"A CONQUISTA DO 1.º TROFÉU
DE TIRO FEMININO DO BENFICA
VIU-SE IMPACTADA PELA FORÇA
DAS VIROSES DE JANEIRO
Em 1945, Lisboa vestiu-se de branco,
e até no Algarve nevou. “As árvores
cobriram-se de renda, e os telhados
começaram a alvejar. Os automóveis
traziam uma camada de neve de alguns centímetros de espessura em cima.” Era a sétima
vez que nevava em Lisboa em 73 anos.
Mas a beleza da neve embranquecia um
cenário mais negro. Em todo o país, a vaga de
frio daquele janeiro de fim de guerra resultou
em água congelada nas canalizações, atrasos
mercantis, e, nas ruas, nem só os mais
pobres sucumbiam às temperaturas negativas. As doenças propagavam-se, sobretudo a
gripe, numa sociedade empobrecida e “enregelada” como era a portuguesa.
A Carris de Ferro registou 200 trabalhadores doentes. Vários serviços municipais também foram afetados, com 142 enfermos.
O desporto foi avançando, “batendo-se contra
a neve”, com provas de râguebi, hóquei em
campo, andebol, futebol, basquetebol e tiro,
mostrando o “bom espírito de sacrifício, como
só atletas sabem possuir”.
O CA Campo de Ourique organizou um torneio de tiro, chamado Outono. Para a primeira parte, em 12 de janeiro, o Benfica inscreveu
quatro atiradoras para a categoria feminina e
dez masculinos na categoria B. A equipa
principal jogaria numa segunda parte, em
fevereiro.
Logo de início, as equipas viram-se desfalcadas. Só do Benfica, foram três os atiradores
da categoria B que não puderam comparecer por doença.
As benfiquistas Ester Loureiro,
Maria José das Neves e Maria José de
Almeida já tinham atirado quando se
soube da desistência da outra única
equipa feminina inscrita, o Ginásio
Feminino, por doença, o que “desgostou
profundamente” as benfiquistas, “que
tinham justificado empenho em
ganhar o 1.º lugar por mérito próprio e
não por infelicidade alheia”.
Já com o troféu Outono feminino
adjudicado ao Benfica, Blandina Cruz
entrou em pista. Entretanto, a equipa B
estava a poucos pontos de bater a equipa do Banco Espírito Santo, classificada
em 2.º lugar. Como foi “registado gostosamente” no jornal do Clube, a atiradora sacrificou a sua posição na categoria
feminina e passou a competir pela
equipa B.
Porém, era 1 hora da madrugada.
O frio intenso penalizou a atuação de
Blandina Cruz. Apesar da boa marca
nos primeiros dez tiros, nos últimos
cinco “as mãos enregeladas deixaram
de sentir a arma”.
O gesto, ainda assim, apelou à
demonstração de “quanto valem os
benfiquistas quando está em causa o
superior interesse do Clube”. A equipa B
acabou classificada em 3.º lugar. Quatro
semanas depois, numa prova emotiva,
a equipa principal conquistava o troféu
para o Benfica.
Conheça outros momentos da história do tiro no Benfica na área 3 – Orgulho Eclético, do Museu Benfica – Cosme
Damião."
Pedro S. Amorim, in O Benfica

Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!