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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Clássico de tripla

"Bruno Lage continua a fazer a sua revolução; Sérgio Conceição parece ter reencontrado a sua nova equipa

Um clássico na terceira jornada do campeonato tem o mesmo valor classificativo de um clássico na antepenúltima, mas talvez não tenha o mesmo significado. O primeiro é preparado em clima mais desanuviado pelo facto de os actores saberem que nenhum conclusão se poderá extrair além da riqueza interpretativa que o resultado do jogo suscitar. O segundo, porém, envolve outro tipo de conversa: com a linha de meta à vista, aumenta a tensão e os competidores colocam em campo a totalidade de argumentação disponível na convicção de que lhes faltará tempo para rectificarem o que correr mal.
Este Benfica - Porto convida, portanto, a um espectáculo futebolístico de qualidade. Ambos vão lugar até no limite das suas capacidades pelo triunfo, que é o principal objectivo, mas conscientes de poderem investir no risco e darem liberdade aos seus mais talentosos executantes para deslumbrarem e decidirem. Teremos treinadores rigorosos, mas, provavelmente, mais tolerantes na medida em que seja qual for o desfecho, em termos de contagem final, as dúvidas continuarão a ser imensas e as certezas quase nenhumas.
No caso de se verificar o cenário que mais afastará águia e dragão (seis pontos), recordam-nos os exemplos mais recentes que essa diferença, ou até superior, se tornou irrelevante, com o Benfica a ser o beneficiário de recuperações significativas que o conduziram a dois títulos, na primeira época de Rui Vitória e agora, também na primeira de Bruno Lage. No entanto, o contrário é igualmente verdadeiro, pois em 2018, no ano do penta pedido pela águia, à 29.ª jornada, o FC Porto tinha um ponto de atraso e foi campeão com sete à frente.
No curto período de apenas cinco jornadas, no sprint decisivo, Sérgio Conceição conquistou 15 pontos contra sete de Rui Vitória. Inimaginável, mas real. Razão adicional para os adivinhadores de resultado não desprimorarem nenhuma das três hipóteses em relação ao clássico do próximo sábado, embora o treinador benfiquista, numa das suas últimas intervenções, tenha contestado o que considera ser um pensamento errado: aceitar como normal dar de avanço aos adversários, com a desculpa de ainda haver muito tempo pela frente para recuperar.
Lage que incutir uma atitude ganhadora em permanência, porque, defendeu, todos os oponentes querem derrotar o campeão, indo assim ao encontro da linha de pensamento de Rui Costa, o qual alertara, dias antes, para mais essa dificuldade em classificou como uma responsabilidade suplementar que jogadores encarnados devem estar preparados para ultrapassar.
Esta forma mais austera de abordar a competição por parte da águia, será, porventura, o mais entusiasmante dos desafios que se deparam a Sérgio Conceição, porque, no resto, está tudo inventado. Vai permitir-lhe também testar, em ambiente de alta voltagem, uma nova equipa, que teve de reencontrado. Fiquei com essa ideia depois do sucesso expressivo e tranquilo sobre o Vitória sadino.
Preparemo-nos, pois, para um grande jogo. Favorito? É um clássico de tripla.

Um treinador anti-Benfica
A empatar ninguém bate Silas, mas como não é encartado admite-se que esteja a meio do seu processo de formação e não tenha frequentado aulas de aprendizagem para ganhar mais vezes. No último campeonato, liderou o ranking dos empates (13 no geral e oito fora) em sinal inequívoco de que o Belenenses, em obediência à argúcia de quem o treina, bem como primeira etapa competitiva não perder, o que, não sendo criticável, para quem esgrime argumentos no campeonato do meio, não lhe dá cobertura em atrevimentos próprios de quem se julga ser o que não é. depois de levar três do Aves, apanhou oito do Sporting e antes de carregar mais cinco do Braga teimou em jurar fidelidade às suas ideias.
Ainda não é treinador da Liga, mas em matéria de convencimento está muito acima. O produto futebolístico que promove, e que tantos encómios tem gerado, para mim não passa de uma versão modernizada do velho e antipático estratagema do autocarro, daquele tipo de futebol que não dá prazer ver. O que mais me surpreende, contudo, é o seu discurso agreste quer para exaltar o empate na Luz, já no consulado de Lage, caído do céu, mas para ele fruto de muita ciência, quer, neste último sábado, para explicar a derrota no Jamor, que, segundo afirmou, se ficou a dever a «duas perdas» dos belenenses. «Não foram as dinâmicas do Benfica que desequilibraram», enfatizou.
Partindo-se do princípio que Silas não tem qualquer assunto mal esclarecido com o Benfica, ou se considera uma sumidade na área do treino ou é provável que alguém lhe tenha segredado para ir por aqui. O que só vem dar razão a Rui Costa por advertir que «o Benfica é o alvo a abater».

Fernando Guerra, in A Bola

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