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sexta-feira, 29 de maio de 2015

O princípio

"Recordemos então o que disse o presidente do Benfica em Agosto de 2014, numa entrevista ao canal de televisão do clube.

Numa entrevista à Benfica TV, em Agosto do ano passado, o presidente do Benfica deixou clara a ideia de que a continuação de Jorge Jesus no Benfica dependeria apenas da vontade do treinador desde que nas mesmas condições contratuais, leia-se pelo mesmo salário. Revelou na altura Luís Filipe Vieira que fez chegar essa mesma mensagem a Jesus numa reunião de altos quadros encarnados já depois de conquistados todos os títulos nacionais na última época.
O líder benfiquista foi suficientemente claro na resposta à questão lançada pelo jornalista da BTV, Hélder Conduto, e disse ter deixado nas mãos de Jesus a decisão de renovar ou não o contrato válido então apenas por mais uma época, desde que, sublinhou Vieira, nas mesmas condições financeiras e portanto, sem qualquer tostão mais.
Se Luís Filipe Vieira o disse há um ano fará algum sentido que após a conquista de um bicampeonato altere a sua decisão? E deverá Jorge Jesus recusar essa possibilidade? Só compete a Vieira e a Jesus reciclarem a conversa tida naquela altura. Apesar da decisão presidencial de deixar na mão do treinador a opção de continuar a treinar a equipa da Luz, ninguém pode na verdade garantir que nenhuma circunstância se alterou num ano, quer do ponto de vista de Vieira, quer no de Jesus.
Apenas se questiona o assunto na base de um normal cenário de sucesso. Ou seja, pela lógica natural das coisas, faria todo o sentido que o Benfica procurasse prolongar o contrato com um treinador que na realidade ajudou, e muito, a devolver ao clube o espírito da vitória e a conquista dos títulos.
Para Luís Filipe Vieira, pelo menos em Agosto de 2014, a situação estava bastante clara: se Jesus quiser renovar o contrato com o Benfica nas mesmas condições financeiras (qualquer coisa como quatro milhões de euros brutos, quase dois milhões líquidos por temporada) Jesus é que sabe.
«Nem vale a pena falar mais desse assunto», disse, na altura Vieira.
É verdade que a duração de um novo contrato pode ser também objecto de discussão. Pelo que se tem lido por aí, Jesus quererá um novo contrato válido por mais quatro épocas, e compreende-se que o deseje, para continuar a sentir estabilidade numa altura da vida em que, como diz o povo, já não vai para novo...
Falta saber o que pensa verdadeiramente sobre a questão o presidente benfiquista e até que ponto está ou não preocupado com a possibilidade de perder o treinador e de o treinador acabar por manter-se em Portugal.
Pelo que se vai percebendo da carruagem do futebol europeu, não será fácil a Jorge Jesus conseguir chegar ao lugar de treinador de uma das 12/14 principais equipas do velho continente, não por questões quanto ao seu perfil técnico - cuja capacidade e qualidade não deixam de ser reconhecidas lá fora - mas muito provavelmente por razões que se prendem com a dimensão e estatuto internacional de Jorge Jesus, a exigente comunicação e relação com os media, os títulos europeus, etc., etc., etc.
Se quisermos ir um pouco mais longe, sabe-se também que o Manchester United não trocará Van Gaal e que o Real Madrid despediu o italiano Ancelotti mas vai buscar o espanhol Rafa Benítez, numa controversa decisão de Florentino Pérez quase só para mostrar que quem manda é o presidente e não a vontade expressa pelos jogadores, na sua grande maioria, que desejavam a continuidade de Ancelotti. Fechadas as portas dos grandes europeus, Jorge Jesus veria pois reduzidas as opções: manter-se no Benfica, aceitar eventual desafio do Sporting ou, como fizeram outros grandes treinadores como, por exemplo, Marcelo Lippi ou Eriksson, apostar num contrato absolutamente milionário nos mercados árabe, asiático, eventualmente russo ou mesmo turco.
Ou seja: continuar a lutar por ser desportiva e pessoalmente mais feliz no próprio país, ou ir ganhar ... dinheiro!
É uma decisão fácil? Não.
Só é fácil para quem não precisa de a tomar.
E só é fácil para quem não está na circunstância de Jorge Jesus, um treinador que, infelizmente para ele, só aos 60 anos pode reclamar com inteira justiça o estatuto de grande treinador e de treinador vencedor. 
Aconteceu o mesmo, um dia, ao grande Jesualdo Ferreira.
E vejam onde ele, lamentavelmente, está.

PS: Para o FC Porto, manter Lopetegui pode ser realmente o princípio de uma nova era. Aprecio a fibra do treinador basco e tenho a convicção de que vai mostrar ter aprendido muito esta época. Para o futebol mundial, o que está a suceder na FIFA pode também traduzir-se naquele princípio de que por vezes é preciso mudar alguma coisa mas... para que tudo fique na mesma! Vêm aí as duas finais das taças portuguesas. Que sejam duas grandes finais. Porque o melhor do futebol é mesmo o jogo. E os jogadores. E a bola."

João Bonzinho, in A Bola

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