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terça-feira, 20 de agosto de 2024

Conceição no Benfica e o início da guerra civil


"Trazer Conceição para o banco seria o equivalente ao homicídio do arquiduque Francisco Fernando em 1914 ou ao incêndio do Reichstag em 1933: o pretexto para que todas as tensões acumuladas explodissem e o lema E Pluribus Unum se reduzisse a cacos. Dar a Sérgio Conceição a honra imerecida de treinar o Benfica seria o tiro de partida para uma guerra civil. Não um tiro no pé. Um tiro na têmpora com os efeitos de uma bomba nuclear

Para se ter uma ideia do vulcão em que o Benfica está transformado, um Vesúvio sempre à beira da erupção, basta pensar na forma com que a possibilidade de Sérgio Conceição treinar o clube foi recebida por uma franja de adeptos. Não serão a maioria nem serão os mais influentes, mas a sua reação prova que, em certos setores benfiquistas, reina uma febre apocalíptica, um desejo visceral de destruição do velho mundo para que das suas ruínas se possa erguer um perfeito novo mundo.
À falta de uma bomba atómica real, Sérgio Conceição de águia ao peito seria a arma de destruição maciça, a bomba atómica por que muitos esperam por já não confiarem na regeneração prometida pela atual direção, que veem como uma iteração amorfa e decadente do pior do vieirismo. Tal como no passado, em vez de investirem na construção de uma alternativa que parta para as próximas eleições em condições de as vencer, com um projeto sólido e pensado com tempo, só desejam a destruição da atual ordem, uma terraplenagem total, sem reféns nem prisioneiros de guerra, apenas escombros.
É um estranho desespero que se alimenta de si mesmo. Um desespero que se deleita em estar desesperado e que não deriva de uma análise fria dos resultados da equipa principal de futebol nem sequer de uma avaliação rigorosa dos méritos e fracassos da direção liderada por Rui Costa. Mesmo que, desportiva e financeiramente, alguns sinais sejam preocupantes, a situação está longe de ser catastrófica, o que deve frustrar alguns espíritos ansiosos pela catástrofe, por uma guerra civil.
Nesse sentido, trazer Conceição para o banco seria o equivalente ao homicídio do arquiduque Francisco Fernando em 1914 ou ao incêndio do Reichstag em 1933: o pretexto para que todas as tensões acumuladas explodissem e o lema E Pluribus Unum se reduzisse a cacos. Dou um desconto àqueles que acreditam genuinamente que esta seria a solução ideal seja por alimentarem uma nostalgia da ordem, do treinador de chicote na mão, seja por reconhecerem no antigo treinador do Porto uma genialidade que, honestamente, não vislumbro. Mas desconfio que a maioria dos que promovem a ideia queira apenas o tumulto e a guerra dos quais o Benfica, na sua visão das coisas, sairia mais limpo e mais forte.
Na antecâmara da Grande Guerra, o artista italiano Marinetti dizia que a guerra é a única higiene do mundo. Milhões de mortos depois, perdas humanas de um valor incalculável, economias destruídas, sociedades debilitadas, é difícil acreditar nos benefícios dessa limpeza. Porque o objetivo não pode ser o de deitar fora o bebé com a água do banho. Talvez uma guerra ajude a trazer à superfície o lixo que a paz podre tem de esconder. Mas numa guerra aberta não há seletividade de alvos, não há racionalidade. Vem tudo abaixo. Dar a Sérgio Conceição a honra imerecida de treinar o Benfica seria o tiro de partida para uma guerra civil. Não um tiro no pé. Um tiro na têmpora com os efeitos de uma bomba nuclear."

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