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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Um dia na vida de três presidentes e outras histórias

"Numa tabela científica, um fiscal de linha que valida um golo irregular capaz de dar um título ou fica em primeiro ligar ou fica em úlitmo lugar. Em quarto lugar é que não fica munca.

NUM dia os jornais disseram que André Villas Boas tinha tudo tratado para ser o próximo treinador do Tottenham. Faria todo o sentido. Villas Boas, que tem ascendetes britânicos, nem sequer teria de mudar de cidade. E que maior privilégio há do que poder educar os filhos de pequeninos em bons colégios londrinos?
No dia seguinte os jornais disseram outra coisa: que um grupo de jogadores do Tottenham - as vedetas, precisamente - solicitaram de urgência uma reunião com o presidente do clube, chama-se Daniel Levy, para o convencerem a não contratar o treinador português.
É incompreensível. Villas Boas não foi, de facto, feliz no Chelsea mas foi felicíssimo no Porto onde no seu ano de estreia ganhou quatro competições, três nacionais e uma internacional, a tal Liga Europa que é uma espécie de copa ibérica da UEFA pois que só tem no seu curto galarim emblemas portugueses e espanhóis, melhor dito, periféricos.
Foi óbvio desde os princípios de Villas Boas em Stamford Bridge que os louros conquistados em Portugal não lhe asseguravam o indispensável estatuto de autoridade no balneário do Chelsea nem, muito menos, garantiam o respeito devido pela imprensa inglesa a um treinador incrivelmente jovem que chegou ao futebol inglês obrigado a ser o Mourinho II.
O Daily Mail voltou agora à carga. Foi o tabloide de Londres que noticiou a revolta ds jogadores mais influentes do Tottenham contra a eventual contratação de André Villas Boas para o cargo de treinador. Os «principais futebolistas» dos spurs terão ficado «muito desagradados» com semelhante hipótese porque está ainda fresca a tentativa de «limpeza do balneário» do Chelsea protagonizada, sem sucesso, pelo treinador português.
Posto assim parece que em Inglaterra, a pátria do futebol, não se deu crédito ao ano fabuloso vivido por André Villas Boas no FC Porto: um campeonato, uma Taça de Portugal, uma Supertaça.
A culpa não é de André Villas Boas. E de Sir Alex Ferguson.
O treinador do Manchester United, em 2004, na véspera de jogar com o FC Porto para a Liga dos Campeões, afirmou em conferência de imprensa do alto da sua posição nobiliárquica e com a maior das naturalidades que o FC Porto «em Portugal, compra os títulos no 'Tesco' pois ganha o título português todos os anos». O Tesco, para quem não saiba, e a maior cadeia de supermercados em Inglaterra, com mais de duas mil lojas espalhadas pelo país.
Sir Alex falou em inglês com o seu cerrado e orgulhoso sotaque escocês. Se Ferguson tivesse expressado a sua curiosa analogia em português, fosse qual fosse o sotaque empregue, teria dito qualquer coisa como «compra títulos no 'Pingo Doce'» ou «compra os títulos no 'Minipreço'».
Foi esta desconsideração pelo futebol português a retalho, vinda de quem veio, que tramou Villas Boas em Inglaterra. Ou que, pelos menos, não o ajudou nada a chegar a Londres com um estatuto inquestionável. Campeão do Tesco, enfim, o que é isso para os snobes ingleses?
E nós, em que é que ficamos? Onde é que «continuando a usar a imagem do Sir Alex? Pingo Doce ou Minipreço?
Minipreço. Cá para mim é no Minipreço.

PEDRO PROENÇA foi o melhor árbitro da temporada 2011/2012. Olegário Benquerença, que andou algum tempo a apitar no estrangeiro, foi o segundo classificado da tabela divulgada anteontem pelo Conselho de arbitragem da FPF.
Ainda está na memória de todos a sua enorme actuação no Rio Ave - Benfica da antepenúltima jornada do campeonato do Tesco. Em terceiro lugar surge  Jorge Sousa. Hugo Miguel, uma estrela em ascensão, em grande também no Académica - Benfica, fez uma época tão boa que até vai já receber as insígnias de árbitro internacional.
Também há ranking para os fiscais-de-linha. Ricardo Santos deve estar triste porque só ficou em 4-º lugar. Merecia mais, diz o pessoal do Pingo Doce. Merecia menos, muito menos, clama o pessoal do Minipreço, sempre muito indignado. E, lá no fundo, todos têm razão.
Numa tabela verdadeiramente científica, um fiscal-de-linha que valida um golo irregular capaz de dar um título ou fica em primeiro lugar ou fica em último lugar. Em quarto é que não.
São coisas destas que não ajudam em nada a moralidade do sector.
A tabela dos fiscais-de-linha tem, no entanto, mais motivos de curiosidade. José Cardinal, que tão injustamente vê o seu nome emprestado a um caso que não é seu, terminou a temporada na 48.ª posição do ranking do Conselho de Arbitragem da FPF.
48.ª lugar!
Para todos os que, impiedosamente, acusaram durante semanas Paulo Pereira Cristóvão de ser o maior avarento da história do futebol português esta notícia-bomba veio provar que eram de todo exagerados os dois mil eurinhos mandados depositar, à má fila, na conta bancária de um mero fiscal-de-linha de fim de tabela.
Para um 48.º lugar, meus amigos, dois mil euros chegam e sobram. E assim se ajuda o clube. Dois mil euros sempre são 400 contos na moeda antiga. Uma centena abaixo dos quinhentinhos. Sempre queremos ver onde é que isto vai parar.

NO seu jogo de estreia no Euro-2012, o árbitro português Pedro Proença atirou com um jogador irlandês, Keith Andrews, ao chão e os espanhóis aproveitaram para se lançarem numa transição rápida que por pouco não deu em golo.
Foi u momento divertido do melhor árbitro português, do novo António Garrido.
Imaginemo-lo a fazer precisamente a mesma coisa num relvado português, num Benfica - FC Porto ou vice-versa... a atirar com o Moutinho ao chão e a libertar o Aimar para o contragolpe ou vice-versa.
Também havia de ser divertido. Que impere o bom senso.

FAZ hoje precisamente uma semana que, no mesmo dia, quinta-feira, ocorreram três factos que nada tendo em comum acabaram por nos dar a todos uma grande lição de História e uma grande lição de Moral.
No mesmo dia em que o presidente do FC Porto cumpriu de manhã a sua visita anual de cumprimentos à Assembleia da República, o presidente do Sporting passou a tarde a aguardar as consequências do depoimento de Pereira Cristóvão na Polícia Judiciária e o presidente do Benfica terminou a noite a ter de suportar a revolta de alguns associados do clube reunidos em assembleia geral.
Quem é que está bem na vida, quem é?

TAL como aquelas velhas e citadas declarações de Sir Alex Ferguson tramaram André Villas Boas também, por vezes, se pode dar o efeito contrário no que diz respeito a declarações de treinadores.
E exemplo mais actual não há do que o de Paulo Bento e do quanto terá beneficiado, em termos de coesão do grupo que lidera, com as declarações de Carlos Queiroz que antecederam a partida da Selecção Nacional para o Europeu.
De acordo com os relatos dos enciados-especiais ao acontecimento, os jogadores portugueses até podem não estar todos unidos com Paulo Bento mas estão todos unidos contra Queiroz. E isso, aparentemente, já é meio caminho andado.
A coesão é tanta que até decretam blackouts, transportando para uma grande competição internacional - e sem que ninguém os contrarie - as tacanhices do futebol de trazer por casa.
No que diz respeito a jogar à bola, a nossa Selecção tem vindo a melhorar, não haja dúvida. Qualificou-se com muito mérito para os quartos-de-final, proeza em que poucos apostariam perante o desconsolo dos dois jogos de preparação ainda em Portugal e pela derrota, já a sério, sofrida com a Alemanha.
Hoje é com a República Checa e depreende-se, andando na rua, ouvindo falar, que hoje a única preocupação é saber com quem vamos jogar seguir. O optimismo campeia. Seria óptimo que os nossos jogadores não se pusessem a pensar exctamente na mesma coisa, ou seja, no próximo adversário.
Mas não podemos saber no que estão a pensar porque os nossos jogadores estão em blackout e não nos dizem nada. Cortaram relacções com o País que anda com eles nas palminhas."

Leonor Pinhão, in A Bola

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