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sexta-feira, 24 de julho de 2020

O Messi de Guimarães e os craques de Famalicão e Vila do Conde

"Previ aqui, numa das primeiras crónicas da época, que Marcus Edwards poderia completar a temporada como o melhor jogador da história do Vitória de Guimarães. Não vou dizer que acertei em definitivo, por respeito a tantas carreiras, e mais longas, com o emblema do rei ao peito, Cascavel, Ademir, Paneira e tantos mais, mas o miúdo inglês tem talento que pede meças a qualquer deles e potencial para chegar mais longe ainda. O Messizinho da cidade-berço foi a melhor notícia do ano no futebol português.
Mas há outras notícias boas, de talento revelado, já que, apesar de colectivos de pouco brilho – salvam-se o entusiasmante Rio Ave, o muito competente Famalicão e algumas intermitências elogiáveis de Braga e Vitória de Guimarães - houve talento a despontar, e é sempre do talento que nascem as melhores equipas. O maior mérito dos treinadores será o de criarem o contexto, táctico e a partir daí também emocional, para que os melhores futebolistas apareçam e cresçam. Em relação às equipas em que o conjunto suportou o brilho individual, desde logo Rio Ave e Famalicão, é não só justa como indispensável uma nota prévia: a escolha dos jogadores já mostrava um caminho, que o modelo de jogo depois corporizou convictamente rumo ao sucesso.
Quando a base de uma equipa tem Borevkovic e Monte, Al Musrati e Diego Lopes, Carlos Mané e Nuno Santos, Piazon ou Taremi, seguramente foi pensada para jogar, para ter mais iniciativa que expectativa, para assumir a bola e não para correr atrás dela. A identidade também pode ter uma marca mais defensiva mas as equipas que guardaremos na memória são as que ousam jogar, seja onde e contra quem for. Carlos Mané podia perfeitamente integrar o plantel de um grande e nem sempre joga, Piazon é um luxo para o futebol português, como Taremi, pois claro, e Al Musrati tem tanta qualidade que não se entende como pôde ter sido dispensado de Guimarães.
E se há um meio campo com Gustavo Assunção, Pedro Gonçalves e Racic, e mais Guga e Lameiras no serviço ao talento de Fábio Martins e à agressividade eficaz de Diogo Gonçalves e Toni Martinez, é porque alguém pensou numa ideia antes de juntar nomes. E a ideia pressupunha, também nestes caso, coragem no jogo, ousadia sempre que possível, como se viu contra as melhores equipas e por várias vezes.
Isto significa que as equipas que jogaram melhor são também as mais bem colocadas logo a seguir aos ricos e tradicionais donos dos melhores lugares. Foram as que ousaram jogar, não foi nenhuma das que pensavam medrosa e prioritariamente em fechar-se para contra-atacar meia dúzia de vezes em cada jogo. Não acredito que seja uma lição para o futuro, mas bem que deveria ser. O campeonato foi fraco, com poucas equipas a escaparem à mediocridade. O futebol português precisa de coragem para melhorar. Desde logo coragem dos treinadores, de assumirem o risco da iniciativa, escolher bem e fazer jogar os melhores. Como aconteceu com Famalicão e Rio Ave. E com o sucesso que é evidente."

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