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quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Os convocados e CR7


"Tenho uma tese: a lista de convocados de Fernando Santos é igual à que faria a maioria dos portugueses. Cada um alteraria um nome, dois, três no máximo, mas estaríamos sempre a falar de prováveis suplentes, talvez dos que nem sequer seriam utilizados durante a prova. Ou seja, as escolhas iniciais de Santos não são propriamente controversas e não será pela opção de A em vez de B quanto ao grupo alargado que Portugal deixará de fazer um bom Mundial.
Não estão Renato Sanches, Gonçalo Guedes e Pedro Gonçalves, talvez os ausentes mais notados. Mas está Matheus Nunes, que tem a mesma vocação de Renato no transporte de bola e há muitas escolhas para a posição preferida de Pote. Quanto a Gonçalo Guedes é diferente, que na ausência de Diogo Jota, Rafa e Pedro Neto, não restam muitos jogadores explosivos para atuar nas alas. Leitura óbvia: Fernando Santos preferiu levar mais jogadores de perfil associativo e desvalorizou o contraste que Guedes representaria. Devo dizer que não discordo.
É sempre a escolha entre dois caminhos: procurar alternativa entre jogadores que deem soluções idênticas ou algo completamente diferente? Manter a coerência perante a necessidade de mexer – seja taticamente ou em função de uma lesão ou castigo - ou apostar em mais diversidade na hora de alterar? Prefiro o primeiro caminho. E acreditando num jogar de iniciativa e associação, com mais posse, que é para o que aponta o essencial da convocatória, mais depressa convocaria Podence ou Fábio Vieira do que Guedes (em vez de mais um ponta de lança), não desvalorizando em nada a qualidade do extremo do Wolverhampton.
Essencialmente pretenderia ter mais alguém, além de João Félix, capaz de ligar com qualidade o meio-campo ao ataque, numa ponte criativa entre a construção e a criação, nas entrelinhas. Claro que há Bernardo, que também serve para isso, mas também acredito que a equipa só tem a ganhar se ele puder pegar no jogo como organizador decisivo do futebol de Portugal, necessariamente no corredor central e podendo – pelo menos muitas vezes – partir mais de trás.
A minha maior dúvida quanto ao rendimento coletivo está no ataque, com relação também ao modo como será servido. Tanto Rafael Leão como Cristiano Ronaldo, os mais prováveis titulares, jogam essencialmente voltados para a baliza contrária, bem mais do que a pensar em ligação com os médios. Leão é um talento raro, tremendo em aceleração, e Ronaldo é ainda um finalizador de grande qualidade, mas juntá-los representa um desafio tático indiscutível, porque além de não serem propriamente associativos, pedem coisas diferentes ao coletivo: um reclama espaço para arrancar e outro pede jogo cruzado para definir.
Portugal terá muito a ganhar se João Félix for pelo menos o quarto mosqueteiro nas soluções ofensivas, que incluem também Bruno Fernandes. Três deles estarão em campo a maior parte do tempo. Convém não serem sempre os mesmos.
A entrevista de Ronaldo, que mostrou como joga tudo, individualmente, neste Mundial, talvez seja uma desforra dos meses infelizes em Old Trafford ou a abertura de portas de um outro clube que o devolva ao topo. O problema é que pelo meio há a seleção. E uma sensação: a de que o CR7 já não voltará a ser o que foi numa prova longa, mas que num torneio curto, com a força mental que se lhe reconhece, ainda pode triunfar.
Isso dependerá, no entanto, do modo como irá lidar com uma substituição mais prematura do que gosta ou até uma suplência. Porque se o coletivo falhar, Ronaldo já não o salvará sozinho. A seleção já não é, porque já não pode ser, ele e mais dez.
O que vai ser mesmo decisivo é o perfil dos onze escolhidos para cada jogo."

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