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terça-feira, 10 de abril de 2018

Heynckes, Brasil, Sporting e o CR7

"Voltar a ver o sucesso de Heynckes obriga a curvarmo-nos perante uma lenda, um enorme jogador que se tornou extraordinário treinador. Nem sempre teve sucesso, várias vezes se lhe discutiu o mérito enquanto técnico mas ganhou muito mais do que perdeu (duas Ligas dos Campeões incluídas) e a forma como encerra a carreira vai eternizá-lo. Voltou da reforma, aos 72 anos, para dar ao Bayern o hexa que com ele começou e ainda tem mais uma Champions para disputar até ao fim. Após a vitória que sancionou esse sexto título seguido, em Augsburgo, chamou para serem particularmente ovacionados Ribery e Robben, dois nomes que durante décadas serão pronunciados a par, símbolos para sempre deste regresso do Bayern aos melhores anos, ambos em fim de contrato. Não individualizar é uma boa regra para ser quebrada quando as carreiras o justificam, como as Ribéry e Robben. E de Juup Heynckes, pois claro.
Mergulhar no futebol brasileiro é regressar ao passado. O que mais se vê são equipas longas no campo, distância enorme entre sectores, marcações individuais a todo o terreno, num jogo partido sempre à espera que alguém com maior talento resolva o que o colectivo ignora. E eternizam-se as picardias entre jogadores e a pressão permanente sobre os árbitros, nos piores hábitos que os latinos exportaram para o futebol da América do Sul. Vale o talento individual, mesmo quando deficientemente enquadrado – Vinícius Júnior ainda tem de amadurecer para poder jogar num grande da Europa e Paulinho, miúdo do Vasco da Gama, é mesmo craque-, e sobretudo algumas honrosas e assinaláveis evoluções tácticas, como a que promovem Fábio Carile no Corinthians e Roger Machado no Palmeiras. Creio que só mesmo os técnicos brasileiros, querendo evoluir, podem mudar o futebol no Brasil. Ah, e as torcidas, as claques imensas mantêm o encanto quando nos limites da urbanidade e são tantas vezes mais espectaculares que o próprio jogo.
Regressar ao futebol português é voltar a um espaço onde a respiração se tornou difícil. Os dirigentes trocam acusações e insultos, comentadores perdem horas em volta de cenas tristes, os árbitros, muito pressionados, acumulam erros mesmo com a ajuda do VAR e nenhum fórum de discussão parece capaz de produzir algum efeito concreto. O que aconteceu esta semana no Sporting não tem paralelo e não se percebe bem como irá terminar. Certo é que não terminará bem. Jorge Jesus manteve um equilíbrio absolutamente elogiável no auge da convulsão, mesmo mantendo-se próximos dos jogadores, como lhe compete. Aliás, os treinadores, quase todos, têm tido sucessivas manifestações de bom senso – apesar das queixas pontuais, que são normais, têm sido claramente os mais responsáveis entre os que têm funções de liderança. E até os futebolistas se manifestaram do modo certo, através dos capitães dos vários clubes, contra este clima bafiento que os desvaloriza e coloca também na lista de suspeitos.
Ironicamente, é o mesmo futebol campeão de Europa de selecções, com Mundial à vista, e que produziu fenómenos como Mourinho e Ronaldo. Esta voltou a ser a semana deles. José Mourinho, apesar de estar longe dos principais objectivos da época – sem hipóteses quanto ao título inglês e prematuramente eliminado da Liga dos Campeões – foi de novo capaz de levantar do chão uma equipa no intervalo de um jogo, com tudo em desfavor e dois golos de desvantagem, invertendo o rumo de festa anunciada do futuro campeão Manchester City. A propósito, Guardiola teve uma semana negra que lhe pode marcar uma época que estava a ser de sonho, muito em função da opção estratégica desastrosa que levou para Liverpool, alterando o sistema que lhe tem dado tanto. Até os melhores falham e desta vez coube a Pep o disparate da invenção. Voltando a Mourinho, tem razão quando afirma que é melhor treinador do que hoje parece mas estou convencido que se retomasse alguns princípios tácticos que o fizeram grande no passado, aliados a esta capacidade de motivar que indiscutivelmente mantém, rapidamente voltaria a disputar qualquer trono. Já Cristiano Ronaldo não quer largar o trono, chegados os 33 anos. Messi dá luta – se dá! – com uma época fantástica mas as golos recentes do português encimados pela obra de arte de Turim, ícone para sempre na carreira do português genial, colocam de novo como possível o que ainda há um par de meses parecia inalcançável: a sexta Bola de Ouro. O Mundial pode bem ser o palco decisivo de um duelo para a eternidade."

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