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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O nosso Eusébio

"Eusébio fez 70 anos e houve festa, dentro e fora do Universo Benfiquista, porque o aniversariante tem, e continuará a ter, uma invulgar capacidade de gerar consensos, num País onde eles são cada vez mais raros.

Na verdade, Eusébio está acima das querelas que envenenam, das polémicas, dos confrontos clubísticos e das picardias de circunstância. E porquê? Porque conquistou em vida o estatuto de mito, não só por ter sido um jogador genial, mas também por ter imposto, enquanto jogador, uma qualidade humana a que nunca deixou de estar associado o espírito de sacrifício, o brio profissional e o respeito pelo outro. Num País onde dia a dia se multiplicam os factores de tensão e atrito, é importante que existam personalidades e áreas de convergência e consenso que nos podem unir e mobilizar. Eusébio inscreve-se há muito nesse patamar que é uma espécie de panteão no qual muito poucos têm lugar cativo.

De Eusébio não há quem diga mal, porque ele está acima das 'doenças' colectivas de inveja e da maledicência que tanto nos fragilizam. Numa época em que todos procuram culpados para quase tudo e julgam os outros por tudo e mais alguma coisa, deixando apenas de fora a sua própria consciência, é gratificante saber que há figuras que juntam o respeito, a admiração e o afecto.

Dito isto, acrescente-se que não estamos a falar de beatificações ou de entronizações. Estamos, sim, a falar da unanimidade de que resulta da excelência de uma carreira em que várias gerações se reviram e em que algumas outras, em tempo de excesso de fama e fortuna com volúpia mediática, também gostariam de se rever.

As lágrimas de Eusébio em Wembley, em 1966, foram as nossas lágrimas. Quando chorou após a derrota na final do Euro 2004 também fomos nós que chorámos, porque ele representa a pureza e a constância de uma emoção que todos sabem ser genuína e constante. Por isso foi bonita a festa dos 70 anos de Eusébio, como se um povo angustiado e triste lhe dissesse: 'Vê, consegues marcar o golo que falta neste jogo decisivo contra a adversidade e a incerteza'."


José Jorge Letria, in O Benfica

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