Últimas indefectivações

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Democracia em jogo


"Uma final histórica, em que não houve vencedores nem derrotados, pois encerrava em si o movimento estudantil

A Taça de Portugal de 1968/69 evoca mais memórias do que o que se passou dentro das quatro linhas de jogo, sendo indissociável da crise académica que se vivia na altura. É um exemplo do poder agregador e democrático do desporto e de como o património desportivo pode reflectir a sociedade, contextualizada num determinado período histórico.
A crise académica de 1969 começou quando não foi permitido ao presidente da Associação de Coimbra o uso da palavra, durante a inauguração do Departamento de Matemática, em 17 de Abril desse ano, numa época em que a contestação estudantil estava em alta. A Assembleia Magna decretou luto académico, e o 'futebol aderiu de imediato. Os jogadores decidiram que sim, e assim foi', testemunhou Mário Campos, antigo jogador da Académica de Coimbra. Com uma equipa fortíssima, o 'braço armado dessa academia', como expressou Toni, os 'estudantes' apuraram-se para a fase final da Taça de Portugal. A 'festa do povo' era uma grande oportunidade para darem visibilidade ao movimento estudantil na capital portuguesa.
Na meia-final, frente ao Sporting, no Estádio de Alvalade, utilizaram um equipamento branco e braçadeiras pretas, o que criou um grande impacto. Cientes da importância de chegarem à final, os jogadores superam o seu adversário e apuraram-se para o jogo decisivo, que teria lugar em 22 de Junho, frente ao Benfica, no Estádio Nacional. Como recordou Mário Campos: 'Nós entrámos lentamente (...) Essa final foi a primeira em que se entrou lado a lado. Não fizemos minuto de silêncio, mas levámos a capa em sinal de luto, o que deu um efeito excepecional e foi bonito'. A emoldurar, nas bancadas eram visíveis os cartazes de contestação de imensa comunidade académica, e, inclusive, 'os próprios adeptos do Benfica se aperceberam daquilo que estava a acontecer e deixaram-se levar também nesse movimento', testemunhou Toni. O Benfica venceu o encontro por 2-1, o que não significou a derrota da Académica, pois, mesmo sem a presença do chefe de Estado e sem transmissão televisiva, a voz dos estudantes fez-se ouvir através do futebol, retumbando na sociedade portuguesa.
Saiba mais sobre as diferentes dimensões desta prova na reflexão 'A Taça de Portugal 1968/69: um passado complexo que abre portas para o futuro', realizada no âmbito do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios 2021, disponível no site oficial do Museu Benfica - Cosme Damião."

Lídia Jorge, in O Benfica

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!