"A temporada do FC Porto é um desastre. Até ao Ano Novo, quando alguém ousava questionar a cronologia decadente da equipa supercampeã, comparando implicitamente e muito ao de leve com o ano anterior, logo surgiam as vozes oficiais recordando, factualmente, que continuava nas diversas frentes, que estava à frente do campeonato, que não tinha perdido, etc.
Mas por essa altura a Liga dos Campeões já se tinha ido perante adversários menores, a Taça de Portugal idem após 25 eliminatórias consecutivas e a liderança da Liga era uma mera formalidade, pois o cotejo semanal com o Benfica há muito pendia para os encarnados. Com regularidade assustadora, os resultados iam desfazendo o mito, num cenário de desorientação e amolecimento da temida “máquina” portista.
A gestão de um plantel campeão e cheio de ambição exigia uma liderança muito competente, muito personalizada, muito decidida. A ganância dos jogadores e seus agentes, o ego das vedetas, a vertigem dos grandes negócios e, consequentemente, o eterno confronto entre o comodismo e a alta competição impunham um casting mais elaborado da sucessão de Villas-Boas.
E a precipitada aposta em Vítor Pereira, selada com uma cláusula de rescisão magnânima, contrastava logo à partida com aqueles objetivos. Não pela comparação, impossível de realizar de forma honesta, mas pela falta de garantia de rendimento num quadro de competição previsivelmente mais apertado. O FC Porto de 2012 justificava um senador, mas foi entregue a um iniciado – o cenário propício a que tivesse de correr mal o que podia correr mal.
Para a materialização da lei de Murphy na pauta dos resultados, as hesitações, deambulações e cambalhotas do treinador foram em gravidade e quantidade suficientes para provocar uma enorme ebulição em qualquer clube com uma vida associativa pouco menos do que vegetal.
Fucile, Sapunaru, Guarín, Fernando, Cristian Rodríguez e Belluschi em instabilidade permanente. Iturbe desamparado. Defour, Mangala, Alex Sandro e Danilo difíceis de pagar e de integrar. Kléber e Walter imolados no altar de Falcão. Hulk sacrificado e em depreciação galopante. Um naufrágio em larga escala, com um comandante à deriva, agarrado aos quatro ou cinco sobreviventes que ainda vão mantendo a barca à tona, incluindo Helton, o capitão despromovido na noite da desgraça.
A época está a ser um desastre, mas o FC Porto como o conhecemos nunca renunciaria a cinco meses do fim. A aposta firme da SAD neste treinador, contra todos os prognósticos, não merecia, por isso, uma declaração de desistência como a proferida em Barcelos, ao admitir implicitamente que o outro clube estaria a ser conduzido ao título e, a 13 jornadas do fim, podia até encomendar as respetivas faixas.
De todos os erros, este foi o maior, só comparável à desistência de Quinito em 1987. Porque acusar o abalo de duas derrotas copiosas sob supervisão de Bruno Paixão em pouco mais de dois meses diminui a “organização portista” para um nível de incompetência que a desvaloriza e descaracteriza: resumiu Vítor Pereira ingenuamente que, afinal, não só não há dinheiro, como nada está tratado."
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