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domingo, 29 de maio de 2016

Tudo o que eu te dou

"1. Pedro Abrunhosa, um dos grandes nomes da nossa música contemporânea, adaptou um dos seus maiores êxitos para hino da nossa selecção para o Europeu de França. Europeu que, desde ontem, desde a final espanhola da Liga dos Campeões, prenderá as nossas atenções. Sem prejuízo de deitarmos o cuidadoso nosso olhar para a Copa América em razão da participação de alguns nomes grandes que nos deliciaram nos nossos relvados ou que, em razão da sua classe, exigem a atenção de qualquer apaixonado adepto do futebol. Com Pedro Abrunhosa, nos nossos estádios e nos estádios de França que vão receber a nossa selecção, não deixaremos de cantar Tudo o que eu te dou. Somos Portugal. Há vinte e três anos que milhões de portugueses cantam esta canção. Não sei quantos milhões foram. Se já foram onze milhões como proclama, e bem, a campanha de envolvimento - «unir e galvanizar», nas sugestivas palavras de Tiago Craveiro - que a Federação Portuguesa de Futebol desenvolveu. De Lisboa a Sintra. De Viseu ao Porto. Da Mêda a Coimbra. Do Funchal a Angra do Heroísmo. O que sei é que esta nova versão de um tema que em cada espectáculo envolve Pedro Abrunhosa com os seus públicos, bem fiéis, vai marcar o arranque deste Verão. Desde já no Dragão. Depois na Luz no final deste estágio de preparação. E, depois, em diferentes estádios de França. E digo diferentes com a convicção de que esta selecção vai longe neste Europeu. Dando tudo. Tudo mesmo!
2. Ao mesmo tempo que as selecções prenderão a nossa atenção não deixaremos de acompanhar este mercado de Verão no que respeita a transferências. As mudanças de treinadores estão a acontecer. Em Manchester será uma disputa entre Mourinho e Guardiola. O que será uma disputa especial no habitual confronto de sete quilómetros entre o City e o United. Entre nós, mais de metade dos clubes da nossa principal Liga mudaram de treinador. Agora é o tempo da composição dos plantéis. Ou, em certos casos, da recomposição dos plantéis. Mas não se pressentindo que os milhões anunciados dos direitos televisivos - em regra apenas após 2018 e sem que se saiba, por ora, o que pensa a Autoridade da Concorrência dos contratos celebrados e que estará a analisar com o seu habitual cuidado e a sua costumada prudência - estejam a ser antecipados! O que significa que, a não ser que haja acesso a mercados financeiros não europeus, os milhões das televisões podem servir apenas de relativa emergência de tesouraria. O que em alguns casos é um imenso alívio e ajuda alguns novos treinadores a momentos de sentida alegria. Mesmo que o empolgamento venha a ser breve! É caso para dizermos, também aqui, que «tudo o que eu te dou» é para um bom arranque de época. E permitam-me que sublinhe, entre todos os novos treinadores, o regresso do José Couceiro ao Vitória de Setúbal. Durante muitas quintas feiras convivi com ele na Bola TV. Para além de ler, todas as semanas, a sua coluna neste jornal. Aprendi muito com ele quer no confronto de ideias quer nos textos aqui inseridos. E testemunho que tem visão, sentido estratégico e, acima de tudo, uma consciente e profunda liberdade de análise. Acerca do jogo e dos seus intervenientes. Acerca do futebol e da sua indústria. Acerca do mundo e das suas questões. Acerca do futebol português no seu todo e dos seus desafios e dos seus constrangimentos. Na certeza, como ele escreveu na passada sexta feira, de que «não há jogador, treinador ou presidente que ganhe sozinho; essa é a lição». Que o José Couceiro, também ele, nos dá!
3. Falemos, agora, daquilo que pode acontecer na participação portuguesa nos próximos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. O seleccionador nacional Rui Jorge já deve ter elaborado a lista alargada dos pré-convocados. Mas o que sabemos é que a FIFA, através de uma sua circular, proclama que os Jogos Olímpicos não constam do calendário internacional do futebol «uma vez que possuem uma natureza única e específica». Em face do calendário europeu do futebol em Agosto, sabemos que estão marcadas pré-eliminatórias da Liga dos Campeões e da Liga Europa. E há muitos clubes que ambicionam marcar presença nas duas fases de grupos destas duas importantes competições europeias. Assim acredito que alguns - serão mesmo só alguns? - não aceitarão facilmente ceder jogadores a diferentes selecções nacionais para o torneio olímpico. Sabendo, até, que, em momento anterior, o Tribunal Arbitral do Desporto entendeu que nenhum clube está sujeito a uma obrigação de cedência de jogadores para participação no torneio olímpico de futebol. Nós conquistámos, após largo tempo de ausência, com muito orgulho, o direito de participar nestes Jogos na modalidade de futebol. Mas importa, agora, que a generalidade dos clubes já têm treinadores para a próxima época, iniciar uma verdadeira negociação diplomática com os clubes detentores dos direitos desportivos e económicos dos jogadores que Rui Jorge, legitimamente, ambiciona levar para a Aldeia Olímpica. Negociação que deve envolver o Comité Olímpico e, também, a Federação Portuguesa de Futebol. Local onde, aliás, o Doutor Fernando Gomes apresentou as linhas estratégicas do seu próximo mandato. E sem se falar, aqui e, da carta aberta que um conjunto de reputados cientistas enviou à Organização Mundial de Saúde no qual se sugere o adiamento ou a mudança de sede dos Jogos - em razão dos casos de zika no Brasil e que poderá tornar a epidemia um problema global. Mas, e regressando aos possíveis convocados, e sem aquela negociação de bastidores pode acontecer que Rui Jorge não tenha, nestes Jogos, todos aqueles que «sonhava ter». «Nem tudo te dou», dirão muitos clubes da Europa às diferentes selecções olímpicas. Mesmo alguns portugueses, acredito. Os nomes dos escolhidos e aceites são, nos próximos tempos, o principal desafio de Rui Jorge. Com a nossa convicção que temos equipa, se completa, para lutar por uma medalha nestes Jogos! Com a nota que o torneio olímpico de futebol começa em dia anterior à cerimónia de abertura destes Jogos que o Rio de Janeiro, mesmo com as crise política, económica e social que atingem o Brasil, quer acolher com todo o orgulho. Com a consciência de que «nem tudo que eu te dou tu me dás a mim»!
4. Como o Pedro Abrunhosa, «eu já sei». «Somos mais fortes. Coragem e ambição. Voamos mais alto. O meu nome é Selecção.» Todas as selecções! Todas mesmo! De Junho a finais de Agosto!"

Fernando Seara, in A Bola

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