Últimas indefectivações

segunda-feira, 23 de março de 2020

Semana 2 - Alberto

"Nestes dolorosos e dramáticos tempos, o futebol, e o seu específico mundo e a sua relevante indústria, tem de ceder à solidariedade

1. Estamos em emergência. O Estado e nós todos. Com o Presidente Marcelo a declarar, o Governo a concordar e a Assembleia da República esmagadoramente autorizar este estado de emergência. E percebendo todos que importa que toda a classe política, nacional e europeia, entenda, rapidamente, que os tempos que vivemos são momentos para sobreviver e não instantes para reflectir em excesso. Diria, mesmo, que há conceitos que vão ver varridos do que quotidiano como o défice, as contas certas, até, certo tipo de direitos adquiridos. O estado de emergência pode levar a diferentes estados de necessidades e, estes, vão derrubar muitas certezas que julgávamos certas! E, nesta mudança emergente, também vai entrar o desporto, mesmo que alguns, numa consciência que incomoda, o julguem relativamente imune às drásticas e dramáticas consequências que esta paragem bruta da economia vai desencadear. Mas a essência é a vida vivida. E esta exige que o Joaquim e o Eduardo, os José(s) e o Vítor, a Benedita e a Isabel, a Nádia e a Helena, continuem a ser, ainda mais, os nossos heróis e as nossas heroínas, com médicos e médicas que se entregam, com intensa alma e um imenso coração, à sua missão de curar doentes e salvar vidas. Como importar ler - a reler! - as lúcidas e sabias palavras do Doutor Adalberto Campos Fernandes ontem no Expresso! Mas cada um de nós, que é um ser que se não repete, tem de continuar a sorrir e a abraçar, a trabalhar e a conversar, a falar e a tropeçar, a amar e a dar-se. Sem que deixemos de tropeçar nas incertezas que o mundo suscita. A única certeza que tenho é que não tenho certeza alguma! Como se a Natureza não nos julgasse e nos lembrasse, e bem, e nestes complexos momentos, e lendo Lamberto Maffei - no seu Elogio da Lentidão - que «não conseguimos voar ou correr na savana ou morar profundezas do mar, traços peculiares de outros animais». Moramos aqui, com este vírus em coroa, com esta economia em crise e com este medo que nos assusta. Mas sem capitularmos, já que a esperança convive com a confiança, a solidariedade com a responsabilidade, a compaixão com a motivação. Como as canções que saem e escoam das varandas ou as múltiplas partilhas que aproximam amigos e vizinhos, avós e netos, pais e filhos. Tudo em coroa, mesmo, contra o vírus!

2. A FIFA e a UEFA suspenderam as suas competições. E bem. Não há nem condições objectivas nem subjectivas - aqui, e por excelência, para a devida protecção todos os actores desportivos, maxime dos praticantes - para a continuidade de campeonatos, ligas, torneios, exibições, manifestações desportivas. E também as apostas pararam e as audiências televisivas no que respeita à informação dispararam, mas sem que haja, com dramas certos, publicidade que os acompanhe! Entretanto, e com uma normalidade que assusta, a tocha olímpica chegou a Tóquio, o que levou uma pausa nipónica - a presença de centenas de populares que aguardavam a passagem deste símbolo olímpico - no necessário e permanente combate ao Covid-19! Mas o que se sente e pressente é que alguns querem estes jogos na data prevista e muitos desejam - já que o mundo dos atletas está de pernas para o ar - o seu adiamento. Com a consciência que não haverá condições justas - justas! - para a qualificação final dos cerca de cinquenta por centro de atletas que legitimamente procuram o acesso, por indiscutível mérito desportivo, a uma das provas mais emblemáticas de cada percurso desportivo. A pandemia põe em causa o principio da igualdade da preparação e, logo, põe em causa o indispensável mérito desportivo. Uma das essências de uma Olimpíada. A que acresce agora de uns Jogos Paralímpicos!

3. Nestes dolorosos e dramáticos tempos o futebol, e o seu específico mundo e a sua relevante indústria, tem de ceder lugar à solidariedade. Como bem assumem a FPF e a Liga Portugal! O que importa é salvar vias, proteger bens e salvaguardar empresas. Agora o que importa é a Vida - Vida Vivida - e nada interessa acerca de cores clubísticas, ponderações de classificações ou perturbações de afirmações. O futebol e todas as outras modalidades sabem bem que os tempos do futuro próximo exigirão reflexões profundas, ajustamentos sérios e, até, outros comportamentos. O que vale é, mesmo, a palavra solidariedade e, aqui, o Benfica - honrando a sua história! - merece um vivo e sentido aplauso pela doação - em articulação com as Câmaras e a Universidade de Lisboa - de um milhão de euros para a compra de equipamento destinado ao SNS! Sim, para este extraordinário Serviço Nacional de Saúde! Como, em outro e idêntico prisma, o empresário Vítor Magalhães, também Presidente do Moreirense, ou o Sporting de Braga - entre outros clubes e SAD's - em simulares doações, e, em particular, de indispensáveis ventiladores. O futebol sabe ser solidário. E o Presidente Fernando Medina não deixou de dizer que «é uma atitude muito importante do Benfica para todo o País e para toda a comunidade». Haja, aqui, verdadeiro contágio!

4. (...)"

Fernando Seara, in A Bola

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