Últimas indefectivações

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Cuidado com o perigo amarelo!

"O Borussia de Dortmund, próximo adversário do Benfica na Liga dos Campeões, nasceu por causa de um padre maldisposto. Fartos de prepotência, um grupo de jovens do Trinity Youth, um colégio ligado à igreja local, foi fundar um clube com nome de fábrica de cerveja...

Ballspielverein Borussia 09 e.V. Dortmund de nome completo. Borussia é a palavra latina correspondente a Prússia. Sim, bem sei, faz desde logo recordar bigodes curvos e peitos carregados de medalhas. Mas do que falo hoje é do primeiro clube alemão a conquistar uma taça europeia - Taça dos Vencedores das Taças, em 1966 - o que, convenhamos, nada tem de despiciendo.
Haverá espaço, um outro dia, para recordar uma dolorosa (pelo ponto de vista encarnado, claro!) eliminatória europeia entre Benfica e Borussia Dortmund: tão dolorosa que poderia ter valido, na Luz, uma das goleadas mais históricas da Taça dos Campeões (seis bolas bateram na trave e nos postes alemães!!!), e acabou por terminar com um cabaz em Dortmund que feriu como nunca até aí os lisboetas.
Deixemos o assunto, para já. Aliás, não foi assim há tanto tempo que trouxemos a esta vossa página a noite negra do Reno do Norte - Vestefália.
O objectivo, à medida que escrevo, é falar da história do próximo adversário do Benfica nos já agendados oitavos-de-final da Liga dos Campeões.
Clube antigo, fundado em 1909, tem alcunha sonora de Schwarzgelben, nada de muito elaborado, tão simplesmente os negros-e-amarelos. Bem mais amarelo do que negros, acrescente-se.
Os cabouqueiros do Borussia de Dortmund formavam um grupo de jovens muito desagradado com a forma como um padre de nome Dewald queria controlar ferreamente os jogos disputados sob a tutela do Trinity Youth, o colégio que frequentavam e que estava ligado à igreja local. Habituados a frequentarem o pub local, que se chamava Zum Wildshutz, os irmãos Franz e Paul Braun, mais uns poucos de amigos, entre os quais Fritz Schulte, Franz Risse, Gustav Muller e Benno Elkan, dedicaram-se a uma espécie de levantamento de rancho - começando desde logo de proibir o prior de se intrometer nas suas bem regadas reuniões. Porta fechada; guerra aberta,

Um clube anti-nazi!
O nome, Borussia, foi adoptado de uma fábrica de cerveja próxima. O equipamento inicial era às riscas verticais azuis e brancas, mas em 1913 surgiu o berrante amarelo.A vida não foi fácil, de início. Futebol pobre, disputa de campeonatos regionais, tentativa baldada de melhorar à custa de algumas contratações caras para a época e que esvaziaram os cofres do clube e o condenaram à falência.
Com o advento do III Reich, o Borussia de Dortmund tornou-se um exemplo. A reestruturação do desporto na Alemanha, e a reorganização do futebol, com o aparecimento da Gauliga Westefalen, na qual se iniciou a rivalidade entre o Dortmund e o Schalke 04, obrigaram a que os dirigentes dos clubes fossem membros do Partido Nacional-Socialista. O presidente do Borussua recusou-se. Foi preso. Vários membros da direcção, também afastados, começaram a utilizar as instalações do clube para imprimirem propaganda anti-nazi. Foram tempos de coragem. Não seguidos pela maioria dos adversários. Também por isso,o Borussia ganhou um respeito internacional.
A Bundesliga surgiu em 1963. Também ficou para a história: o Dortmund foi a última equipa a conquistar o Campeonato Alemão de Futebol, como se designava anteriormente (já tinha ganho em 1956 e 1957). 1966 foi o ano de brilho intenso: vitória na final da Taça das Taças, frente ao Liverpool, após prolongamento (2-1), com golos de Siegfried Held e Reinhard Libuda. Pela primeira vez uma equipa alemã conquistava a Europa! Talvez não se imaginasse ainda que tantas viriam a igualar o feito. A década que se seguiu foi negra: regresso dos problemas financeiros e queda na II Bundesliga.
No final dos anos 80 surgiu um homem providencial: Ottmar Hitzfeld. A honra voltou. Títulos, a final da Taça UEFA (1993) perdida frente à Juventus e a memorável conquistada da Taça dos Campeões em 1997 (também frente à Juventus), com a ajuda de um antigo jogador do Benfica: Paulo Sousa. Mais finais se seguiram, como sabemos. E um momento único também marcou a história deste clube que vai regressar à Luz ao fim de mais de 50 anos: novamente à beira da bancarrota, em 2003, o Borussia de Dortmund recebeu, por parte do seu maior rival desta década, o Bayern de Munique, um empréstimo de 2 milhões de euros para poder sobreviver. Em seguida veio o ciclo de Klopp e a reconquista do topo. Onde se mantém. É um perigo amarelo que se ergue no caminho da águia..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!