"A pressão que está a ser feita a Vítor Bruno não tem só a ver com a vertente desportiva. Vítor Bruno é o alvo mais fácil e que permite fragilizar quem lidera o clube
Ninguém tem dúvidas de que a escolha de um treinador é um dos atos de gestão mais importantes num clube/SAD. A importância dos treinadores na estratégia de um clube desportivo está bem visível. Para os adeptos, o mais importante será sempre a bola entrar. É isto que traz a tranquilidade e estabilidade que todas as direções gostam de ter para fazer o seu trabalho. Também é verdade que cada vez mais existe uma maior exigência e escrutínio em outras áreas de gestão das SADs desportivas. Isto só acontece porque os adeptos percebem, finalmente, que uma boa gestão fora dos relvados é fundamental para potenciar os resultados desportivos, através da criação de melhores condições financeiras que propiciam melhores jogadores, melhores condições de trabalho e melhores experiências aos adeptos.
Projetos 'vs' fezadas
A gestão dos treinadores que são um dos quadros mais importantes num clube/SAD é bem demonstrativa da forma como os clubes são geridos. Claro que há exceções e existem momentos em que é necessário cortar com algo que não faz sentido. Contudo, se analisarmos os 15 clubes que permaneceram na liga portuguesa de 23/24 para 24/25 chegamos a uma conclusão estranha. O treinador que tem mais jogos seguidos no mesmo clube na primeira liga é Armando Evangelista, que contabiliza 20 jogos! Pode parecer brincadeira, mas não é. São factos. Armando Evangelista é o treinador que está há mais tempo seguido no mesmo clube em Portugal e tem apenas 20 jogos realizados na primeira liga! Por aqui percebemos que os treinadores são claramente os elos mais fracos. Também percebemos que muitos clubes contratam treinadores com base em fezadas e não em competências, caso contrário este cenário seria diferente.
A pressão sobre Vítor Bruno
O FC Porto passa por uma situação complicada. A herança financeira da anterior direção é muito complicada de gerir. Adicionalmente estão-se a cortar regalias a que um conjunto (alargado) de pessoas tinha acesso. O caminho que está a ser seguido deixa insatisfeita muita gente que estava ligada ao clube. Em termos desportivos não deve haver nenhum adepto portista que se sinta contente. Três derrotas e um empate nos últimos quatro jogos, com a agravante de uma das derrotas ter sido por números elevados frente ao rival Benfica. Durante uma época existem sempre momentos menos positivos. Aqueles que os conseguem ultrapassar com maior rapidez são os que por norma alcançam títulos.
No caso de Vítor Bruno muitos adeptos pedem a sua demissão. É natural que assim seja, até porque os adeptos têm comportamentos sentimentais. Apesar de difícil, toda esta situação pode ser ultrapassada. A chave está em quem dirige. É importante que André Villas-Boas e a sua administração conheçam as competências do seu treinador. É fundamental que percebam que o conjunto de jogadores à disposição do técnico, apesar de ter qualidade, é inexperiente e tem de crescer em competição. É determinante que a administração azul e branca saiba como e onde quer chegar. É preponderante que todos os jogadores, com azia ou sem azia, demonstrem compromisso e estejam preparados para sacrificar o eu pelo nós.
A pressão que está a ser feita a Vítor Bruno não tem só a ver com a vertente desportiva. Vítor Bruno é o alvo mais fácil e que permite fragilizar quem lidera o clube. Em cima da mesa só há três soluções possíveis: acompanhar e validar o trabalho do treinador; despedi-lo; alterar o plantel e cortar com aqueles que não têm o compromisso ideal. A realidade é que, em poucos meses, AVB tem-se deparado com várias decisões estruturais, financeiras e agora desportivas de grau de dificuldade elevado.
A escolha de João Pereira
A saída de Ruben Amorim deixou o Sporting em terreno desconhecido. O agora treinador do Manchester United tinha um conjunto de competências difíceis de encontrar. A missão de substituir Ruben Amorim seria sempre complicada e um risco. A administração verde e branca optou por escolher João Pereira, que até ao momento tem pouca experiência como técnico principal. Mesmo quem acompanhava a Liga 3 não tem capacidade para fazer uma avaliação concreta de técnico. Quero acreditar que a decisão de Frederico Varandas e da sua equipa administrativa teve por base as competências técnicas, táticas, de comunicação e de liderança do seu novo timoneiro. Reconheço que mesmo para a atual administração leonina é difícil perceber se João Pereira tem a capacidade de liderar um plantel que tinha como treinador alguém que se impunha com naturalidade e com muita personalidade. Quando as coisas estão todas a correr bem é importante desconfiar e perceber que num ápice tudo muda. A decisão da escolha de João Pereira é um risco que esta administração assumiu e pela qual será responsável.
Termino como comecei o artigo: um treinador pode fazer toda a diferença num clube/SAD. O mérito e a competência atribuída a uma administração podem rapidamente ser invertidos. Esta é a magia do futebol, onde um clube/SAD em dificuldades pode rapidamente dar a volta (e vice versa) se conseguir resultados desportivos e, como consequência, valorizar ativos que se convertem em euros. Apesar de existir muita aleatoriedade no futebol, a probabilidade de vencer e de ter sucesso aumenta quando as decisões são devidamente fundamentadas e enquadradas na realidade de cada clube e no respetivo contexto desportivo.
A valorizar: Artur Jorge
Escrevo desconhecendo o resultado da final da Libertadores. Seja qual tenha sido o desfecho final, Artur Jorge tem feito um trabalho incrível. Está a fazer sonhar o Botafogo e merece a nossa atenção e distinção.
A desvalorizar: Pep Guardiola
Os melhores treinadores e jogadores também sentem a pressão. O empate a três bolas frente ao Feyenoord demonstra bem a dificuldade que todas as equipas têm em ultrapassar as fases menos positivas."
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