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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Ironia das ironias

"Seria fácil associar a derrota do Sporting no Estoril à pseudocrise aberta por Bruno de Carvalho quando, no momento em que o futebol profissional vive o melhor momento dos seus mandatos, ameaçou demitir-se como forma de pressionar a AG a aceder aos caprichos de quem vê como hipocrisia o simples facto de ser sócio de um clube e não apoiar todas as ideias do seu presidente. Não, não foi por isso que o Sporting perdeu ontem, foi só porque não conseguiu ser melhor do que o adversário. Mas não deixa de ser tremenda ironia a equipa sofrer a primeira derrota a nível interno um dia depois de Bruno de Carvalho ter criado um pequeno (e desnecessário) foco de instabilidade, colocando-se ainda mais a jeito dos que o criticam - e até de alguns que o apoiam.
Bem vistas as coisas, o que se passou no sábado foi só o presidente do Sporting a ser o que sempre foi. A tentação do poder absoluto não é exclusiva de Bruno de Carvalho. Tentar calar os críticos é prática antiga, no futebol e não só. Há os que o fazem sem levantar ondas, chamando para as suas fileiras os que lhes fazem frente, e há os que fazem do confronto a táctica para todas as batalhas. Bruno de Carvalho optou pelo modo mais violento, aproveitando o bom momento do futebol para infligir maiores danos aos adversários. Fê-lo por saber que, depois de tantos anos do deserto, até o quase serve de oásis para matar a sede. E é por isso (apesar da derrota de ontem) que ganhará esta batalha. Porque o Sporting está onde já outros estiveram: no ponto em que alguém (ou alguém por ele...) se atreve a apelidar-se de salvador, como se o clube não tivesse existido (e ganho) antes dele ou não possa existir depois dele. Nunca é assim, sabemo-lo bem, mas chega para convencer a maioria. E a maioria chega, por agora. Até que se começa a ganhar menos vezes e aparece outro com o mesmo discurso. É clássico. E cíclico."

Ricardo Quaresma, in A Bola

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