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quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Ai o quê? Levaram com um pau?


"É entre comunicados, provocações nas redes sociais, frames ao milímetro e jogadas em câmera lenta que o futebol português se despede de 2025. Alguém viu Pedro Proença?

12 de fevereiro de 2021. O Benfica vencia no Estoril (3-1), na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal, e Jorge Jesus, agastado com as simulações dos jogadores em campo, deu espetáculo na sala de imprensa: «Não são os do Benfica, os do FC Porto... São todos. Hoje em dia, qualquer coisinha, um toque na pestana, 'aaaai', parece que lhe arrancaram um olho, para o árbitro assinalar falta. Os jogadores portugueses estão nesta treta. (...) Tocam com a unha, dão gritos e parece que levaram com um pau! Aos meus jogadores digo-lhes a mesma coisa. 'Ai o quê, ó?! Levaste com um pau?!'. Temos de ser mais sérios, respeitar mais o jogo e o futebol», disse o então treinador do Benfica.
Quase cinco anos passaram e as palavras do carismático JJ continuam mais atuais do que nunca. Só mudaram os intervenientes. Então, o alvo eram os jogadores, o queixume quase diário agora é dos clubes e logo daqueles que, feitas as contas no final da temporada, acabam sempre por ser os mais beneficiados. José Mourinho diz que os outros «choram, pressionam e gritam», Francesco Farioli vai até 1959 para falar de Inocêncio Calabote — saberá o italiano sequer do que se trata? — e Rui Borges, com a transmissão televisiva no tablet à sua frente, disse não ter tido oportunidade de ver o ridículo penálti que levou 14 minutos a ser assinalado nos Açores. Já não há pachorra, meus senhores.
Numa altura em que a centralização dos direitos televisivos é tema do dia e fundamental para a próxima década do panorama do futebol nacional, continuamos a servir lá para fora um deprimente espetáculo de estádios às moscas — nos Açores, em casa do Santa Clara, o Arouca tinha um (!) adepto na bancada visitante —, polémicas com VAR, suspeitas de nomeações de árbitros e escalpelização milimétrica de foras de jogo vistos ao frame. Já estou como Hugo Oliveira, treinador do Famalicão, que, após o jogo de anteontem na Luz, ganho pelo Benfica com penálti assinalado no VAR, disse ter saudades dos tempos em que o pobre árbitro tinha de decidir na hora, sem ajuda tecnológica, e conviver com essa decisão, fosse qual fosse.
Mais do que vocação e aptidão, ser árbitro em Portugal passou a ser um ato de coragem e não é por isso de estranhar que sejam cada vez menos os que o querem ser. Há muito que Pedro Proença, como figura máxima do futebol em Portugal, deveria ter dado murro na mesa, mas parece que as aparições públicas estão reservadas para os dias de sucesso das Seleções Nacionais. É o que temos.

P.S. — Por falar na Federação Portuguesa de Futebol e em Pedro Proença, absolutamente vergonhosa, desnecessária e de mau tom para os envolvidos a calamitosa gestão do novelesco Caldas-SC Braga. A prova é (era?) rainha, a liderança é muito abaixo disso. Haja um mínimo de decência."

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