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quinta-feira, 28 de julho de 2022

O erro que Ronaldo (ainda) pode evitar


"A ausência de pretendentes de primeiro nível pode ter evitado a Cristiano Ronaldo o segundo erro crasso na gestão da carreira, depois do absurdo irremediável que foi a saída prematura e impensada do Real Madrid. Se lá tem ficado, teria provavelmente uma Liga dos Campeões adicional no palmarés – eventualmente mais, com os golos decisivos que ainda é capaz de garantir – e encerraria a carreira, no mínimo, com um estatuto merengue ao nível de Di Stéfano. E até arrisco que com mais uma ou duas Bolas de Ouro, como a que Benzema levantará em breve, o que lhe permitiria colocar-se ao nível de Messi, algo que, como todos sabemos, mobiliza particularmente o astro português. Ronaldo escolheu, então, um clube que não levanta um troféu da Champions desde 1996 (há 26 anos, apesar das várias finais perdidas, entretanto), deixando um que, desde esse mesmo ano, venceu a Liga dos Campeões por 7 vezes!
Mesmo os melhores jogadores, aqueles que ganham jogos sozinhos, parecem esquecer que o jogo é coletivo e que ninguém vence uma prova, sobretudo a nível de topo europeu, sem uma equipa de qualidade indiscutível e forte em todos os setores. Veja-se o PSG, que juntou Neymar e Mbappé, e depois Messi, tudo no ataque, mas corre ainda atrás do título continental. No Real, Cristiano era acompanhado de Ramos, Marcelo, Modric, Kroos, Bale e Benzema, para citar apenas a nata. Na Juventus havia muito pouco desse nível e também no futebol é impossível ser feliz sozinho. Menos ainda quando a idade avança. No caso de Ronaldo, está na hora de reconhecer que o fim está mais próximo e não autoriza novos passos em falso.
O argumento de ausência da Liga dos Campeões é compreensível, mas este é o ano em que a prova pode ter menos peso na consagração de um futebolista. Desde logo porque há Mundial e, pela primeira vez, um Mundial de Inverno, a interromper a época. Chegar ao Qatar no melhor nível, sem o desgaste de um final de época que penaliza necessariamente e em particular os futebolistas mais velhos, pode significar o teste de algodão de toda uma época. Não jogar a Liga dos Campeões, preparar-se apenas para um jogo por semana numa prova com a visibilidade da Premier, podendo apresentar-se em forma em todos eles, é bem capaz de ser uma bênção, num ano assim e para quem já vai nos 37 anos e meio.
Acresce que, depois de uma época desastrosa do Man United, primeiro com Solskjaer, que já se sabia não funcionar, e depois com Rangnick, que não se via como funcionasse, Old Trafford volta a ter um treinador a sério. Erik Ten Hag mostrou toda a competência no Ajax, vai acrescentar coerência ao jogo do United e está não só a limpar a casa, como a contratar cirurgicamente e bem: Lisandro Martínez, Malacia, Eriksen. Se for possível chegar a Antony, arrisco prever que vá até conseguir dar luta a Man City e Liverpool. Cristiano só poderá beneficiar de fazer parte deste novo filme numa casa que também o idolatra e de onde deveria fazer tudo por sair pela porta grande. Ficar em Manchester é bem mais avisado do que em meter-se em aventuras num Chelsea instável, num Bayern onde a herança de Lewandowski seria muito pesada e principalmente num Atlético de Madrid que não faz sentido para ele por razão nenhuma, nem histórica, nem tática, nem física. Que o consiga aconselhar a isso quem não foi capaz de o convencer a evitar o erro de ter faltado aos treinos nas últimas semanas. Erro apesar de tudo menos grave e mais fácil de emendar do que seria um novo passo em falso nesta fase da carreira."

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