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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A interminável viagem de 'uma valorosa automobilista nortenha'

"Era 1950 e o emblema do Benfica ostentava-se altaneiro no seu Lancia triunfante, numa época em que poucas mulheres guiavam.

Na madrugada de 18 de Maio de 1950, em 12 cidades europeias, deu-se o sinal de partida para o 4.º Rally Internacional de Lisboa e entre os concorrentes estava a benfiquista D. Laura de Magalhães, 'o que, convenhamos, não é caso vulgar'. Foi a única a sair do Porto, pronta a cumprir o desafio que lhe avizinhava, apesar de só ter a carta há um ano e meio: três noites e dois dias, 3000 Km e 60 horas consecutivas de condução. Sempre acompanhada pela sua mãe (que não sabia conduzir), guiou até ficar com as mãos calejadas, parando várias vezes para beber café, não tanto pelo sono mas pelo cansaço de 'tanto fixar as estradas, horas e horas a fio...'.
À medida que percorria as  estradas lisboetas, ladeadas por bastante público, D. Laura foi alvo de grandes ovações. Tinha sido a única portuguesa a concluir o percurso! Todavia, esta aventura não terminava por aqui. Apesar de tanto os carros como os condutores mostrarem sinais desta extenuante prova, ainda faltavam a de velocidade até ao Estoril e, no dia seguinte, 21 de Maio, as complementares. A atleta 'tornou a comportar-se muito bem', mas a vitória em senhoras foi para Joy Cook, inglesa.

Na cerimónia de entrega dos prémios, no Casino do Estoril, D. Laura envergava um vestido negro e 'duas lágrimas a bailar nos cantos dos olhos', não por ter ficado em segundo mas por uma questão de justiça: o Ford da inglesa perdera a chapa que a credenciava como concorrente do concurso e, de acordo com o regulamento, isso implicava a sua desclassificação. Mas a sua reclamação, entregue nessa manhã, tinha sido devolvida por já ter sido ultrapassado o prazo... O desalento era total!
Chegara a hora da entrega do troféu de senhoras e uma voz anuncia: '-Primeira classificada: - D. Laura Pinto de Magalhães'! Tinha-se confirmado a infracção e todos acorreram a felicitá-la. Estava radiante, mas fez questão de frisar: '- Mas não julgue que se trata de um caso de vaidade... Trata-se sim de uma questão de brio, tanto mais que eu tinha de dar uma satisfação ao Porto e ao Benfica... Esta foi a primeira prova em que tomei parte depois de ter ingressado no Benfica. De aí a minha maior satisfação'.

Pode conhecer outras vitórias de automobilismo na área 4. Momentos Únicos, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Lídia Jorge, in O Benfica

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