"De uma quinta cheia de oliveiras fez-se um estádio e para ajudar a financiar a obra até se leiloaram galinhas.
Durante os primeiros 50 anos de vida, o Benfica andou de balizas às costas. Os primeiros treinos foram em Belém, nas Terras do Desembargador, um terreno público e sem balneários. Os banhos eram feitos com recurso a baldes de água fria e as balizas improvisadas com redes que sobravam da pesca da corvina. Seguiu-se a Feiteira, em Benfica, o Campo de Sete Rios, que foi a casa dos 'encarnados' durante 4 anos; o Campo de Benfica, que pouco tempo depois foi vendido para ali se construir uma escola; o Campo das Amoreiras, modesto, mas satisfatório para a altura; o Campo do Campo do Grande, também conhecido como 'estância de madeira', que obrigava a elevadas despesas de manutenção.
Em 1946, surgiu uma luz ao fundo do túnel: por trás do portão 203 da Estrada da Luz estendia-se uma quinta com 12 hectares, cheia de oliveiras. Era ali que nasceria o tão desejado Estádio da Luz. A concretização do sonho foi uma odisseia. Sob a presidência de Joaquim Ferreira Bogalho, que ficaria conhecido como o 'Homem do Estádio', foram levadas a cabo diversas acções para angariação de fundos: um festival de canto e teatro, o Dia do Benfica no Estádio Nacional, havia também um mealheiro gigante onde qualquer pessoa poderia depositar as suas notas, sorteios, doações, até uma galinha foi oferecida para os leilões do Clube! Os sócios estavam ávidos de ter um campo e correspondiam generosamente.
Em 1952 foi feita a escritura e a 14 de Junho do ano seguinte arrancaram as obras com as enxadas simbólicas dadas pelos presidentes e outras figuras ilustres do Clube. Dias depois, mais de 30 mil pessoas as tinham visitado. A 1 de Dezembro de 1954, os adeptos do Clube entravam, por fim, na sua nova casa. A honra de abrir os portões pela primeira vez coube ao presidente. 'Abri a chorar. Entrei, sentei-me na primeira cadeira que encontrei e ali fiquei a chorar até me chamarem (...) para ir ao campo. Tive de ir amparado pelos meus colegas de Direcção porque estava atrasado'. Neste estádio havia ginásios, balneários, um posto médico, casas de banho públicas e bares. Foi longo o caminho percorrido desde os banhos de água fria e das balizas feitas de redes de pesca. 'Parece um sonho!!', disse Bogalho de voz embargada no discurso de inauguração: 'Não é sonho, é realidade'.
Pode saber mais sobre esta grande obra na área 17 - Chão Sagrado, do Museu Benfica - Cosme Damião."
Marisa Furtado, in O Benfica
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