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segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

A estupidez de um sorteio

"Custa, às vezes, querer ser inovador, querer melhorar e não saber como. É fácil compreender o impulso de alguns dirigentes para tentar “reinventar a roda”, redescobrir a melhor maneira de deixar a sua marca no futebol, mas tal vontade não pode ser cega, nem pode vingar sem o mínimo de ponderação.
Nesta altura poucos serão os adeptos a defender a UEFA ou a FIFA, instituições conhecidas por serem injustificadamente milionárias, associadas vezes demais a escândalos de corrupção e por interferirem em um pouco em tudo, desde premiações individuais até legislação dos próprios países soberanos que recebem as suas provas internacionais.
Chegámos, no entanto, a mais um dos casos bizarros, que não achávamos possível.
O recente sorteio para a fase de grupos do Euro 2020 veio confirmar o pior cenário que se podia adivinhar, depois de se perceberem as novas regras. A UEFA decidiu mexer na forma de atribuição dos potes e portanto nas selecções que se poderiam encontrar na primeira fase da competição. 
Tradicionalmente o critério mais relevante era o ranking da FIFA, que calcula a prestação desportiva das selecções e garante uma avaliação da sua performance estável e representativa.
Este critério assegurava que as selecções mais fortes raramente se encontravam na fase de grupos, guardando para os encontros mais decisivos as melhores selecções. Com a atribuição de lugares no primeiro pote a selecções que se qualificaram em primeiro do seu respectivo grupo, mesmo que com lugares inferiores do ranking FIFA, privilegiou-se apenas um ou dois jogos, em detrimento da estabilidade de anos e anos de competição. Assim, Portugal (7.º do ranking FIFA) foi atirado para o pote 3, enquanto Polónia (19.º), Ucrânia (24.º) e Rússia (38.º) ficaram no pote 1 e 2. A derrota de Portugal num dos jogos de qualificação frente à Ucrânia valeu mais, para este efeito, do que dezenas e dezenas de jogos a alto nível durante os últimos anos.
Desta forma, teremos no mesmo grupo as últimas três selecções a vencerem grandes torneios internacionais: Alemanha (campeã do Mundo em 2014), Portugal (campeão da Europa em 2016) e França (campeã do Mundo em 2018). Um destes candidatos à vitória final ficará em maus lençóis e poderá nem passar a fase de grupos. Qualquer um dos jogos entre estas três equipas poderia ser uma final da competição. Esses jogos irão agora acontecer na primeira fase, com menos impacto, sem que impliquem a eliminação automática de quem perder e com um empate a não parecer um resultado tão mau, dadas as circunstâncias.
Sem grande sentido, criou-se este desastre, mas que teve também impacto noutras equipas. A Bélgica já sabia o grupo em que iria calhar antes sequer do sorteio sequer acontecer.
A combinação de potes, as tensões políticas entre a Rússia e a Ucrânia e a obrigatoriedade das nações anfitriãs jogaram em casa fez com que os belgas soubessem já à partida que calhariam sempre com Rússia e Dinamarca. De Bruyne afirmou mesmo que com estas regras se trataria de um sorteio que tornaria o Euro 2020 numa “competição falsa”. Falsa e com uma estupidez de sorteio, acrescentaria eu."

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