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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Lamento muito, caro Félix


"A obsessão de João Félix em tomar más decisões está a destruir-lhe a carreira. Do famoso sim ao Atlético cholista em 2019, até esta aberração em forma de ok ao Chelsea, vão já cinco anos e rarefeitos coriscos de felicidade.
Lamento muito, caro João.
Não lembrava ao diabo. Rejeitado em Madrid, secundarizado por Roberto Martínez e excedente em Barcelona, o avançado – ou alguém por ele – achou ser a altura certa para voltar a Stamford Bridge e ao caótico mundo blue.
Félix tem 24 anos, deixou a infância há muito e terá já estatuto para bater o pé. O que deseja, o que não deseja, onde idealiza jogar, que ideia de jogo pretende alimentar.
Se não lhe contaram a história toda, e se o João está mal informado, dou uma pequena ajuda nas próximas linhas.
O Chelsea, o Chelsea do senhor Todd Boehly, é isto:
. de maio de 2022 até junho de 2024, o endinheirado norte-americano, que de futebol perceberá tanto como eu da milenar arte da apicultura, já despediu Thomas Tuchel, Graham Potter e Mauricio Pochettino – segue-se Enzo Maresca;
. nestes dois anos, desprovido de qualquer lógica e ainda menos bom senso, gastou 1.3 mil milhões em novos jogadores – um recorde intra e extra planetário;
. na Premier League, os londrinos vêm de um 12º e de um 6º lugares, com muitas aparições catastróficas pelo meio;
. à semelhança de um viciado em substâncias químicas, o Chelsea de Boehly sente ser boa estratégia alimentar o plantel com mais e mais jogadores – o pobre do allenatore Maresca tem 48 homens ao dispor e vem aí pelo menos mais um (João Félix, lamentavelmente). 
Numa fase em que a carreira do português - cujo talento foi justamente incensado aos quatro cantos do planeta - atravessa uma fase no mínimo duvidosa, eis que uma inspirada luminária se lembra do Chelsea. Deste Chelsea. E o bom do João vai em frente.
Lamento muito, Félix.
Nas próximas semanas, o internacional português mergulhará num surrealismo digno de Gaudi, um universo paralelo de excentricidades, milhões deitados ao lixo com desdém, pouca ordem e nenhuma estabilidade. Uma atmosfera insalubre para qualquer profissional executar a sua atividade em bom espírito.
A escolha é de João Félix, mesmo que saída da cabeça de quem o aconselha.

PS1: o gigantismo do investimento de Boehly e da Clearlake roubaram ao Chelsea a aura de clube familiar, já levemente perdida e desorientada na era-Abramovich. Os dólares americanos procuram desesperadamente o sucesso, quando é a alma e a afeição dos adeptos que lhes faltam.

PS2: João Félix. Assumo-o: foi anos a fio o meu futebolista português favorito. Divertia-me a insolência, o aparente desinteresse pelo jogo, a suavidade no toque de bola. Não sei por onde este craque tem andado, mas sei que dificilmente o encontrarei em Londres.

PS3: Félix terá certamente bons momentos, fará alguns golos, mas não percebe que o acesso à elite é impossível através deste Chelsea? O que pode um futebolista bem intencionado fazer, quando ao seu redor não há ponta de coerência? Boa sorte, João. Se eu estiver enganado, cá estarei para um Campo Pelado em forma de mea culpa e carregado de elogios."

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