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domingo, 22 de junho de 2025

Os europeus estão com inveja dos sul-americanos


"Como é na Europa que estão os principais clubes de futebol da atualidade, muito provavelmente o vencedor deste primeiro Mundial no novo formato virá daí e não da América do Sul. E, no velho continente, os adeptos podem ver em ação, semana após semana, nos seus clubes ou nos clubes dos vizinhos, as maiores estrelas do jogo, europeias e sul-americanas.
A UEFA, ao contrário da Conmebol, organiza provas impecáveis, com relvados macios, recurso rápido e eficaz ao VAR em partidas disputadas em cidades, ao contrário das sul-americanas, que têm estações de metro à porta dos estádios e transportes públicos que cumprem horários à risca.
A cada ano, entretanto, os ocupantes da primeira prateleira do futebol europeu gastam a reforçar os plantéis o equivalente ao PIB de cidades de médio porte dos países latino-americanos mais carentes. E os da segunda e da terceira prateleiras, se perderem as principais estrelas para aqueles, vão, muitas vezes, compensar as perdas no Brasil, na Argentina, no Uruguai, na Colômbia, obedecendo à implacável cadeia alimentar futebolística.
Então, por que razão, como diz o título deste texto, «os europeus estão com inveja»? Na verdade, é aquele tipo de inveja que alguém que não gosta de caracóis sente ao ver o entusiasmo dos apreciadores quando as tascas anunciam a chegada da época do petisco. Da mesma forma que a euforia das crianças a abrir os presentes de Natal, por mais que seja deliciosa de acompanhar pelos pais e avós, não deixa de gerar uma certa melancolia nestes, para quem o vinho e o bacalhau, e não a maçadora atividade de desembrulhar papelada e ver o par de meias do costume, é que são as estrelas da consoada.
Os europeus, em suma, têm inveja de sentir, como os sul-americanos sentem, este Mundial como um prato de caracóis fumegantes ou um brinquedo esperado há tanto tempo.
Na Europa, o Mundial de Clubes é visto mais como um capricho da FIFA para americano ver, cujo principal resultado será cansar jogadores e atrasar férias e pré-temporadas.
Na América do Sul, pelo contrário, vive-se clima de Mundial (o verdadeiro, o de seleções) com os adeptos do Palmeiras a invadirem a Times Square, os do Boca a conquistarem Miami, os do Flamengo a encherem um estádio em Filadélfia e os que cá ficaram a assistir aos jogos fora de horas em bares repletos de hinchas e torcedores.
Nico Kovac, treinador croata do Borussia Dortmund, resumiu tudo antes de defrontar — e ser dominado — por um Fluminense que deu a vida em 90 minutos. «É bonito perceber que este torneio está a ser recebido de forma muito diferente no Brasil, na Argentina e até no México em relação à Alemanha ou ao resto da Europa», desabafou. «Gostaria que o abordássemos com o mesmo entusiasmo, com a mesma sensação…» Eis a tal inveja."

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