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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Dimensão europeia do Benfica: possibilidade ou utopia?

"Luís Filipe Vieira. Presidente do Sport Lisboa e Benfica desde 2003. Há praticamente 17 anos no cargo, Vieira conseguiu retirar o Benfica do abismo em que se encontrava, melhorando significativamente o clube em termos financeiros e a nível de infraestruturas, com a academia do Seixal à cabeça. A nível desportivo, recuperou a competitividade no futebol português e conseguiu, até, conquistar a hegemonia nacional, nos últimos anos.
A nível europeu a história é completamente diferente. Em 2003, o recém-eleito presidente encarnado afirmou que o Benfica tinha a espinha dorsal de um futuro campeão europeu. Em 2005, subiu de tom e previu um Benfica a integrar a elite a nível europeu e mundial até 2011. Em 2013, demonstrou a ambição de disputar a final da Liga dos Campeões, que nessa época foi disputada no Estádio da Luz. Recentemente, a ambição europeia e a conquista do estatuto europeu têm sido, cada vez mais, as “bandeiras” do discurso do dirigente encarnado.
Comparando as promessas aos resultados factuais, a ideia do ADN europeu do Benfica parece completamente fora da realidade. Na era Luís Filipe Vieira, o Benfica tem 40 derrotas em 88 jogos da Liga dos Campeões. Nos últimos 14 jogos o registo é ainda pior: duas vitórias (ambas frente ao AEK) e um empate. Estes números estão muito longe de ser números próprios de um clube de elite na Europa.
Mas, afinal, quem é o culpado pelas elevadas exigências dos adeptos encarnados a nível europeu? Luís Filipe Vieira. E quem é o responsável pelo falhanço do projecto europeu? Luís Filipe Vieira…. Parece algo contraproducente que a figura que promete e promove a ideia de um Benfica europeu, seja a mesma que dificulta (a já por si muito difícil) chegada à elite europeia. Mas a verdade é que as promessas do presidente das “águias” não parecem ser nada mais do que uma declaração de poder e de ambição, mas que não vai ao encontro das decisões de gestão desportiva do clube.
A gestão desportiva do presidente encarnado tem sido algo contraditória. A academia do Seixal, a grande jóia do Benfica, tem produzido atletas de qualidade em grandíssima quantidade e não parece estar a perder gás. A aposta na formação é a outra grande “bandeira” da direcção encarnada, e aparece muitas vezes associada à tal ambição europeia, sendo a potencial espinha dorsal dum Benfica campeão europeu. Esta ambição de ter uma equipa em 80/90% formada no Seixal é uma ideia absolutamente utópica.
Hoje é dia é completamente impossível ao Benfica competir financeiramente com os ditos “tubarões”, portanto está muito depende das receitas de transferências para a sua subsistência económica. Ainda que assim seja, a direção do Benfica pouco ou nenhum esforço faz para manter as suas pérolas do Seixal. Bernardo Silva, João Cancelo, Hélder Costa, Ivan Cavaleiro, Renato Sanches, André Gomes, Gonçalo Guedes. Todos saíram de forma precoce do Benfica, privando o clube encarnado dos seus melhores anos. Eu percebo perfeitamente a necessidade de liquidez no clube, mas esta necessidade e prioridade pelos encaixes financeiros não é, no entanto, compatível com um discurso de ambição a nível europeu.
Com o passar dos anos, os clubes do dito “Big Five” (Espanha, França, Alemanha, Inglaterra e Itália) vêm os seus orçamentos multiplicar-se, fruto dos incrementos nos acordos de patrocínios, prémios das competições europeias (o impacto financeiro que a não ida à Liga dos Campeões tem tido no Sporting CP é absolutamente brutal, por exemplo), acordos de direitos televisivos e mesmo a influência de investimentos externos. Com estas diferenças astronómicas a nível financeiro, e estando inseridos numa competição feita de forma a “facilitar” a vida a grandes potências (Liga dos Campeões), o Benfica e os demais clubes portugueses vão ficando, irremediavelmente, para trás face à elite da Europa, havendo já um grande fosso entre o Big Five e os restantes campeonatos. O Benfica continuara a ser sem dúvida nenhuma uma das equipas mais dominadoras a nível nacional, mas a nível europeu sentirá cada vez mais dificuldades em aproximar-se dos “tubarões” tendo de existir um “alinhamento de estrelas” perfeito para que os encarnados façam uma grande prestação na Liga dos Campeões.
Mudando agora completamente de perspectiva. Do optimismo absoluto para um pessimismo e uma descrença clara. Recentemente o ex-jornalista, e agora comentador desportivo, José Marinho, declarou à BTV não compreender a origem desta “exigência tola” dos adeptos, a nível europeu. Complementou a perspectiva dizendo que, olhando para os resultados do Benfica, desde os anos 60, é completamente impossível acreditar num Benfica conquistador na Europa.
Primeiramente, a origem desta exigência vem obviamente das declarações do presidente, que vai repetindo a ideia em 90% das suas declarações públicas. Em segundo lugar, esta perspectiva de pessimismo e normalização dos maus resultados europeus não é nada positiva, nem pode ser adoptada pelos adeptos benfiquistas. É verdade que, como já referi, é impossível ao Benfica competir com os grandes clubes europeus por diversas razões, mas não é de todo normal ou aceitável que o Benfica apresente tão maus resultados na Europa.
Nos últimos anos, o Benfica ganhou ao Atlético de Madrid na capital espanhola, eliminou a Juventus FC (que ano seguinte estaria na final da Champions), deu muitíssima luta a um Bayern de Munique fortíssimo, venceu o Borussia Dortmund na Luz, eliminou o Zenit duas vezes nos oitavos da Champions e perdeu no limite com o Chelsea FC de Di Mateo (que viria a ser campeão europeu). É normal que haja uma exigência comedida por parte dos adeptos encarnados, mas é muito injusto – e passível de provocar problemas cardíacos – pedir à equipa que esteja na primeira linha para conquistar um título europeu.
Num ano em que o Benfica vive, supostamente, o melhor momento financeiro da sua história, Luís Filipe Vieira não conseguiu construir um plantel melhor que o da época transacta, mais uma vez contradizendo o seu discurso, o que torna compreensível certas críticas dos adeptos. Mas também não podemos cair na tendência de normalizar os maus resultados europeus. Nem tanto à terra, nem tanto ao mar. Tem que existir necessariamente uma exigência ao nível da grandeza do clube, mas essa exigência tem que ser comedida e adaptada ao panorama no qual o clube está inserido."

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