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sexta-feira, 15 de junho de 2018

Mundial, uma catarse coletiva

"E eis-nos, mais uma vez, reunidos à volta da bola. É esta capacidade de se constituir como cola do Mundo, como encontro de nações, aquilo que mais retenho de um Mundial de futebol. Pouco me interessam as notícias que correm em paralelo a este Campeonato sobre treinadores ou um ou outro jogador e também não tenho muitos conhecimentos para seguir as análises que se fazem às movimentações dentro das quatro linhas. A partir de hoje, dia em que Portugal entra em campo, aqui estou eu a torcer pela selecção de todos nós. Lá longe, na Rússia, abre-se um espaço que é também cimento da nossa vida comum e isso sentimos como algo muito próximo (do nosso coração).
É um facto que esta edição do Mundial assume um significado político particular por se realizar na Rússia. Questionado, há algumas semanas, sobre quem seriam os vencedores, Vladimir Putin respondeu: "Os organizadores". Claro que o regime russo aproveita este evento para se projectar a nível mundial numa altura em que o país está sob sanções internacionais e com relações tensas com o Ocidente. O Reino Unido, por exemplo, não esquece o envenenamento, em território britânico, do antigo espião russo Serguei Skripal e da sua filha, Iulia, e os média do país têm optado por ângulos noticiosos algo críticos. A revista conservadora "The Spectator" tem atacado bastante a Rússia, sob o pretexto do futebol. Já escreveu que houve pressões para a seleção inglesa desistir de participar, sublinhou que os seus adeptos estarão muito vulneráveis devido ao facto de Moscovo ter expulsado do país a Embaixada britânica e arriscou mesmo falar de ameaças terroristas a que a Rússia estaria vulnerável... O tumultuoso ministro dos Negócios Estrangeiros Boris Johnson comparou mesmo este campeonato às Olimpíadas de 1936 usadas por Hitler para reforçar a sua imagem de força perante os rivais. E se a Rússia não poupou no esforço para se mostrar forte ao Mundo, os média ingleses exibem um país a desmoronar-se sob uma economia estagnada. Opções editoriais.
No entanto, passada a agitação da abertura do Mundial, hoje as atenções dos média centram-se no atractivo jogo entre Portugal e Espanha. Poder-se-ia aqui especular sobre a estabilidade com que a selecção espanhola se apresentará, ao início da noite, em Sochi, mas eu prefiro falar da selecção portuguesa. Àqueles que me atiram com a desterritorialização do ídolo Cristiano Ronaldo, eu contraponho com a pertença do jogador a uma identidade lusa. Imutável. Mas devo também assumir que não me escudarei atrás do CR7 para acreditar na nossa vitória. O jogo faz-se com uma equipa e é por ela que estarei a puxar. Eu juntamente com uma tribo feita de milhões de adeptos que se espalharão por aquilo a que o presidente da República gosta de designar como "território espiritual" que nos abraça a todos como uma nação. É essa a magia de um Campeonato do Mundo: ser elo de união de todos, estetizar um quotidiano nem sempre bem estruturado, juntar-nos numa espécie de razão sensível que suspende lógicas elementares...
Ninguém saberá o que resultará deste jogo. É um desafio difícil. É bom que assim seja. Entraremos em campo com determinação. Na bancada que se estende por vários países do Mundo estarão muitos adeptos portugueses. A torcer. Se o encontro correr menos bem, cá estaremos novamente motivados no jogo com Marrocos e, depois, no embate com o Irão. Sempre a acreditar. É verdade que o Mundial é um campeonato multicultural que se disputa nos relvados do país de acolhimento e rola pelas respectivas nações que, nem sempre, coincidem com os territórios nacionais. Dentro de portas, teremos adeptos de muitas selecções assim como há adeptos lusos noutros países. Mas é exactamente esta diversidade que transforma este evento num dos maiores e mais atractivos à escala global."

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