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domingo, 29 de julho de 2018

Pouco importam os adeptos

"Pode um clube existir sem adeptos? O Belenenses (SAD) parece querer mostrar que sim. Cortada a ligação que restava ao clube e os laços emocionais do Restelo, pouco fica do clube tem nas suas vitrinas um troféu de campeão nacional. No fundo, a Liga NOS 2018/19 terá entre os participantes um clube novo, que veste as mesmas cores do Clube de Futebol Os Belenenses - mas nem sequer o mesmo emblema.
É uma realidade nova no futebol português, mas os sinais há muito que estavam à espreita. A tricefalia que se vive no nosso país foi esmagando os restantes clubes para aquilo que são hoje: pouco representativos em termos sociais, muitas vezes nem sequer localmente. Tornou-se banal ver jogos de Liga com poucas centenas de adeptos no estádio. É, muito provavelmente, aquilo que vai acontecer com este novo Belenenses (SAD), mas o mais triste é que o aspecto das bancadas do Estádio Nacional não será muito diferente daquele que já se vê em grande parte dos outros recintos, mesmo de clubes fundados há quase 100 anos.
No actual modelo de negócio do futebol português, as fontes de receitas para quase todos os clubes são apenas três: direitos de TV, bilheteira dos encontros diante de FC Porto, Benfica e Sporting e transferência de jogadores. Tudo o que seja relacionado com a dimensão do próprio clube, seja venda de bilhetes anuais, quotização ou merchandising, é insignificante para a maioria. Por isso, chame-se Belenenses ou FC Jamor, nada coloca os azuis atrás da concorrência directa no arranque da Liga. Continuará a receber o mesmo da televisão, a ter boas casas nos jogos com os três grandes e a, se a época correr bem, vender os melhores jogadores.
Esta indiferença leva, aos poucos, ao declínio do nosso campeonato. Não é um fenómeno exclusivo de Portugal, mas o desequilíbrio crónico que sempre tivemos (e não só no futebol...) potencia o problema. Actualmente, é mais fácil encontrar um adolescente que tenha o onze do Bayern Munique na ponta da língua do que um que consiga dizer o nome de cinco jogadores de qualquer equipa que tenha acabado a Liga NOS abaixo do sexto lugar. A globalização tem este efeito: aproxima-nos de estrelas que antes só víamos uma vez por semana (e nem sempre), ao domingo à noite.
O Belenenses (SAD), 'clube' sem adeptos, que oferece (sim, de borla) o bilhete de época a quem o teve em épocas anteriores, poderá ser a primeira experiência do género. Mas nada impede que o fenómeno se repita: com o dinheiro certo, é possível 'inventar' um clube, levá-lo à Liga e, depois, montar o negócio no mesmo modelo em que quase todos vivem: TV, receitas de jogos grandes e venda de futebolistas. Basta isto para que os adeptos se tornem definitivamente supérfluos."

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