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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Florentino, Weigl e a moda da verticalidade

"Ir a um estádio de futebol pode fazer-nos pensar que o caminho para a baliza é em linha recta. "Para a frente!", grita-se a cada passe para trás ou para o lado. Marcar golo não é assim tão fácil, o que torna o jogo bem mais complexo. Há um adversário do outro lado, obrigando-nos a tomar decisões e a pensar qual a melhor forma para o desequilibrar. Quando não existe espaço, há que criá-lo. Assim sendo, facilmente se percebe que o processo de criação obriga a alguma (ou a bastante) paciência, sobretudo nas equipas que passam mais tempo com bola. Em 2020, ainda é comum avaliar médios pela quantidade de passes verticais que fazem por jogo, definindo a partir desse número se a exibição foi positiva ou negativa. Mas há outro critério essencial nos tempos que correm. Se só marcar dois golos na temporada, mesmo que seja um médio que recebe perto dos centrais, "tem de ser mais vertical e melhorar a finalização".
Como em tudo, importa perceber as características do jogador, as funções que assume na equipa, como se complementa com os parceiros do meio campo e se tem influência na execução do modelo pensado pelo treinador. Nos melhores colectivos, o papel dos 11 jogadores tem a devida importância para o funcionamento pretendido. Organizar, gerir o ritmo ou criar condições para que outros desequilibrem (atrair um adversário para depois entrar um passe vertical, por exemplo) também são qualidades e até demonstram que um determinado jogador está mais interessado no sucesso colectivo do que no protagonismo próprio.
Florentino, supostamente, deixou de contar no Benfica porque não acrescentava ofensivamente - isto é, não fazia passes verticais sucessivos, variações de flanco ou remates de fora da área. Apesar de reconhecer que o jovem português pode evoluir no capítulo ofensivo, está longe de ser o inapto que se pintou. Neste caso, além das características individuais, importa analisar a dinâmica ofensiva das águias no início da época, mecanizada e com escassos apoios frontais dentro do bloco adversário. Para se passar para a frente é preciso haver opções, a menos que a intenção seja perder a bola. Nesta altura, Taarabt é o principal responsável por fazer a ligação com o ataque, assumindo riscos constantes na procura do passe vertical pela relva. Gabriel, sem a mesma criatividade, aposta mais no passe em profundidade e nas variações de flanco. Ambos oferecem à equipa a tal verticalidade, mas também estão mais sujeitos a passes errados ou perdas de bola.
Além de ser o melhor médio do plantel encarnado a nível defensivo (leitura, capacidade nas coberturas, timing de desarme...), Florentino possui um perfil distinto e complementar com os restantes em termos de acções com bola, o que poderia ser benéfico. No fundo, deixou de contar para o treinador porque se esperava que fosse aquilo que não é. Weigl também não vai desequilibrar com arrancadas e passes verticais a toda a hora. Mas tem outros atributos. Jogar para trás e para o lado está subvalorizado. E não devia."

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