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quinta-feira, 26 de abril de 2018

Sabe quem é? O morto não era ele - César

"Farsante viveu como se fosse o Herói da Libertadores; Por causa dele, o FC Porto sem Pedroto e Pinto da Costa

1. A caminho dos 63 anos, vive no aconchego de Atafona, lugarejo de São João da Barra: «Dá para fazer quase tudo a pé ir, vez que outra, pendurara conta da carne no açougue, colher de tudo do quintalzinho; côco, acerola, araça, romã - e pegar no barco para pescar, seja no rio, seja no mar, meu passatempo preferido. É, claro, também viver, gostoso, as memórias da minha vida no futebol».

2. O golo mais famoso que marcou foi o que deu ao Grémio a Taça dos Libertadores de 1983 - e havendo alguém que parecia incrível clone de si, passou a viver como se fosse ele. Tinham até a mesma idade - e o farsante chegou a participar em iniciativas do Grémio como se fosse o «herói da Libertadores», não sendo.

3. Ele, o verdadeiro «herói da Libertadores» já vivia na pacatez de São João da Barra - por isso não se apercebeu do alarido que, certo dia, causou a notícia da sua «morte» num hospital de Porto Alegre. Não, não foi ele que morreu na verdade, foi o farsante. Só deu conta disso quando um amigo ligou para dar pêsames à mulher, ele próprio atendeu o telefone - e antes até minuto de silêncio já se fizera no jogo do Grémio.

4. Meses, depois de se tornar «herói da Libertadores» sofreu lesão entre o fémur e a bacia - não mais ficou bom. Ainda penou pelo Palmeiras e o São Bento de Sorocaba, Scolari chamou-o para jogar na equipa que então treinava, o Pelotas: «Fazia um jogo, ficava 15 parado. Mesmo assim fiz uns golzinhos, mas vendo que não dava mais, parei de jogar». Tinha 31 anos - e nem pelada pôde fazer mais, depois.

5. Em São João da Barra, a 300 quilómetros do Rio, nasceu a 13 de Abril de 1956 - e quando o pai o foi registar juntou aos dois apelidos de família: Martins de Oliveira um nome apenas, nome de imperador romano. Futebol começou a jogar no Fluminense de São João da Barra, passou pelo Americano de Campos - e aos 19 anos saltou de lá para o Américo do Rio. Três anos tornou-se o melhor marcador do Campeonato Brasileiro: «Esse meu titulo tem história curiosa, sabe?! O troféu eu cheguei a receber, guardo lá na minha sala, mas o dinheiro do prémio nunca resgatei por causa da saída apressada para a Europa que eu logo tive...»

6. Ferreira Queimado sonhava com avançado de classe internacional no Benfica - e viajou para o Rio com uma ideia na cabeça: trazer Cláudio Adão, o Cláudio Adão do Flamengo. De repente tudo mudou: em vez do Cláudio Adão trouxe para Lisboa o avançado que o Flamengo já tinha combinado para o lugar de Cláudio Adão (e daí a sua «apressada saída para a Europa»).

7. A Lisboa chegou em finais de 1979 - e Mário Wilson logo o pôs a jogar. Foi em Portimão, fazendo ataque com Reinaldo. Na semana seguinte, contra o Marítimo, fez o seu primeiro golo em Portugal, os outros três da vitória da sua equipa por 4-0 foram de Nené.

8. Nos 12 jogos para o campeonato de 1979/80 marcou 8 golos. Nos 3 para a Taça fez um - e esse foi o golo da vitória na final com o FC Porto: «Lhe chamaram o gol da curva da banana, esse gol me salvou. Sem ele, a época teria sido um fracasso para o Benfica e, assim, talvez até a minha contratação tivesse melado...»

9. Também foi ele que o contou: «O Benfica tinha perdido o campeonato para o Sporting, só nos restava a Taça. Vi Fonseca goleiro do Porto, adiantado rematei com um efeito brutal e foi gol, um gol lindo. Os telejornais do Brasil deram destaque grande, vários jornais disseram: um brasileiro deu um titulo ao Benfica de Portugal! E, na época seguinte, então, ganhámos tudo!»

10. Essa época em que ganhou tudo foi a de 80/81. O golo que marcara no Jamor levou no Verão Quente das Antas - quer Pedroto, quer Pinto da Costa foram-se embora de lá em guerra com Américo de Sá. E do Benfica se foi ele embora em 1983, com dois campeonatos e três Taças.

11. Foi para o Grémio, outro era para ser o seu destino. Estava apalavrado com o Boavista quando Fábio Kroff, presidente do Grémio, lhe telefonou de Porto Alegre, desafiando-o para lá, dizendo-lhe que precisava dele para ganhar a Taça dos Libertadores - e ele contou muito depois: «Fiz as malas de pronto, o pessoal do Boavista está me esperando lá até hoje...»"

António Simões, in A Bola

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