Últimas indefectivações

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Excelência e performance: o papel da (des)motivação

" “A persistência pode transformar o fracasso num extraordinário sucesso”
– Matt Biondi, nadador olímpico, 11 vezes medalhado

O ser humano é naturalmente motivado, curioso e com uma genuína e espontânea vontade de aprender.
O processo educativo (parental e escolar) e a socialização de que todos vamos sendo alvo, para além de alavancar o nosso crescimento como pessoas, no que respeita ao que se designa por "hard skills" (*) e "soft skills" (**), muitas vezes, acaba por, de uma forma ou de outra, ir contribuindo igualmente para a existência de pequenos processos de desmotivação (que podem vir resultar num processo mais profundo de desinvestimento).
Estes processos ou "focos" de desmotivação (para a escola, emprego, desporto ou, simplesmente, sair com amigos), vão-se instalando de forma subtil e gradual, afectando a noção que temos de nós próprios e dos nossos recursos pessoais (logo, a nossa confiança pessoal).
Traduzindo-se, frequentemente, num acumular de, ora pequenas, ora grandes frustrações, resultantes da dificuldade em destrinçar entre o esforço que conseguimos (ou não) produzir e a obtenção de um dado resultado (que pode, ele próprio, ser à partida uma meta desajustada ao momento actual), tendem a ser, em si mesmo, um desafio às nossas competências de auto-consciência e auto-regulação.
Por esta razão, contribuem fortemente para a nossa "lista interna" de "objectivos impossíveis"... Acabando, inevitavelmente, por condicionar o nosso caminho de "expertise" (mestria), não permitindo que se evolua de forma tão destacada como poderia, quanto mais não seja porque nos vamos lançando cada vez mais para “metas” (objectivos) menos desafiantes, logo, onde temos “quase a certeza” que iremos alcançar o sucesso (numa estratégia inconsciente de tentar proteger o que “resta” da nossa confiança – acabando por se virar, inevitavelmente, contra este mesmo propósito).
A grande questão desta "desmotivação" que se vai instalando é que, para além de sermos fortemente capacitados para encontrar todo o tipo de argumentos para nos auto-convencermos que "até não queremos isto para nós" - concorrer "àquele" emprego, convidar aquela pessoa para sair, seguir uma carreira de músico, etc. (o que, na realidade, mais não é do que uma brilhante estratégia para não "irmos a jogo" e testarmos as nossas reais capacidades) - muito frequentemente, e por se ir instalando devagarinho, nem temos noção de como se "agigantou" dentro de nós.
Contudo, e de igual forma, a desmotivação transporta não só a oportunidade de identificar o que nos fragiliza e retira do processo que, outrora, determinamos como o caminho para o objectivo que foi por nós determinado, mas também a oportunidade de treinar uma nova atitude face à frustração que nos levará a transformar fuga em determinação.
Por esta razão, importa que se passe a olhar para este tipo de processo emocional, não como algo que temos que evitar sentir a todo o custo, mas sim como uma fonte de oportunidades para aprofundar a consciência que temos de nós próprios e das escolhas que fazemos e nos transportam para este “agora”, onde a frustração e decepção emergem.
Este é, de facto, o poder subjacente às emoções (ditas) negativasdas quais, culturalmente, aprendemos a “fugir” e que, afinal, transportam em si mesmas uma gigantesca oportunidade de transformação.
E, por isso, é que os Atletas de Excelência, face ao erro e frustração... repetem, repetem, repetem... enfim, persistem.

(*) “hard skills” - competências técnicas associadas a uma dada área do saber.
(**) “soft skills” - competências interpessoais, que nunca foram alvo de um processo educativo estruturado, e que se reflectem na nossa capacidade de gerir stress, lidar com conflitos, sermos líderes ou liderados, entre tantas outras."

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!