Últimas indefectivações

domingo, 16 de agosto de 2015

Vida e mar

"1.(...)

2. Tempo e oportunidade são palavras, igualmente, deste tempo desportivo. Deste singular arranque de época. De uma época em que nenhum dos grandes pode perder. Em rigor o que estaria menos pressionado seria - será! - o Benfica. Apenas tem a pressão de, neste tempo, aproveitar a oportunidade para conquistar, de novo, e ao fim de muitos e muitos anos, um tricampeonato. Mas a presença de Jorge Jesus no Sporting está a pressionar o Benfica. Diria que exageradamente. A mostrar, a evidenciar, que Jorge Jesus foi importante no Benfica. Mas importa que, a partir de hoje, se evidencie - que é bem mais do que mostrar! - que o Benfica, este Benfica, vence claramente para além de Jorge Jesus. E este desafio tem um tempo concreto - estes primeiros jogos - e é uma oportunidade única para a estrutura organizacional do Benfica e para Rui Vitória. Oportunidade que exige, na linha do grande orador romano Cícero, dedicação ao trabalho, capacidade de decisão nas situações perigosas, energia na ação, rapidez na execução, comunicação eficiente, bom senso e... também sorte. Daí que seja determinante que não se percam mensagens, que se escutem atentamente os outros, se lhes responda prontamente e que se utilize um discurso aberto e claro.

3. A este respeito e a propósito da questão das mensagens - porventura recebidas mas porventura não enviadas - não deixo de lhes trazer, neste tempo intercalar de Agosto, uma pequena história do tempo de Júlio César. Não deste tempo e do grande guarda-redes do Benfica. Mas sim do general - e ditador - romano que há muitos séculos e numa certa vez «tentava introduzir uma mensagem num acampamento aliado que estava sitiado». E como o entendeu fazer? Ordenou a um soldado que atirasse uma lança para dentro da fortificação à qual estava presa uma carta. E mais tarde, nas suas Guerras da Gália aquele Júlio César escreveu que «infelizmente a lança ficou presa numa torre, não sento detetada pelas nossas tropas durante dois dias. Ao terceiro dia, foi vista por um soldado, retirada e devidamente entregue!» Decerto não foi isto que aconteceu estas últimas semanas. Mas o que aconteceu é que ao terceiro dia houve resposta. No tempo considerado oportuno.

4. O tempo do Sporting concentra-se, sem mensagens, nos próximos dez dias. À euforia da Supertaça sucedeu-se a vitória em cima da linha, em Aveiro, face a um Tondela personalizado. Mas frente à equipa conhecida, no tempo soviético, pelo clube do exército russo, o CSKA, o Sporting de Jorge Jesus terá um dos grandes desafios da época. A sua presença, bem necessária em termos financeiros, na fase de grupos da Liga dos Campeões. É evidente que se tal não se concretizar a vida não acaba. E a nova oportunidade será a Liga nacional. E a sua conquista. Que, de verdade, não deixa de ser relevante nas próximas épocas desportivas em termos de ranking da UEFA. Mas importa saber conviver sempre com o sucesso e fazer frente aos erros. Há duas regras importantes neste aspeto: não deixar que o sucesso suba à cabeça e saber que o elogio de si mesmo está sempre condenado a suscitar ressentimentos. Ontem como hoje. Como nos ensinam os clássicos aqui hoje citados. Seja Júlio César, seja, agora, Alexandre, o Grande.

5. No FC Porto, Lopetegui tem de ganhar. É a sua obrigação. Mas é, igualmente, a sua pressão. A sua continuidade foi, ao mesmo tempo, motivação e risco. E nele se concentra a recriação ou a perda da habitual agregação da nação azul e branca. Agora também castanha. E esta transição de cores é o desafio deste seu novo tempo. Ou agarra todas as oportunidades ou tudo começa a ficar castanho. Como as cores da nova camisola! E, aqui, recordo sempre Alexandre, o Grande, o grande conquistador macedónio que partindo da Grécia dominou parte do Mediterrâneo chegando ao interior do atual Afeganistão! Num tempo bem difícil, em que já não era possível controlar os seus homens, escreveu-se que «as coisas que estavam a acontecer não passavam despercebidas a Alexandre, mas compreendeu que a solução para a presente situação era fingir desconhecimento em lugar de ter de dar o seu consentimento». Ontem como hoje. Tempo e oportunidade. E, também, vida e mar."

Fernando Seara, in A Bola

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