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sábado, 15 de novembro de 2025

Rui Costa: a vitória que acabou num empate


"O Benfica reelegeu o jogador e não o presidente. E quando o apito final soou, a vitória de Rui Costa já tinha o sabor do empate — e do mesmo desconcerto que o clube arrasta há anos

Rui Costa reelegeu-se presidente com mais de 65% dos votos. Poucas horas depois, o Benfica empatou na Luz, diante do Casa Pia, ao 12.º jogo de José Mourinho, ainda incapaz de resolver os problemas que transporta desde o primeiro encontro de Bruno Lage ou do último em que foi orientado por Roger Schmidt.
Como tem sido hábito nos últimos clubes que treinou, o treinador queixou-se do penálti-que-não-foi, com o presidente a mostrar-se também ele previsível ao acrescentar a punch line do «assim se perdem campeonatos». Ainda com as eleições a quente, reagiu rápido depois de ter tantas vezes acusado de não defender o clube. Mas… «assim» como? Sem ter mostrado algo que não tivesse efeito soporífero para o espectador, o Benfica estava a vencer por 2-0, o penálti foi defendido por Trubin antes da rara precipitação de Tomás Araújo trair a todos e a si próprio num alívio desastrado que colocou a vida em risco aos filhotes da coruja, estava-se a 25 minutos dos 90' e houve mais oportunidades e um golo anulado. O 2.º golo dos visitantes resulta de dois erros individuais, primeiro Ríos, depois Trubin, naquela defesa para a frente, espaço proibido, mas também do fracasso coletivo que sobressai em praticamente todos os desafios: dominar de forma inequívoca ou, quando não possível, controlar com bola.
Se Rui Costa estava a falar da arbitragem é desculpa mais que esfarrapada. Se está a falar do acumular de erros próprios, muitos seus, talvez tenha razão. Até se perde mais. Perde-se mentalidade ganhadora, o respeito dos adversários e, se quiser insistir por aí, talvez o clube se vulgarize até perante os homens do apito. Se reduza ao tamanho de um Casa Pia na hora H. Não é que transforme o erro em premeditação, apenas talvez torne o seu caminho mais fácil. A força da liderança também se vê nesses momentos.
O empate de domingo foi sobretudo mais um sintoma de um clube longe de ter adquirido um rumo no dia em que entrou para o Guinness. A mensagem terá chegado, todavia, aos destinatários pretendidos. Os adeptos e os sócios, talvez muitos daqueles que entenderam que, depois de 13 anos de estágio remunerado e quatro no poder, o atual responsável ainda merecia uma mais oportunidade, fizeram eco um pouco por todo o lado daquilo que não é mais do que nova tentativa de vitimização, como tantas antes, e também com outras cores: «Ninguém respeita o Benfica!»
Quem lê habitualmente esta crónica não ficará surpreendido por querer manter a minha opinião sobre Rui Costa e a sua presidência, embora me pareça que agora terá a cumplicidade de mais de 58 mil almas que também decidiram não querer saber, não ler documentos e não estarem informados sobre o que se passa realmente no clube. Todos eles foram um pouco Rui Costa na sua decisão e, como tal, aceitam dividir com este o peso da responsabilidade pelos próximos anos.
Acredito que quem votou na lista G colocou a cruz à frente do jogador, do bom filho retornado a casa, e não no presidente, que foi perdendo quase toda a sua estrutura até inventar uma remodelação, depois de fazer disparar custos e ganhar muito pouco. Terá até, no limite, votado em Mourinho, quiçá marca de água no boletim, que só não será o último erro do atual presidente porque os sócios aumentaram substancialmente a margem de erro e mostraram estar mentalmente preparados para pelo menos mais um mercado que, pelo perfil do técnico, afastará a equipa do desejo de ser dominadora, pelo menos por cá.
O que se passou na Luz diante dos gansos não foi karma, nem resultado de uma má arbitragem. Aquela exibição não poderia estar mais ligada à falta de rumo que começou a penalizar a equipa logo nos segundos seis meses de Schmidt, o último que quis criar uma equipa verdadeiramente dominadora, encontrando soluções em jogadores proscritos e na formação. Já os dois sucessores portugueses, pelo contrário, confiam em poucos e alienam uns quantos. Não foi um acidente, vai repetir-se, e se bem conhecemos já as ideias de Mourinho as eventuais alterações de janeiro ainda afastarão mais a equipa daquilo que precisa para ser sólida nos diversos momentos dos encontros.
Rui Costa ganhou o benefício da dúvida a quem deixou dúvidas. A missão, como a canção, é «fazer o que ainda não foi feito». Ou seja, tudo. Terá uma equipa diretiva nova ao seu lado e o primeiro passo para atingir algum sucesso será carregá-la até 2029 depois do que aconteceu à anterior. Ao mesmo tempo, criar um rumo, defendê-lo nos tempos difíceis, tomar decisões na altura certa, equilibrar contas sem desinvestir num plantel desequilibrado apesar dos 130 milhões em remendos, ganhar com esse plantel milionário, dar força a uma academia que se perde sem linha de meta, revitalizar modalidades importantes e ajudar a empurrar o jogo na direção certa, na questão de centralização dos direitos ou na defesa do produto. Enfim, ser líder. Algo em que se mostrou perfeitamente incapaz até aqui, ao ponto de ser diminuído até nas declarações dos rivais. Será de mim ou tudo isto parece de um campeonato que não o seu? E corre já contra o tempo para provar-nos a todos do contrário. Bastou um empate domingo à noite.

P.S. Não conheço pessoalmente João Noronha Lopes. Ou João Diogo Manteigas. Parecem-me ambos pessoas com interesse genuíno em devolver ao clube o sucesso a que aspira. Se o conseguiriam fazer agora, não sei. E nunca saberemos. Entretanto, do segundo diz-se que será o próximo grande adversário de Rui Costa daqui a quatro anos e, se o for, terá de transportar muito desta eleição para essa. A sua imagem não passou, pareceu demasiado radical. E se o povo é avesso à mudança, ainda o será mais a uma que lhe pareça extrema. Levará também daqui o que não pode imitar, como a ingenuidade de Noronha Lopes, que, já fragilizado pela maior dificuldade de comunicar, teve de lidar com uma campanha do presidente em exercício que foi tudo menos inocente, ainda que não personalizada no próprio. Por vezes, jogou-se sujo. Não houve misericórdia. Noronha e os seus mais próximos não estavam preparados. Por isso, perdeu esta batalha — e acredito que a guerra."

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