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segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Assim deixamos de acreditar no futebol


"O que se passou no minuto 90 do jogo entre o Santa Clara e o Sporting não tem justificação. É mais um exemplo do caminho preocupante que o futebol português tem vindo a seguir.

Falta de coerência
Estamos na 14.ª jornada do campeonato e jogaram-se esta semana os oitavos de final da Taça de Portugal. Está a ser criado um ruído ensurdecedor no futebol nacional por aqueles que deveriam ter a responsabilidade de fazer diferente. Os clubes grandes apontam lanças uns aos outros. Virou moda emitir comunicados a falar sobre a arbitragem dos jogos uns dos outros, mas nenhum assume quando é beneficiado. O erro faz parte do jogo. O desafio que colocou frente a frente o Farense e o Benfica é um bom exemplo. O primeiro golo do Benfica surge de um livre ridículo e muito mal assinalado. Este lance é similar ao do canto que deu origem ao golo da vitória do Sporting frente ao Santa Clara para o campeonato. Na altura, o canto deu origem a muita contestação e a um comunicado por parte do Benfica e mesmo do FC Porto. Esta semana foi o Benfica o beneficiado. Raramente vemos os clubes assumir publicamente quando são beneficiados. Não são estes erros, na sua essência, de natureza semelhante? Um dos males do futebol português é a ausência de coerência e a utilização de forças externas para desculpabilizar ou desresponsabilizar as ações de quem dirige.

Situações inexplicáveis
Se é verdade que os erros fazem parte do jogo, também é verdade que há coisas que não se conseguem explicar e que geram dúvidas, alimentam especulações e tiram credibilidade ao futebol nacional. O que se passou na última quinta-feira no Santa Clara–Sporting, para a Taça de Portugal, é inenarrável. Ao minuto 90, um lance normal dentro da área do Santa Clara transformou-se numa análise do VAR que demorou 12 minutos! Não é percetível o motivo que levou o VAR a analisar este lance. O movimento parece natural e enquadrado na disputa normal. O tempo de análise — 12 minutos — é, por si só, difícil de compreender. Há alguma justificação para isto? Fica a dúvida sobre quais os critérios aplicados neste tipo de situações. Nunca o futebol português teve tanta gente com experiência em arbitragem em cargos de destaque. Uma das promessas da nova direção da FPF e um dos seus destaques era a forma como iria gerir a arbitragem. A realidade é que a transparência não aumentou, pelo contrário.

Quem dá a cara?
Em momentos conturbados, é fundamental que os líderes apareçam e saibam comportar-se. No futebol, aqueles que têm maior dimensão acabam por ser líderes por defeito. Estou a referir-me aos presidentes dos três grandes, da FPF e da Liga. No caso da arbitragem, a Liga não pode intervir, pelo que a responsabilidade recai sobre o Conselho de Arbitragem e, em última instância, sobre a FPF. Assim sendo, em momentos de stress, quem deve dar o exemplo? Em primeiro lugar, o Conselho de Arbitragem. Há episódios em que a reação tem de ser rápida para evitar o contágio ou a especulação. O caso dos 12 minutos é um excelente exemplo. A única reação (demorada) foi de Duarte Gomes, diretor Técnico da Arbitragem, mas sem conseguir explicar por que motivo João Pinheiro (árbitro do jogo) reverteu a decisão e por que motivo a análise do VAR demorou 12 minutos. Como o clima tem estado a deteriorar-se, o presidente da FPF também deve intervir, algo que acabou por acontecer. Contudo, a única afirmação de Pedro Proença foi: «O futebol vive hoje uma grande união.»
Esta afirmação é surpreendente e faz-nos equacionar se o presidente da FPF acompanha o futebol português. Um dos slogans de Pedro Proença é «habituem-se que viemos para vencer». É importante que a FPF tenha a ambição de ganhar títulos, mas a principal motivação do presidente deveria ser fomentar a prática do desporto para formar bons seres humanos. Pedro Proença parece focado apenas em vitórias e títulos. Esquece que o papel do futebol é formar jogadores com valores, disciplina e espírito de equipa — algo que fica prejudicado quando a liderança ignora a dimensão humana do desporto. É fundamental que os jovens percebam que não há atalhos para atingir o sucesso e que o caminho é duro, mas compensador. Por estes motivos, é determinante que o presidente da FPF tenha a capacidade de ver a realidade em que vivemos. Diagnosticar os problemas e abordá-los de frente é a melhor forma de os podermos corrigir. Dizer que o futebol vive uma grande união não reflete a realidade. Pedro Proença parece ignorar os problemas que persistem.

Quem são os prejudicados
Se analisarmos os factos, todos chegamos à mesma conclusão: os pequenos são sempre os mais penalizados. O caso do Santa Clara apenas reforça o que estou a dizer. Dentro do relvado, o Santa Clara foi muito prejudicado no jogo de quinta-feira, mas fora também foi muito prejudicado por decisões de quem lidera. Basta olharmos para o calendário e compararmos. O Sporting jogou nos dias 13, 18 e vai jogar dia 23. O FC Porto jogou nos dias 15, 18 e vai jogar no dia 22. O Benfica jogou nos dias 14, 17 e vai jogar no dia 22. O Santa Clara jogou nos dias 15, 18 e vai jogar no dia 21! Este critério é difícil de compreender. Por que motivo o Santa Clara tem menos dias de descanso que os clubes grandes? Neste caso, o Santa Clara, com muito menos condições financeiras (o que implica menos opções), tem menos dias de descanso que os clubes grandes.
Em Portugal, o futebol está apenas preocupado com os clubes grandes. Se analisarmos a Taças da Liga e a Taça de Portugal percebemos que os modelos implementados acabam, na prática, por favorecer os clubes de maior dimensão, e isto contraria o espírito que deve existir no futebol. No final, os factos apontam sempre na mesma direção: os clubes pequenos são os mais prejudicados. O caso do Santa Clara é apenas mais um exemplo. Quando a liderança falha e a justiça não é percetível, perde-se a confiança. E sem confiança, deixa-se de acreditar no futebol.

A valorizar:
Vitinha (PSG)
Conciliou mais um título coletivo com o prémio de homem do jogo na final da Taça Intercontinental-2025.

A desvalorizar:
Conselho de Arbitragem
O caso do jogo entre Santa Clara e Sporting exige explicações e gera enorme preocupação e desconfiança."

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