Últimas indefectivações

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Túneis

"Lamentável mas infelizmente nada inédito o que se passou no túnel do Estádio de Alvalade.

Em Portugal, a malta realmente não se dá lá muito bem com os túneis. É uma relação quase sempre polémica, controversa, muito agitada e até acidentada. Foi assim com o túnel do Marquês, em Lisboa, lembram-se?, foi assim com o túnel do Marão, oh lá se foi... e é assim até com o túnel do Grilo, onde frequentemente a malta se envolve em incidentes. E é assim com os túneis do futebol. Túneis, na verdade, não é com a gente. Fazem-nos mal ao ego!
Por estes dias, um dos túneis do Estádio de Alvalade tornou-se fortíssimo concorrente das mais seguidas telenovelas portuguesas, e não sei mesmo se as audiências do espectáculo do túnel não foram as maiores da semana.
A polémica a que assistimos em torno da novela do túnel de Alvalade, perfeitamente comparável À dos túneis do Marquês e do Marão, por exemplo, ultrapassou, porém, a decência de uma mera discussão mais intensa, e mostrou um bocadinho aquele lado menos aceitável da natureza humana, que tem a ver com a agressividade física e intencional a que alguns, infelizmente, ainda se dedicam, quando, pelos vistos, não conseguem manter (pelas mais diversas razões) sensatas e civilizadas conversas.
Mesmo que fossem conversas da treta.
Não é aliás muito difícil reconhecer que é sempre preferível uma boa discussão a qualquer triste episódio como o que se viu no túnel de Alvalade.

Novelas nos túneis, caro leitor, é mesmo coisa que daria pano para mangas no que diz respeito ao futebol. A grande diferença não é o que lá se continua a passar; a grande diferença é que hoje vemos o que lá se passa. Durante décadas não foi assim.
E se hoje ainda se passa o que se passa nos túneis do futebol quando todos podemos vê-lo pelas imagens das abençoadas câmaras de vigilância, imagine-se o que se foi passando nos famigerados túneis no tempo em que ninguém podia ver o que se passava.

Genericamente, e ainda antes de se apurarem as exactas responsabilidades no sucedido - o que não será exactamente uma tarefa simples... - só há um maneira de olhar para o que se passou no túnel de Alvalade: com condenação e tristeza.
Primeiro, nenhum dos protagonistas ficaria nada bem no filme fosse em que circunstância fosse, e muito menos, está bom de ver, por se tratarem de quem se trata: dois presidentes do clubes desportivos.
Segundo, e pelo que é possível concluir das imagens, se é verdade que a iniciativa do conflito, e portanto o tom de maior agressividade, parece realmente ter partido do presidente do Arouca, não é menos verdade que a misteriosa resposta do presidente do Sporting não pode deixar de merecer também condenação. Além disso, e por muito que as versões oficiais o desmintam, aquilo teve todo o ar de... ajuste de contas!
Já sei que nem sempre o que parece, é. Mas é o que parece!
Ou não é?!

Foram quatro os momentos particularmente perturbantes do que foi possível ver nesta verdadeira telenovela em que se transformou o incidente do túnel de Alvalade:
- a forma, realmente, agressiva e condenável como o presidente do Arouca, já de dedo em riste e certamente empolgado no tom de voz... se dirige ao presidente do Sporting;
- o acto de de cuspir do presidente do Sporting para a cara do presidente do Arouca, tenha sido vapor de cigarro electrónico... ou vapor de cigarro electrónico com perdigotos... ou perdigotos sem vapor... ou seja o que tenha sido...;
- O modo muito inconveniente para não dizer mesmo inaceitável - como um solícito, e muito empenhado, assistente em funções no estádio agarra o presidente do Arouca, prendendo energicamente o homem, é o termo, provocando-lhe o aumento da fúria...;
- e, por fim, mas não menos perturbante, a inqualificável atitude de um dos delegados da Liga, que parecendo assistir ao deflagrar do conflito (como se observa pelas imagens divulgadas...) em vez de acudir, resolveu entrar e esconder-se numa sala à sua esquerda, supostamente a sala do controlo anti-doping, de onde, entretanto, acabou por sair outro delegado da Liga, esse sim, imediatamente decidido a intervir na zona do disparatado incidente.

Depois do túnel do Marquês, do Marão e até do Grilo, depois do túnel do velhinho Estádio das Antas e do mais recente túnel da Luz, é agora a vez do túnel de Alvalade marcar presença no mapa dos agitados túneis deste país. Lamentável, mas infelizmente, como se sabe, nada inédito o que lá se passou no final do Sporting-Arouca.
A malta, realmente, tem azar aos túneis. É o que é!"

João Bonzinho, in A Bola

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