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terça-feira, 13 de setembro de 2016

Mudar a arbitragem, sim, mas a sério

"Com o mesmo árbitro a decidir, Fábio Veríssimo, em lances fotocopiados, com o FC Porto já 'penalty' (Rio Ave), com o Benfica não (Arouca).

Apesar das acções de formação feitas durante a interregno das competições nos clubes e até nas recordações de jornais, no sentido de explicar o básico das dezenas de alterações nas regras do jogo de futebol e que entraram em vigor na presente temporada, continuam dúvidas no ar, principalmente no que se refere à interpretação de lances com evidentes, semelhanças, sem se observar, porém, a necessária coerência ao nível dos julgamentos e das medidas aplicadas.
Devagar, talvez, mas queremos acreditar que as coisas estão a mudar, para melhor, notando-se algaraviada mais contida na discussão de situações, na maioria delas sem nada para discutir. Se transportássemos o último encontra entre o United e o City para aquilo que são os hábitos e os costumes práticos teríamos gritaria para três meses, tal a intensidade e sucessão de casos geradores de turbulência analítica.
Começo precisamente por aqui, trazendo à colação o jogo do FC Porto em Roma em que, a duas entradas brutais de jogadores italianos, De Rossi e Emerson, uma delas a provocar lesão grave em Maxi Pereira, correspondeu a mostragem de dois cartões vermelhos, ficando a ideia de que a partir de agora a integridade física do praticante é tida como ponto de honra, na valorização do espectáculo e na protecção do artista face ao destempero caceteiro. Estou de acordo, estaremos todos de acordo, mas idêntico critério não foi seguido, por exemplo, em Old Trafford, quando o guarda-redes do City, como recurso desesperado para corrigir uma asneira que fizera voou com as pernas à frente e os pés como duas setas apontadas na direcção de Rooney. Se há lances para partir osso este foi um deles e, no entanto, nada aconteceu: não houve penalty, nem expulsão. Não houve nada, o quem entra em contradição com o que se assistiu em Roma e também com o que se tem observado por cá, em que os árbitros se equilibram no meio termo, nem tão bondosos como o inglês Clattemburg, nem tão rigorosos quando o polaco Marciniak.

O que me traz hoje ao tema arbitragem tem a ver, no entanto, com o recente Arouca-Benfica e com o despique entre o benfiquista Rafa e o arouquense Hugo Basto em que, é a minha opinião, o árbitro devia ter assinalado penalty por empurrão ao defesa do emblema visitado.
Já estaremos a passar o tempo em que um sopro bastava para fazer cair o avançado e sacrificar o defesa e a douta decisão de assinalar ou não penalty ficava ao livre arbítrio do juiz de campo, o qual julgava a favor da direcção do vento, por conveniência e por ser o único com poder de avaliação sobre a intensidade do toque ou, em linguagem mais simples, validar a trapaça de quem usava o expediente da queda. Mas isto era antes, ou não?
Voltando ao referido lance de Arouca, o árbitro em questão, Fábio Veríssimo, um dos internacionais fabricados em laboratório, entendeu que tudo se desenvolveu sem ferir os limites da legalidade. Como não estou de acordo, embota me falte a sabedoria para contrapor, recorri a quem sabe, aos textos em A BOLA de Duarte Gomes, dos quais me tenho servido para me orientar nesta difícil fase de transição.
Elogios a Fábio Veríssimo à parte, Duarte Gomes destacou a dificuldade de análise em «incidente que ocorreu em grande velocidade» e «com um contacto quase imperceptível a olho nu». Até aqui, tudo bem, mas não alcancei o sentido da explicação adicional, ao sublinhar que os árbitros têm directrizes claras do Conselho de Arbitragem para «não punirem contactos menores» e para serem «menos interventivos tecnicamente». Como? Tanto assim, que, na jornada de abertura, no Rio Ave - FC Porto, em lance que classifico como retrato do que se viu em Arouca, entre Marcelo (empurrador) e Otávio (empurrado) e análise especializada chegou a diferente conclusão, transformando-se o toque menor em «empurrão de Marcelo a um adversário», que conduziu a «muito boa leitura, excelente decisão» ao assinalar penalty.
Na opinião de Duarte Gomes foi penalty, nos dois casos, mas na prática, com o mesmo árbitro, em lances que considero fotocopiados, com o FC Porto foi sim, com o Benfica foi não. Objectivamente, está a mudar o quê?"

Fernando Guerra, in A Bola

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