Últimas indefectivações

domingo, 31 de dezembro de 2017

2018: doze desejos

"Mas não esquecemos todos os este ano de 2017 e, em particular, o drama dos incêndios que nos perturbou como cidadãos.

Esta noite recomeça uma nova contagem. Pelo menos para nós. Não para a civilização maia, os judeus, os chineses e para outros milhões de habitantes deste mundo. Na verdade esta contagem é uma invenção da Roma Imperial e aceite pela Roma do Vaticano. Amanhã é o primeiro dos dias e desejamos que seja alegre. Daremos, assim, as boas vindas a um Novo Ano em que, por exemplo, o Dia das Mentiras coincide, pela primeira vez em sessenta e dois anos, com o Domingo de Páscoa. Mas não esquecemos todos este ano de 2017 e, em particular, o drama dos incêndios que nos perturbou como cidadãos e nos mobilizou como homens e mulheres concretos. E sentindo a dor de tantos e tantas que viram, num ápice, alguns dos seus entes queridos partir sem que tivessem sequer tempo para lhes dizer adeus!
Mas situemos, hoje, neste último dia do ano, e cumprimentando Fernando Gomes pela justa distinção que este jornal lhe concedeu, os doze desejos desportivos que irão acompanhar cada uma das deliciosas doze passas que, com prazer, degustaremos na transição de ano.

1. Desejamos que o futebol português consiga uma trégua de paz e que se mobilize, mesmo que num mínimo denominador comum, para a salvaguarda de uma indústria que não pode ser competitiva apenas ao nível da nossa principal selecção. É impossível que o mundo do desporto assuma que a competição é uma exigência e é uma relação, mesmo que com grupos específicos, e não uma exibição de ruptura, de marginalização e de permanente e exacerbada conflitualidade.

2. Desejamos que a selecção de todos nós consiga realizar um Mundial da Rússia vitorioso e que dois anos depois da conquista do Europeu nos protagonize uma nova noite de colectivo regozijo e de imensa auto estima. Sabendo bem que há emoções que se podem repetir e convicções que importa recordar.

3. Desejamos que as equipas portuguesas de clubes participantes nas duas competições europeias de clubes cheguem o mais longe possível e que conquistem o maior número de vitórias de forma a que Portugal suba no ranking da UEFA o que permitiria (permitirá), a curto prazo, o regresso de uma entrada directa de duas equipas portuguesas na fase de grupos da Liga dos Campeões.

4. Desejamos que os Jogos Olímpicos - e Paralímpicos - de Inverno proporcionem grandes espectáculos e que a mancha do doping não perturbe o êxito de um evento que conquista, a cada quatro anos, cada vez mais seguidores e apaixonados. Sabendo nós que estes desportos de Inverno são bem atractivos e já juntam, em determinadas modalidades, avós, pais e netos. Famílias!

5. Desejamos que já na segunda metade deste ano de 2018 os Jogos Olímpicos da Juventude, que decorrerão em Buenos Aires, evidenciem, uma vez mais, a força e o empenho de novas gerações na prática desportiva e na convicção que o desporto é um espaço de confraternização e um efectivo meio de promoção. Humana e também cívica. 

6. Desejamos que os Jogos de diferentes comunidades - como os Jogos da Comunidade Britânica ou os Centro-Americanos - mostrem a força dos respectivos espaços desportivos que ou a língua comum uniu ou a necessidade territorial de afirmação suscitou e promoveu e tendo a convicção que importa assumir os Jogos desportivos da nossa CPLP como uma exigência contínua e uma assumida urgência. Até para que a Comunidade de Língua Portuguesa seja interiorizada e não, apenas, e de vez em quando, simbólica ou diplomaticamente proclamada.

7. Desejamos que os diferentes Mundiais e Europeus de diferentes modalidades - masculinos e femininos, ao ar livre ou em pavilhões - mostrem a evolução dessas modalidades e evidenciem a qualidade crescente dos nossos e nossas atletas e das nossas diferentes selecções. O que significa que o significativo dinheiro público canalizado para o desporto é bem aproveitado quer no alto nível competitivo quer, igualmente, na promoção de jovens talentos. E tendo consciência que só a quantidade permite a verdadeira qualidade.

8. Desejamos que os praticantes desportivos, principalmente os de alta competição, interiorizem que para além da natural ambição de vitória está, sim, a vitória do exemplo, ou seja, a convicção de que aliado ao interesse legítimo de ganhar está a necessidade de exemplo para todos ou outros jovens que com eles se identificam e as assumam como ídolos, símbolos e referências.

9. Desejamos, igualmente, que os treinadores sejam modelos de aprendizagem e padrões de contínua competência e deixem, em certos casos, de ser vilipendiados homens - e mulheres - que são indiscutível instrumento de conhecimento desportivo e já demonstraram que são guias de certos processos e enriquecimento técnico e humano.

10. Desejamos, ainda, que todos os agentes desportivos - e em especial dirigentes e já agora os novos comentadores - acreditem, por uma vez, que o desporto é uma escola de convívio, uma forma civilizada de confrontação individual e colectiva e um indispensável vector de fraternidade planetária. E nestes tempos de paz - e amanhã é Dia da Paz! - e não um contínuo fósforo de guerras. Por que é exigível uma efectiva responsabilidade colectiva, mesmo para aqueles que entendem - só para certas coisas... - que o desporto é do mundo do privado. Mas para estes relembro uma mensagem intemporal do nosso Padre António Vieira: «O antigo já foi moderno, de que o moderno há de ser antigo; só há o verdadeiro fora do tempo»! Fora do tempo e para alguns fora deste jogo!!!

11. Agora um desejo pessoal: Desejo que o meu Benfica conquiste o ambicionado penta! Encarando cada jogo como uma final. E sendo a primeira já na próxima quarta feira frente a um competente, organizado e motivado Sporting. Sentindo, uma vez mais, o inferno da Luz!

12. Por último um desejo que acredito é partilhado por larguíssima maioria dos meus queridos(as) leitor(as). Desejo que o Professor Marcelo Rebelo de Sousa continue a ser o maior denominador comum da nossa República. O seu afecto é contagiante. A sua proximidade estimulante. O seu sentir solidário arrepiante. Como vimos no Natal e como veremos este dia e esta noite. Em que pode haver contagem de um novo Ano. Mas em que há, por excelência, e da sua parte, como ao longo de 2017, inteligência prática, imenso coração e total dedicação. Bem haja! Feliz 2018."

Fernando Seara, in A Bola

1 comentário:

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!