria José das Neves e Maria José de Almeida já tinham atirado quando se soube da desistência da outra única equipa feminina inscrita, o Ginásio Feminino, por doença, o que “desgostou profundamente” as benfiquistas, “que tinham justificado empenho em ganhar o 1.º lugar por mérito próprio e não por infelicidade alheia”.
Já com o troféu Outono feminino adjudicado ao Benfica, Blandina Cruz entrou em pista. Entretanto, a equipa B estava a poucos pontos de bater a equipa do Banco Espírito Santo, classificada em 2.º lugar. Como foi “registado gostosamente” no jornal do Clube, a atiradora sacrificou a sua posição na categoria feminina e passou a competir pela equipa B.
Porém, era 1 hora da madrugada. O frio intenso penalizou a atuação de Blandina Cruz. Apesar da boa marca nos primeiros dez tiros, nos últimos cinco “as mãos enregeladas deixaram de sentir a arma”.
O gesto, ainda assim, apelou à demonstração de “quanto valem os benfiquistas quando está em causa o superior interesse do Clube”. A equipa B acabou classificada em 3.º lugar. Quatro semanas depois, numa prova emotiva, a equipa principal conquistava o troféu para o Benfica.
Conheça outros momentos da história do tiro no Benfica na área 3 – Orgulho Eclético, do Museu Benfica – Cosme Damião."

Pedro S. Amorim, in O Benfica

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