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quarta-feira, 6 de abril de 2022

Há Díaz assim


"Díaz que nos provam a diferença entre sonho e realidade. Não que o colombiano do Liverpool tenha estado especialmente endiabrado nesta terça-feira, no Estádio da Luz, mas sendo dele a jogada que carimba esse fosso entre sonho e realidade, ou entre a (enorme) distância que há entre os nossos grandes e os grandes da Europa, puxar o sobrenome de Luchito ao título perceber-se-á. Não que o 23 do Liverpool estivesse estado em baixa (sabe jogar mal?) e não que tenha sido o pica-miolos que os adeptos do Benfica bem se lembram, mas quando, a poucos minutos do término, o Benfica conseguia um resultado que lhe permitia continuar a sonhar, o banho de realidade vindo de mais uma transição ofensiva do Liverpool encheu a Luz com um gigante balde de água bem gelada. Mas para aí chegarmos – a esta diferença abissal, mas que acaba por ser compreensível – falaremos de um Benfica que não foi desastroso e que até, em momentos, conseguiu lidar com competitividade ao dilema que enfrentar este Liverpool encerra.
Sim, não é por acaso que o Liverpool é considerado a melhor equipa do Mundo. Sendo-o ou não o sendo (escolha o leitor a posição neste assunto que bem entender) ter o Liverpool pela frente é ter vários dilemas. Sendo especialmente letais na transição ofensiva e na pressão à saída, ter a bola, por exemplo, causa problemas. Especialmente quando conseguem adiantar-se no marcador – algo que aconteceu na Luz bem cedo (17′). E assim sendo, os esforços do Benfica para fechar os espaços fazendo uso dos seus 442/451/541 (conforme a zona da bola) tiveram um revés que, por exemplo, não se viu em Amsterdão. E até lá – até esse fatídico golo de Konaté – as águias foram competentes a fechar esses espaços e a enguiçar a organização ofensiva do Liverpool. O problema é que mesmo fazendo essa análise, a da competitividade encarnada nesse momento defensivo do jogo, o Liverpool tem recursos que são um verdadeiro contra-argumento à qualidade das equipas adversárias. Assim, em termos de resultado, o 0-0 validava a estratégia de Veríssimo. Em termos de (algumas) chegadas à cara de Vlachodimos (por Salah), numa transição(8′), onde os reds são verdadeiramente aguçados, mas também em organização (9′), a ideia de Veríssimo e do Benfica ia só sobrevivendo.


O Liverpool encontrou nos primeiros minutos uma sólida muralha do Benfica. Ainda assim, a capacidade dos reds é por demais evidente. Em transição e em organização conseguiu, antes do golo de Konaté, colocar Salah na cara de Vlachodimos por duas vezes.

Mas entretanto haveria (ténues) sinais de esperança. O Benfica não seria só, afinal, defender. Apesar de não arriscar em saídas curtas, o pragmatismo com que foram encarados os primeiros minutos, trouxe também uma ou outra saída, e alguns erros forçados ao Liverpool. Isto até chegar, via pontapé-de-canto, um golo onde o Liverpool viu a solução para algum desconforto em encontrar caminhos. Everton não foi páreo para Konaté, e Vertonghen falhou tempo e espaço na abordagem que salvaria o Benfica. Estava feita a diferença, assim como estava dada a lembrança de que o Benfica, por mais competitivo que fosse, estava sempre à mercê do que o Liverpool pudesse fazer, e da eficácia nessas ações. Curiosamente, foi o central que estava a ter mais problemas, em duelos extremamente interessantes com Darwin, que ofereceu a vantagem aos de Klopp, assim como a tal lembrança habitual nestes confrontos de que erros, a este nível, pagam-se muito caro.


Depois do golo de Konaté, o Benfica expô-se mais. A organização defensiva ficou mais espaçada, como natural. E uma das dificuldades que teve foram as chegadas de Keita à área. Não resultaram em golo mas foram sempre um atributo importante na organização dos reds.

E com o golo veio o dilema. Agora só sentar atrás não servia. E se este era um jogo para o Benfica conseguir um bom resultado em casa algo mais teria que ser tentado. Mas entre o sim e o não (lá está a dúvida que este Liverpool consegue colocar nos adversários) uma saída longa para Everton, alguns momentos em organização ofensiva, uns fogachos de Rafa e algumas lutas entre Darwin e Konaté não chegavam. É que a realidade deste jogo, por mais fastidiosa que possa ser, é aquela que lembraremos do princípio ao fim. O Benfica estava dependente do que o Liverpool pudesse fazer e da eficácia dessas mesmas ações. E não foi com Díaz (aos 24′), acabou por ser com Mané (ele que estava com notórias dificuldades para se impor como referência para os colegas), aos 34′. Noutra transição letal (claro está) a capacidade de Trent Alexander-Arnold veio ao de cima, assim como a naturalidade com que Díaz ganha espaços e bolas que lhe são lançadas. Mané fez o resto e nem o canto perigoso conseguido pelo Benfica uns minutos antes dava agora esperança. Sim, a realidade deste jogo pode ser vista como cruel. Mas o Benfica haveria de dar (alguma) resposta.


Outra vez Keita a ser fundamental em zonas sombra, com Díaz a aparecer pela primeira vez na cara de Vlachodimos. Atributos do Liverpool em organização e, claro está, em transição – como na que deu o sengundo golo aos reds: passe absolutamente extraordinário de Trent, com Díaz e Mané a ganharem o espaço. É tremendamente difícil defrontar o Liverpool porque, ao contrário do Ajax por exemplo, são uma equipa de cinco tempos e não de de dois somente.

Absolutamente assombrosa a verticalidade do Liverpool na transição ofensiva. Novamente a conexão Díaz-Keita, com timings e intenção coordenadas de forma excelente (ainda que a linha defensiva do Benfica possa melhorar imenso a controlar a profundidade). Intenções que o Liverpool eleva para excelência na transição ofensiva mas que estão também presentes em organização. O facto de ser uma equipa com soluções para forçar aberturas como nenhuma outra neste momento torna-os extremamente difíceis de bater

É que as lições de que erros a este nível se pagam caro não estão cá só para os grandes portugueses. Entre a boa disposição que se via, ao intervalo, nos estúdios da BT Sport, entre o sorriso de Salah no começo da 2.ª parte, havia o ambiente de que as favas já estavam contadas. Mas em mais uma proximidade de Darwin a Konaté, o francês cedeu – oferecendo um golo que o Benfica necessitava para continuar o sonho. E vindo de uma transição (bola de Díaz sobra para Rafa, com espaço) a coisa até parecia castigo dos deuses para Klopp. O problema é que há certas coisas que são fogachos e a espaços, e há coisas que são regulares e sólidas. E o Liverpool, mesmo vendo o Benfica a tentar agigantar-se e a chegar mais vezes à área (com Darwin sempre em destaque) não via por parte do seu adversário aquela certeza necessária para se empatar e virar um jogo destes. Muita vontade, muita entrega. Também bastante coragem para enfrentar o dilema de ter bola contra este Liverpool, mas muita pouca clarividência. Isso e um Liverpool que conseguiu acalmar o jogo com bastante tempo e espaço para trocar a bola pela sua linha defensiva – provando outro dilema para os seus adversários: o de se destaparem para tentarem opor-se a esse controle que Van Dijk, Konaté, Robertson e Trent conseguem quando estão em vantagem no marcador. E numa altura em que o 1-2 não servia mas mantinha o sonho vivo, a estocada de Díaz (88′) desenha outro plano de viagem para Liverpool. Uma onde o sonho perde força e a realidade da desvantagem condiciona em demasia.


Um Benfica altamente impedioso a condicionar o pivot Sadio Mané foi uma das coisas boas ao longo do jogo por parte dos encarnados – que aproveitaram esses momentos para transitar rápido ou organizar. É um dos atributos do Liverpool, a procura vertical, directa, no seu 9 – algo que o Benfica conseguiu reverter várias vezes a seu favor. Como dito, o Benfica não foi desastroso e não foi incompetente. Errou, lutou contra o dilema, mas não teve clarividência nem a qualidade que o Liverpool dispõe para encontrar soluções. Liverpool é sólido e regular, Benfica tem coração e fogachos.


Um resumo dos melhores momentos do Benfica revela o forcing das águias pelo empate, numa demonstração de coragem em partir o jogo – sabendo que o Liverpool teria armas para aproveitar esse maior arrojo encarnado. O 2-2 acabaria por não aparecer (também por falta de clarividência e qualidade comparando com o Liverpool, como já dito) mas apareceu o 1-3 (também por maior clarividência e qualidade comparando com o Benfica).

Benfica-Liverpool, 1-3 (Darwin 49′; Konaté 17′, Mané 34′ e Díaz 88′)"


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