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quinta-feira, 26 de abril de 2018

Sabe quem é? Antes foi o horror... - Júlio César

"A baliza mais pequena que o seu medo; Para ir treinar, a mão dava-lhe com água na cara (e ainda era madrugada)

1. Janderson, o irmão mais velho Espíndola começou por ser conhecido, quando se revelou no Botafogo - mas já era o Pardal quando foi campeão pelo Vasco em 1997. Júnior, o outro irmão, não quis fazer vida do futebol, mas abriu-lhe caminho à eternidade...

2. Entre a família Espíndola, sempre o trataram por Cesinha e tudo começou como a mãe contou: «Era sempre Júnior que o desafiava para os fundos da casa onde morávamos na Zona Norte do Rio. Duas cadeiras serviam como postes, as meias garantiam a diversão. Elas eram enroladas como bola. E também substituíam as luvas nas mãos do Cesinha... Até que um dia ele chegou a falou que queria ganhar luva de 'goreiro'. Ele nem sabia falar ainda direito e já era destino».

3. Era destino mas não foi esse logo o seu destino: «Minha parada era só rua, futebol de rua, futebol de esquina. O carro vinha e a gente falava 'carro'. Aí todo mundo parava no lugar, esperava, o carro passar e a gente continuava. E, nessa altura, eu só pensava ser como Janderson, marcar golos...»

4. Tudo mudou na tarde em que ele e Júnior se precipitaram para o campo do Grajaú, perto de casa: «Fomos só para aquele gol e gol na quadra, de chutar de um para o outro. Aí faltou jogador que era federado no pré-mirim e me chamaram para completar o time. Era o goleiro que não tinha ido, fui eu - logo me perguntaram se queria continuar jogando pelo Grajaú, continuei...»

5. Não era futebol de 11 que jogava no Grajaú - era de salão. Ricardo Vandejão, seu treinador, soube que o Fla andava à procura de guarda-redes nascido em 1979 - e convenceu Isaías Tinoco a levá-lo à Gávea: «Quando soube que ia no Flamengo, nem acreditei. Era o clube de toda a família. Fiz semana de experiência lá, mas foi um horror...»

6. A razão de ser um «horror» era a baliza mais pequena que o seu medo: «O gol era bem maior que no futebol de salão, corria atrás da bola, gol. Corria atrás da bola, gol. No futebol de salão só pulava no lugar, não fazia aqueles saltos necessários no campo, não dava medo, não». Por isso, ao voltar a casa, descrente, murmurou: «Não vou ser aprovado, não. O gol do 11 é grande, tudo o que chuta, entra». Enganou-se.

7. Por essa altura já tinha ídolo que foi a luz que lhe marcou o caminho: Taffarel. Acabara de fazer 13 anos e ao assinar pelo Flamengo - ainda andou tempo sem gostar nada da baliza grande (o medo, perdeu-o...): «Mas o que eu curtia mesmo era o futebol de salão. Depois, havia o outro troço...»

8. Desse «troço» que ele dizia falou a mãe: «Tinha de chegar à Gávea às 7 horas da manhã para treinar. Sempre o acordava às 6 e ele se levantava meio sonolento. Ás vezes jogava água no rosto dele para o despertar, mas era o chuveiro que o acordava mesmo, o empurrava para lá a dormir. Levava marmita no campo porque após o treino ia direito para a escola, só tinha tempo de almoçar lá dentro mesmo. Era tudo na correria. Mas valeu a pena, sim...»

9. Andou tentado a largar o Fla: «A casa chegava às 10 da noite todo destruído e tinha de voltar a levantar de madrugada. Falava para minha mãe que voltar para o futebol de salão do Grajaú, mas ele não deixou».

10. Em Duque de Caxias nascera prematuro com sete meses e 18 dias, a 3 de Setembro de 1979 - e aos oito meses já andava, já corria atrás das bolas que havia por casa. Aos 17 anos, estreou-se no primeiro time do Fla: «Entrou na fogueira contra o Palmeiras em jogo decisivo da semifinal da Copa do Brasil, após Zé Carlos se machucar. Fechou o gol, o Flamengo se classificou para a final. E foi a 13 de Maio, 13 de Maio de 1997», disse Fátima, a mãe...

11. O resto é história, uma história de 30 títulos. Do Benfica levou mais do que três campeonatos. Do Inter, com Mourinho, levou mais do que Liga dos Campeões. Nesse ano de 2010, em que foi eleito o Melhor Guarda-Redes do Mundo, o Brasil ganhou a Taça das Confederações à Espanha, ele subiu à tribuna para receber as medalhas com a camisola de Casillas vestida em sua homenagem. Ao pegar no telemóvel viu mensagem de Mourinho. O que lá estava deixou de ser segredo antes do seu emotivo no Flamengo - América: «Tu estás maluco. O gajo é que tem que vestir tua camisola e não tu a dele» - e ainda disse que Mourinho lhe dissera que com um braço defendia mais do que Casillas com os dois..."

António Simões, in A Bola

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