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terça-feira, 26 de março de 2024

Kokçu e Benfica | Um arrufo ou divórcio milionário?


"Kokçu, internacional turco de 23 anos e eleito o melhor jogador da liga holandesa na temporada passada, chegou ao Benfica no último verão por uns sonantes 25 milhões de euros. Uma verba que, para a realidade portuguesa, traduz um investimento ousado e de grande compromisso para com o clube e com o futuro no mesmo.
Depois de uma época em que a camisola número 10 das águias não havia sido utilizada em honra à morte de Fernando Chalana, foi o próprio Rui Costa que concedeu a responsabilidade a Kokçu de carregar o peso da mesma camisola esta época. Face a todo o envolvimento da transferência, foram depositadas muitas esperanças no jogador e naquilo que o mesmo poderia entregar ao serviço das águias, no entanto, até esta altura da temporada, alguns rasgos de genialidade e de verdadeira qualidade não foram suficientemente consistentes para convencer a massa adepta, o treinador, a direção e o próprio jogador.
Numa época que não se transparece nem fantástica, nem horrenda, mas sim medíocre, Kokçu junta agora a todo este envolvimento desportivo à sua volta, um problema pessoal. Numa entrevista concedida pelo mesmo a um órgão de comunicação social dos Países Baixos, Kokçu revelou alguma insatisfação no Benfica e criticou alguns aspetos que o têm vindo a transtornar esta temporada, tanto a nível do que acontece dentro das quatro linhas como fora delas. Uma entrevista que apanhou de surpresa os responsáveis encarnados e que deixou o jogador fora da ficha de jogo frente ao Casa Pia pela ação que havia tomado, sem a autorização do clube.
Posto isto, há que analisar a situação em que o jogador e o clube se inserem neste momento.

A RAZÃO REPARTIDA ENTRE KOKÇU E SCHMIDT
Procurar o herói e o vilão numa história é normalmente o caminho mais recorrente para entender a mesma, no entanto, há histórias em que isso não precisa necessariamente de acontecer. Aquilo que Kokçu pensa e acaba por dizer é aquilo que já se questionou várias vezes anteriormente, e não é sem fundamento.
Desde o início da época que o jogador tem atuado num meio-campo a dois, acompanhado por João Neves, onde ambos devem exercer ações ofensivas e defensivas, visto que não está presente nenhum médio que se denomine como defensivo, à semelhança de Florentino. Kokçu é um jogador de ligação, de grande importância na criação do ataque e de situações perigosas. Em nenhum momento se caracteriza como um médio com capacidade de recuperar defensivamente, nem de apoiar a equipa nessas tarefas, as suas características não têm essa conotação. No processo de construção, o seu papel já pode recuar alguns metros, mas no que diz respeito a tudo o resto, a sua utilização naquela posição não favorece em nada as suas capacidades, nem a própria equipa, que perde um elemento importante em certos momentos.
O pensamento mais simples irá apontar para a falácia de que o dinheiro investido no jogador requer que o mesmo jogue onde for preciso, da forma que for preciso, mas a verdade é que, no momento da compra, já se conheciam as características do atleta e aquilo que o mesmo seria capaz ou não de fazer. Nem todos os jogadores têm a capacidade de se adaptar a outras funções com bastante critério, como é o caso de Aursnes. Não se pode usar o exemplo do médio norueguês para desculpar o facto de não existirem mais casos como o dele, até porque o próprio Aursnes também vai sendo prejudicado por não ser utilizado na sua posição de origem. Serve como solução e alternativa de forma constante, mas não consegue demonstrar o seu verdadeiro potencial desta forma. É apenas sacrificado jogo atrás de jogo.
Do lado oposto ao do jogador, está o treinador. Roger Schmidt utilizou esta formação tática desde que chegou ao Benfica, e, apesar de algumas tarefas e exigências dentro de campo terem mudado, a disposição dos jogadores dentro das quatro linhas é igual. É aqui que surge o erro que leva à interferência entre o treinador e todo o conjunto. Roger Schmidt tem tentado adaptar os jogadores a funções e funções a jogadores, nunca seguindo uma linha reta de pensamento e de ideias. Na temporada passada, a equipa estava moldada de forma funcional e equilibrada. Todos os elementos funcionavam de forma perfeita no terreno porque se completavam e sabiam funcionar juntos. Esta época, não se verifica o mesmo. Passa a ideia de que não existe um critério entre potencializar o modelo a ser imposto ou as características dos jogadores. O técnico alemão tenta equilibrar os dois aspetos prejudicando depois alguns elementos da equipa, sendo obviamente um deles, Kokçu.
Ainda assim, Roger Schmidt já utilizou em algumas ocasiões esta época um sistema diferente, o 4-3-3. Sistema esse que encaixa mais com as características de alguns jogadores, mas que, para o técnico alemão, não é a melhor opção. Nessas circunstâncias vimos Kokçu atuar um pouco mais adiantado no terreno, e consequentemente, ser mais influente no jogo. Mais livre, mais destemido, com mais chegada à área, com mais hipóteses de assistir os colegas. Para azar do médio, esses momentos não passaram de testes ou experiências para Roger Schmidt e a verdade é que o planeamento da equipa cabe unicamente a uma pessoa: o treinador.
Apesar disso, e com toda a insatisfação presente, o médio turco apresenta-se como o terceiro elemento com mais participações em golo de todo um plantel. Um dado que mostra, sobretudo, o potencial bruto a retirar do jogador.

O CONTEXTO DESFAVORÁVEL
Se em alturas “normais” as declarações não cairiam da melhor forma, numa altura determinante da temporada como esta, a entrevista concedida por Kokçu anula qualquer tipo de razão ou fundamento que o mesmo poderia ter. Numa primeira instância, há que olhar para a situação em que o clube figura. O Benfica encontra-se a lutar por três competições, e tem pela sua frente um calendário exigente e apertado, que requer o maior compromisso possível de toda a equipa para o alcançar dos objetivos, e nesse aspeto, Kokçu mostra algum desrespeito face à situação conjunta da equipa.
Além disso, nos últimos jogos, Florentino tinha vindo a ganhar espaço no onze titular, e, desta forma, Kokçu concede ainda mais espaço ao médio português. A ascensão de Florentino tem-se registado progressiva e Kokçu com esta ação acaba por estender ainda mais a passadeira para o protagonismo do colega.
Um facto que até pode favorecer a equipa, mas que, a nível individual, prejudica bastante o próprio jogador.
A verdadeira solução não passará certamente por uma multa ou uma suspensão, mas sim, pela compreensão que a história de Kokçu no Benfica ainda tem muito que escrever.
Dito isto, e face às posteriores declarações de justificação do jogador, espera-se um período de redenção, que, à semelhança de casos anteriores, se resolverá puramente dentro das quatro linhas."

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