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terça-feira, 7 de novembro de 2023

O modelo Amorim, de esgotado a não ter rival, e um Schmidt anti-cópia


"O modelo que todos viam como esgotado, ao ponto de se dizer que Rúben Amorim precisava de um terceiro médio e não de um terceiro central, é exatamente aquele que aparenta hoje estar mais perto da afinação. Até os rivais tentaram ou tentam ir pelo mesmo caminho. O FC Porto de uma forma circunstancial, uma vez que as lesões também afetaram a solução e fizeram com que se tivesse perdido o momentum, já o Benfica mais constantemente.
O processo que garantiu o título às águias partia-se entre ataque e defesa face à mudança das individualidades, e a nova ideia terá chegado para ficar, pelo menos nos próximos tempos. Se no caso de Sérgio Conceição, é natural a constante tentativa de encontrar o ponto de equilíbrio – já tinha testado o 4x3x3 e até o losango, além das derivações do 4x4x2 durante as partidas –, já em Roger Schmidt, apesar de uma outra incursão e até experiências com o 3x5x2 no passado, a viragem é bem maior.
A identidade mantém-se na pressão e na contrapressão, mas o alemão gosta é de atacar e marcar golos, quantos mais melhor. Numa ideia, quer ganhar sempre por KO e não por pontos. Agora, reforçou a pausa e a construção mais associativa, mesmo que demore mais tempo, se pense mais e a bola seja mais mastigada. É verdade que tem chegado aos triunfos graças a rasgos individuais (Di María antes, João Neves ontem) e o volume atacante não encontra tantas oportunidades como no passado, porém esse ponto dependerá de acertar em alguns nomes (o que ainda não parece ter acontecido) e criar dinâmicas.
Não concordo, contudo, com a ideia de cópia. Além do número de centrais, as semelhanças com Amorim e até com Jesus, que baixava linhas e contra-atacava, não são muitas. Aliás, o modelo leonino está no ponto certo – o que não quer dizer obrigatoriamente que festejará no final – porque defende com consistência, atrai o adversário com um bloco médio e ataca em velocidade, envolvendo também pelos flancos, uma fragilidade dos encarnados em qualquer sistema.
A contratação de Gyokeres teve o condão de melhorar o modelo original, que tinha entrado em falência nas épocas posteriores ao título e levou a que o técnico intensificasse o ataque posicional. Agora, deu um passo atrás e tudo tem batido certo. Já ao alemão falta encontrar o tridente certo na frente, mais do que jogar com alas e não com médios-centro nos flancos. Jogadores que saibam sair de espaços apertados, sejam resistentes à pressão, caiam com facilidade nas faixas (sobretudo à esquerda, onde não canhotos porque Di María se sente melhor na direita e Neres está lesionado) e consigam jogar também de costas para a baliza.
O novo modelo poderá potenciar (e proteger) Kokçu quando o turco voltar, embora João Mário se tenha exibido bem nesse papel de organizador, acrescentando critério. Florentino, mais uma vez, confirma-se como fundamental. Com as novas premissas, o Benfica não brilhará como nos primeiros meses da última época, porém poderá atingir uma boa consistência e, sobretudo, estar ainda mais perto do golo. Os grandes testes a essa mesma solidez estão aí à porta. E não há melhor exame a um sistema de pressão renovado do que a Real Sociedad. Precisamente antes do dérbi."

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