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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Retomar o campeonato: as decisões quase impossíveis

"Há bons argumentos de todos os lados. Parece óbvio que a ideia é retomar o campeonato, mas como abordar um cenário tão extremo e improvável como este?
Difícil missão terá a Liga para encontrar uma solução para os campeonatos. A situação é complexa e nova, não há “jurisprudência”, e, portanto, admito que não gostaria de estar nos sapatos de quem terá que decidir. Parece começar a desenhar-se um regresso à competição dentro umas seis semanas, existem também (e bem) planos de saúde já delineados. Mas tudo pode mudar em poucos dias, e preparemo-nos para as grandes discussões. Porque, realmente, não será fácil.
Por um lado, jogos sem adeptos podem não fazer grande sentido - como Guardiola, por exemplo, até já apontou. Mas, por outro lado, parece previsível que será impensável promover eventos com grandes aglomerados de pessoas nos próximos tempos, e aí torna-se impossível abrir os estádios… por uma questão de saúde. E os clubes vão jogar no seu estádio? Ou concentram-se nos mesmos estádios? E desportivamente, que impacto é que isso terá? Um jogo com público é o mesmo que um jogo sem público? Filosoficamente, vale a pena promover um espectáculo desportivo sem gente a assistir ao vivo? Tudo pontos pertinentes, sim.
Ao mesmo tempo, a questão financeira. Imagino que os vários agentes envolvidos - clubes, empresas patrocinadoras, detentores de direitos de transmissão, e por aí fora - tenham todos os motivos económicos para quererem um regresso das provas, «dê por onde der», porque sem jogos não há receitas, e sem receitas não há coisa nenhuma. Mas, mais uma vez, o outro lado existe: será válido colocar os futebolistas - para todos os efeitos, trabalhadores e cidadãos como todos - no meio desse eventual risco? Principalmente quando sabemos que há casos assintomáticos invisíveis, etc?
Um jogo pode colocar dezenas de profissionais em risco. Que, por sua vez, podem vir a colocar dezenas de pessoas em risco. É verdade que isto está previsto pelos médicos dos clubes. Mas… e se houver um falso negativo? Um assintomático? Repito: difícil decidir, claro.
A vertente desportiva. Por aí não vale a pena entrar, já percebemos que haverá uma divisão insanável entre os que querem que o campeonato acabe agora (os clubes que estão dentro dos objectivos, entre título, Europa e descida), e os que vão querer que se jogue o mais possível (os clubes que não estão dentro dos objectivos, entre título, Europa e descida). E esta discussão será interminável, com argumentos e pareceres de ambos os lados. E, também por aí, se percebe a dificuldade das próximas semanas.
Ou seja, isto até pode parecer um artigo sobre coisa nenhuma, sobre tudo o que é possível e o seu contrário. Reconheço-o. Porque eu, pessoalmente, não consigo chegar a conclusão nenhuma. Acho que há pontos válidos de todos os lados, e daí seja tão difícil resolver isto. Dentro de algumas semanas, teremos seguramente muitas opiniões sobre a decisão tomada e sobre a forma como o campeonato será jogado (ou não) até ao final. Mas, sejamos justos: é mesmo difícil resolver isto."

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