"Braga reza
O Porto trabalha
Coimbra estuda
Lisboa diverte-se
Foi esta a melopeia que ensinaram ao pobre desmiolado do Janeca, embora com as premissas baralhadas e sem Braga e sem reza. Não sei se o pacóvio do Janeca é luterano, e não aprecia rezas, se ainda não percebeu que para cima do tão trabalhador Porto também há um naco de Portugal bastante razoável. No fundo, o estrovinhado Janeca não tem culpa: papagueia o que lhe ensinam, e ensinam-no mal. Se calhar, lá na terrinha cheia de altos e baixos dos Halsburgos, também há uma cantilena igual. Qualquer coisa como:
Salzeburgo compõe
Innsbruck esquia
Viena valsa
e Linz produz homenzinhos de bigode rídiculo que não gostam de judeus.
O avoado Janeca trocou tudo, algo que não se estranha de um bom aluno daquela escola vil cujos mestres espalham a palavra ódio e assentam como regra que não se dá a mão nos meninos que vestem de vermelho. Trocar é um princípio básico. E mentir, e enganar, e agredir, e comprar, e corromper. O perplexo Janeca encontrou, mal largou as malas num dos apartamentos que serviram para albergar, in illo tempore, algumas das flausinas do patrão (muito convenientemente rodadas pela cáfila dos Senhores de Cócoras), um mundo podre no qual convém ler pela cartilha do Madaleno. Talvez aí o asinino Janeca tenha percebido que não há Deus acima do Palhaço-Mor nem Portugal acima da trabalhadora e invicta cidade, nem gargalhadas fora da antiga capital do império. Ah! Lisboa diverte uma Lisboa inteira! Só não diverte Braga, demasiado ocupada a rezar, nem Coimbra, demasiado ocupada a estudar. Quanto ao Porto, bem, quanto ao Porto, se é este o trabalho que anda a fazer, transformando austríacos em autênticos lorpas/néscios, bem pode limpar as mãos à parede. E voltar a transformar meretrizes em candidatos ao prémio Nobel da Literatura. Sempre em mais divertido..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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