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domingo, 22 de maio de 2016

Seis gostos

"Vivemos, dizem, num tempo de excesso de informação. E num tempo em que muito do que é privado se torna público e em que o que é público pode ser, em certas circunstâncias, privado. A saúde pode ser privada com ditos contratos de associação que não podem ser perturbados em razão da cotação bolsista de algumas das entidades gestoras que adquiriram empresas que celebraram contratos com entidades públicas. Mas a educação tem de ser, parece, quase que exclusivamente pública. Os contratos celebrados são de pequenas empresas portuguesas, detidas por cidadãos portugueses. Mas este é o tempo do gosto. Nas redes sociais é a palavra do momento. Do instante. Gosto e não gosto. São tempos novos. É que aprendemos que quase já não há contos de Natal. Só há, de verdade, descontos de Natal. E no desporto o tempo que vivemos é, também, o tempo do gosto. Permitam-me, hoje, seis notas de gosto.
1. Gostei da festa da Taça da Liga (Taça CTT) em Coimbra. Boa organização da Liga. Merecendo Pedro Proença e a sua equipa uma palavra de reconhecimento. Ambiente extraordinário com muitas e muitas Famílias. Avós e netos juntos. E mais uma vez um imenso e intenso fervor benfiquista. E a conquista da sétima Taça desta competição é um marco e a bonita Taça lá estará no cada vez mais enriquecido Museu Cosme Damião. Uma vitória, mais uma, com mérito mas com a consciência que o resultado bem desnivelado foi injusto para o Marítimo de Nelo Vingada. O que fica é que o Benfica juntou o tricampeonato à Taça da Liga. Que é o que fica, como todos sabemos, para a história do futebol português. Onde não entram as construções, sempre subjetivas, e que levam muitos a um não gosto, acerca do «melhor futebol» da época...
2. Gosto, e muito, que as entidades públicas competentes actuem nos jogos comprados e na viciação de resultados. Que nos mostram que as apostas desportivas são realidades sem fronteiras neste mundo bem caótico! Mas a viciação vai de alguns dos nossos relvados ao doping em diferentes situações. Como no ciclismo. E acredito que haverá violentas consequências desportivas. As imagens que correm mundo acerca de alguns momentos de jogos em relvados portugueses não são um bom cartão de visita... para o nosso desporto. E, logo, em ano olímpico!
3. Gostei das lágrimas e das palavras de Nico Gaitán. Quando chegou ao Benfica era o Gaitán. Vai sair como Nico. E vamos ter saudades do Nico. Mas não vamos esquecer o Gaitán. Das suas assistências. Dos seus centros. Dos seus cantos teleguiados. Da sua magia em segundos e em poucos metros. Das suas obras de arte. Da sua entrega e da sua dedicação. Da liderança assumida e da braçadeira de capitão orgulhosamente exibida. E como Nico vai um tempo da história do Benfica. Com êxitos vários e com poucos fracassos. Alguns com muita dor. Com múltiplos momentos de alegria e alguns instantes de verdadeira dificuldade. De aceitação e de compreensão! Mas vai o sentimento português traduzido numa expressão singular: Bem hajas! Muito obrigado por tudo. E um abraço do tamanho do mundo. Um abraço apertado ao Nico. Com a certeza que o Nico Gaitán não será esquecido na Luz e no Seixal. Aqui como exemplo de um talento que, no momento da despedida, deixa cair, com toda a simplicidade, as lágrimas de uma saudade já sentida!
4. Gosto que a final da Taça de Portugal se realize, uma vez mais, no Estádio Nacional, paredes meias com a magnífica Cidade do futebol. O que determina uma palavra de especial saudação ao Dr. Fernando Gomes e a toda a sua equipa. É a primeira vez que a final da Taça de todos se realiza ali bem próximo da Cidade que vai acolher, a partir de amanhã, o conjunto dos seleccionados por Fernando Santos para o Europeu de França. O Estádio Nacional é o espaço de todos. E a final da Taça um momento único da fraternidade que o nosso futebol proporciona. Antes do jogo há o tempo do encontro num espaço único. No espaço do Jamor. Ali é o Portugal profundo que se sente. E ao que parece já com sardinhas assadas a saírem das nossas lotas. Mais as febras. E a Sagres! E o verde tinto! Mas com o cabrito a dominar algumas merendas. E se for com um arroz de Braga embebido com o molho do cabrito e regado com um Douro que o Porto, e a sua foz, cada vez mais levam a todo o mundo, melhor será o pré jogo. Bem regado como a relva antes do merecido apito inicial do Artur Soares Dias. E como gosto destes momentos que mostram a nossa singularidade! Com a nossa gastronomia única, verdadeiro património comum de Portugal.
5. Gosto que o Presidente da República marque presença nesta final. Presidente próximo e Presidente de afectos. Presidente entusiasta e Presidente generoso. Presidente que irradia esperança mas não esquece as dificuldades. Presidente com convicções e que gera confiança. Presidente que gosta de futebol e conhece a sua história e muitas das suas estórias. E esta final para o cidadão e para Professor Marcelo Rebelo de Sousa será um momento de recordação. Há precisamente cinquenta anos - a 22 de maio de 1966 - neste espaço do Jamor, com o cachecol do Braga, assistiu à vitória do clube do seu coração sobre o Vitória de Setúbal então liderado, e bem, por Fernando Vaz .O argentino Miguel Perrichon marcou o golo da vitória e foi determinante para a conquista da única Taça de Portugal do Sporting de Braga. No final do jogo desta tarde o nosso Presidente da República entregará com gosto e com o seu habitual sorriso, a Taça de Portugal ao vencedor de um encontro que, uma vez mais, encherá as bancadas do Estádio Nacional. Na certeza de que será a primeira de muitas presenças do Professor Marcelo Rebelo de Sousa em finais da Taça de Portugal. Que não deixará, estou firmemente convicto, de proximamente se envolver numa final feminina. Para gosto de muitos e muitas! Muitas mesmo!
6. Gostei da nossa conquista do Europeu de futebol de sub 17. A nossa formação está de parabéns. Os nossos clubes merecem um profundo reconhecimento. A Federação e a sua estrutura uma palavra de gratidão. Hélio Sousa merece um forte abraço. Voltámos à liderança do futebol jovem na Europa. Agora é o Europeu de França. Bem mais perto em tempos de distância do que este Europeu do nosso novo contentamento. Gostei mesmo! Gostámos todos!"

Fernando Seara, in A Bola

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