"Armando Murta juntou as suas duas paixões, e o seu nome ficou para sempre associado a ambas
A procura e o desejo pela eternidade existem desde sempre, havendo várias formas de os expressar. Há quem diga que nos mantemos eternos, mesmo após a nossa morte, desde que exista alguém que ainda se recorde de nós. Homero, na Ilíada, contava outra perspectiva. O Rei Peleu, na cerimónia de apresentação do seu filho, Aquiles, para acompanhar Agamémnon e Menelau na missão de resgatar Helena das mãos dos troianos, aconselhou-o a atingir façanhas inauditas por forma a que o seu nome se tornasse eterno.
Quando somos jovens, achamos que todas as proezas estão ao nosso alcance. Em 1 de Fevereiro de 1928, Armando Murta conseguiu um dos seus principais objetivos, ser admitido como sócio do Benfica. No Clube conheceu Jaime Santos, com quem partilhava duas paixões: o Benfica e o tiro desportivo, o que fez com que se tornassem amigos inesperáveis. Em 1934, como membros da Comissão Administrativa da Sede, situada na Avenida Gomes Pereira, enquanto vasculhavam uma arrecadação à procura de objetos para a preparação de uma festa, encontraram duas espingardas antigas. Armando Murta teve de imediato uma ideia que iria resultar na junção de duas das suas paixões!
'Lembro imediatamente a Jaime Santos que aquelas velhas armas poderiam ser o começo de mais uma secção do Benfica. De facto, daí em diante, não havia noite em que não houvesse animado tiroteio nas dependências da sede'. O entusiasmo dos sócios foi suficiente para que a Direção encarnada criasse a secção de tiro. 'Um mês depois, ainda com armas quase pré-históricas', inscreveu uma equipa numa prova organizada pelo Grupo Columbófilo da Amadora'. Armando Murta extasiado.
Contudo, o destino prega partidas quando menos se espera. Em Agosto desse ano de 1934, quando seguia na sua motocicleta para ir ao encontro dos ciclistas do Benfica que participavam na prova Porto-Lisboa, sofreu um acidente de viação. 'O seu desaparecimento mergulhou na maior consternação os habituais frequentadores da Sede, todos seus dedicados amigos'. No seu seguinte, a secção de tiro prestou-lhe uma digna homenagem ao instituir um troféu com o seu nome a Taça Armando Murta.
Disputada entre Abril e Maio, Jaime Santos esteve muito próximo de a ganhar, vendo a vitória escapar-lhe por apenas um ponto. Alguns anos depois, o atirador continuava inconformado, confidenciando: 'O maior desgosto da minha vida desportiva foi não ter vencido a primeira edição da prova'. Ainda assim, não precisou de a vencer para eternizar o nome Armando Murta, que se manteve vivo na sua memória e na história da modalidade. A façanha estava já alcançadas!
Saiba mais sobre o tiro no Clube na área 3 - Orgulho Eclético, do Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica
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