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domingo, 10 de junho de 2018

Sabe quem é? A água seja e o café - Valdo

"A lâmina na luva, o sangue de chileno e a trapaça; A reza de Eusébio, a areia na campa de Guttmann e o apito fatal

1. Para se apurar para o Campeonato do Mundo, o Chile tinha de ganhar no Maracanã. Estava a perder, um foguete voou das bancadas para o relvado. Por entre o fumo e a confusão, o árbitro abeirou-se de Rojas e viu-lhe o rosto em sangue, arrepiante. Os chilenos recusaram continuar o jogo, crendo que assim a FIFA lhes daria a vitória. Não deu porque se descobriu que Rojas, o seu guarda-redes, simulara tudo: o corte na testa ele próprio o causara com lâmina de barbear que escondera na luva, o arremesso do foguete combinar-o com mulher que conhecia de São Paulo - e, ao Mundial de 90, foi ele que pelo Benfica jogava.

2. Em Itália desfez-se-lhe o «sonho da Copa» na derrota em jogo marcado pela trapaça que Maradona revelou: que os argentinos levaram água contaminada com tranquilizantes que foram tentando que os brasileiros bebessem. Bebeu-a Branco, o pé de canhão do FC Porto, que, assim, de um instante para o outro passou a arrastar-se, sonolento, pelo campo.

3. A ele, Maradona não o tratava pelo com que rasgava a história, tratava-o por Baldo - e também o revelou: «o mais que queríamos era que a água fosse bebida pelo Baldo». Não a bebeu, a razão desvendou-a, deliciado: «O massagista argentino procurou várias vezes que recebesse a água baptizada, não recebi porque tinha a mania: nunca beber água durante os jogos. Era erro, mas não bebia. Meu negócio era tomar cafezinho no intervalo e estava tudo certo assim...»

4. Essa não era a primeira vez que jogava no Campeonato do Mundo. A caminho dos 20 anos, o Grémio fora buscá-lo ao Figueirense - e em 1986 Telê Santana abriu-lhe o escrete, não deixou de o levar ao México a par de Zico, Sócrates, Júnior, Falcão, Careca.

5. Em finais de 1987, entrando de férias após jogo do Brasil com a Alemanha, sucedeu o que ele contou: «Manuel Barbosa, com a sua lábia, disse para ir a Lisboa só conhecer o seu clube. Quando sai do aeroporto, caramba... Um montão de jornalistas lá! Tiram-me fotos com a águia e tudo, imaginam só voltei para Porto Alegre».

6. Apesar do frenesim na Portela, continuou mais alguns meses no Grémio. No seu primeiro jogo em Portugal, empatou 2-2 em Espinho. logo se foi embora - para os Jogos Olímpicos. Perdeu, por isso várias jornadas do campeonato de 1988/89 que o Benfica ganhou, mas voltou de Seul com a medalha de prata.

7. Nessa época em que foi campeão com Toni, perdeu a Supertaça para o Belenenses - e brincou: «Essa derrota custou-me um bocadinho porque tinha o Baidek pela frente e perder com o Baidek é brincadeira, né...» Já a sério, admitiu que o ter sido expulso por discutir com Alder Dante bem mais lhe custara - «pelo que isso custou ao Benfica», a inesperada derrota...

8. Foi ele que marcou o canto que levou a que Vata pussese a bola na baliza do Marselha e o Benfica na final de Viena. Benard Tapie praguejou e ofendeu - Ricardo Gomes galhofou: «O golo foi com a mão? Até podia ter sido com a bunda da Roberta Close!».

9. A final dessa Taça dos Campeões foi contra o AC Milan. Eusébio correu à campa de Guttmann a rezar, adepto em fervor com a sua maldição e despejou por lá punhado de terra. Nada resultou - e ele perdeu, assim, 4000 contos de prémio. «Eles tinham grande equipa... Gullit, Van Basten, Rijkaard, Maldini, Baresi... Nós também, mas eles... Jogámos de igual para igual, mas o Hernâni ouviu um apito da bancada, hesitou, parou, Rijkaard furou, marcou».

10. O seu encanto levou a que a Fiorentina o desafiasse com 10 mil contos por mês só de ordenado. O Benfica cortou as vazas ao negócio. Insinuou-se que, zangado, inventara lesão para não jogar, trataram-no como grevista - e nada era verdade. Voltou a ser decisivo no título de 90/91 e então sim saiu - para o PSG. Ao Benfica regressou em 1995/96. Do Benfica foi, com mais uma Taça, para o Nagoya Grampus. No Japão esteve até 1998 - ao Brasil voltou depois de acidente de carro lhe matar a filha. Foi para o Cruzeiro, passou pelo Santos e pelo Atlético Mineiro. Deixou de jogar em 2004. Tinha 40 anos e fora através do seu génio que o Botafogo voltara à I Divisão e continuavam a juntar-lhe ao nome, o cognome que não enganava: O Mágico..."

António Simões, in A Bola

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