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domingo, 17 de janeiro de 2021

A mensagem


"Reduzir a cinzas o rival é o sonho e maior desígnio de qualquer equipa. Basta pensar no crescimento absurdo que a palavra hegemonia tem tido sempre que nos referimos a futebol, em especial nos últimos anos quando mencionamos Porto e Benfica. E as vitórias recentes do FC Porto frente aos encarnados validaram em boa parte a ilusão que nasceu de um wishful thinking dos adeptos portistas, sendo que a estocada final nesse sonho seria dada em pleno Estádio do Dragão naquela que, na suas mentes, seria a 5ª vitória em cinco jogos disputados entre duas equipas. Mas o futebol, especialmente nos dias que correm, tem o condão de ser impedioso a matar qualquer tipo de pensamento definitivo. Não é à toa que a série de cinco vitórias em cinco, num clássico, é uma meta absurdamente impossível. E o jogo desta sexta-feira acaba por prová-lo. Por não ser definitivo, por as duas equipas não andarem assim tão longe uma da outra em termos de potencial, a afinação de um dos lados para bloquear as mais-valias do rival redundou numa troca de protagonismo neste clássico. Foi um Benfica com bastantes sinais positivos, mais protagonista, a escolher melhor as rotas e a previnir-se melhor do habitual jogo do rival, que validou a teoria de que as coisas não estão escritas na pedra, que não são definitivas, e que a transcendência e o ajuste podem mudar tudo num jogo, numa rivalidade.
Obviamente que uma série de 4 vitórias em 4 jogos tem o condão de tornar tendenciosas as antevisões. A mente consegue ver o que consegue ver… até ver diferente. E o que via antes seria a inconsequência do habitual futebol do Benfica, sem vertigem, sem jogo exterior, com muitos jogadores bloqueados entre o meio-campo e a defesa adversária. E se a isto lhe juntarmos a apatia defensiva, a falta gritante de competitividade e ligação ao jogo (que ficaram evidentes nos últimos confrontos entre portistas e benfiquistas) não seria surpreendente que numa volta pelas redes sociais o tom fosse o de esperar pelo mesmo desfecho.


A jogada que origina o 0-1 tinha já sido recriada antes, para confirmar o posicionamento-chave de Grimaldo. Desta vez, saída confirmou as muitas opções encarnadas. Weigl optou pelo corredor lateral invariavelmente, de onde o Benfica deixava a nu o desequilíbrio do FC Porto

Mas o FC Porto a dominar de novo um atemorizado Benfica não passou de um sonho, de uma ilusão. O Benfica corrigiu pormenores importantes que anularam valências habituais nos portistas (a ligação directa com Marega foi interrompida por Nuno Tavares e Grimaldo), e foi inexcedível a bloquear a construção portista (que foi em vários momentos completamente abafada). Ora, toda a conversa para a competitividade resvala obviamente para o número de duelos, para o número de segundas bolas (onde o Benfica também se agigantou em relação aos confrontos recentes) mas a nova vibração competitiva das águias teve a componente mais importante na ocupação de espaços. Fala-se em intensidade e resvala-se para o morder de língua, mas essa ligação ao jogo identifica-se também pela rapidez em ocupar espaços com bola e sem ela. E essa maior desenvoltura contribuiu em muito para que o doom and gloom, para que a depressão e apatia, que reinava no Benfica tenha desaparecido quase por completo depois do jogo.
Contudo há que realçar novamente o sonho perigoso que é pensar que tudo isto é definitivo. Que de repente o FC Porto já não existe e que a caminhada vitoriosa que JJ prometeu seguirá sem mácula até ao Marquês. Porque é dessa forma de pensamento específica que se perde o foco para corrigir coisas como as que ontem o Benfica conseguiu corrigir. E muitas dessas correções surgiram obviamente porque os erros ficaram tão evidentes, mas tão evidentes, na Supertaça, que não havia como não olhar para eles. Assim, o Benfica surpreendeu, dominou, foi protagonista e bloqueou a maior parte do ritmo habitual dos dragões. Mas isso não impediu, por exemplo, que as boas rotas escolhidas por Jesus (desta vez com os corredores laterais a serem chave, evitando o afunilamente excessivo e desnecessário) redundassem em oportunidades falhadas para sublinhar esse sinal mais. Pelo contrário, o FC Porto, com menos bola para criar, conseguiu quase do nada fabricar um golo importante que acabaria por ser nuclear para o desfecho final.



Pouca fluídez a construir resultava em perdas de bola que deixavam o FC Porto desequilibrado. Nanu, sempre a dar profundidade com bola, seria o elemento que ficaria mais vezes exposto. No seguimento da jogada, Uribe cola à linha defensiva e deixa espaço à frente da defesa. Darwin atira ao poste

Assim, muito dos clássicos acaba por ser o que se tira deles para o resto. Até porque, matematicamente, eles não são mais do que três pontos em disputa. Contudo, anímicamente, o que dão a quem os ganha e o que tiram a quem os perde é tido como factor nuclear para os festejos de maio. Daí que ao fim, seja muito importante passar a mensagem. A mensagem, no caso de JJ, de que a coisa agora vai de vento em popa, e de que o rival não existiu. Ou a de Sérgio Conceição que, ferido pelos comentários do rival, viu um bom jogo dos portistas, e seus elementos, onde esse na maior parte do tempo não existiu. Estando de fora, teremos de estar conscientes da tentativa dos mesmos em validar narrativas que não belisquem anímicamente, num jogo em que o resultado não favoreceu ninguém. E se muito há a tirar de positivo no crescimento do Benfica no duelo com o FC Porto, convém não esquecer que como Darwin (29′) poderia ter adiantado as águias, também Luis Díaz (ainda antes do intervalo) poderia ter colocado os azuis-e-brancos em vantagem (36′). Oportunidade essa, como outras, negligenciada e omitida por um JJ apostado em passar uma mensagem clara na flash-interview.
E se o FC Porto não foi a nulidade que o técnico encarnado rotulou, também andou longe de ter o controle emocional para levar o jogo para onde mais gosta, não conseguindo (como o seu técnico preconiza) ser superior ao rival em factores nucleares para Conceição. E só reduzido a dez encontrou um rumo de vida que lhe permitisse estar seguro no jogo. Porque enquanto teve a obrigação de atacar, a fluídez que não conseguiu ter (parte dificuldades técnicas, parte cansaço, parte boa ocupação dos espaços por parte do Benfica) abriu mais espaços ao adversário do que aqueles que conseguiu achar para marcar. E no duelo para uma das organizações ofensivas pegar no jogo, saíram por cima as águias. Porém o jogo trouxe-nos mais frissón quando se partia pelos erros na circulação de duas equipas apostadas em atacar. Quando, a partir da expulsão, o FC Porto assentou em organização defensiva, e o Benfica teve de, naturalmente, pegar no jogo a tempo inteiro, a superioridade desvaneceu-se, ficando algum vazio de rotas e algumas frestas por onde o FC Porto (mesmo reduzido a dez) foi aparecendo – conseguindo até uma das melhores oportunidades do jogo (Marega, 77′) que em contraposição com a de Rafa (62′) equilibra as equipas na contagem de lances flagrantes.



Transições também deixaram o Benfica exposto. Gilberto, como Nanu, em parte incerta, deixa o Benfica à mercê dos duelos que nem Pizzi, nem Rafa, nem Otamendi conseguiriam ganhar. Luis Díaz, como Darwin, poderia ter feito o 2-1 

Um empate que, como dito, validará várias narrativas e fará assumir posições já bem conhecidas por parte dos dois clubes e treinadores. Fica Jorge Jesus com argumentos (válidos ou não) para assumir superioridade em relação ao rival, colando-se ao discurso da sua apresentação, e fica Sérgio Conceição na posição de ter que derrotar à força o inimigo da sua verdade – naquela que é manifestamente conhecida como a sua gasolina. Algo que misturado com o facto de ser o Sporting quem está no topo da tabela, criará certamente uma história atribulada, peculiar e, quem sabe, épica na história desta Liga 20/21. Cenários, narrativas e mensagens que, lembramos ao fim como no início, não são definitivas. Tudo dependerá da regularidade e dos acertos específicos aos contextos específicos que vão surgindo. E essa é a lição que o aparecimento do Benfica no Clássico nos traz."

1 comentário:

  1. Mais um artigo a querer branquear o que se passou em campo. Mentiroso este Brian laudrup também!
    Equilíbrio de oportunidades? O Darwin não teve uma, teve duas. Na primeira parte o fcporko não produziu caudal ofensivo, e as oportunidades que teve, para além de nalguns casos serem precedidas de falta, resultam de bolas paradas,onde aí sim são superiores pois impõem o seu físico à margem das leis.
    O fcporko fabricou um golo do nada, verdade, e fabricou as outras oportunidades dos seus pontos fortes, disputas de bola ganhas em falta, jogo esticado na profundidade (não aguentaram os 90 min e quando já não tinham pernas fecharam o jogo com a permissão do árbitro) e bolas paradas (faltas inventadas e repetidamente sancionadas por um árbitro medroso).
    O Benfica foi Dominador em quase todo o jogo, com excepção dos primeiros minutos de ambas as partes, e o fcporko apenas equilibrou graças aos expedientes habituais.
    Onde não existiu equilíbrio foi nas faltas cometidas. Mais uma aberração estatística de uma equipa que cria mais jogo ofensiva e é sancionada com mais faltas.
    Despe a camisola Brian!

    CARREGA BENFICA TRINTA E OITO!

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