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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Quando mudar é necessário e o maior talento português D.C.


"De novo a velha pergunta da gestão: quando é necessário mudar? Antes que seja necessário.
Estranho como alguém tão inteligente como Rúben Amorim demorou tanto a perceber que se deteriorava o contexto tático, que depois também é mental e, por via disso, igualmente técnico, traduzido em erros inesperados, mas que tornam mais habituais, do guarda-redes ao ponta de lança. À terceira época plena no comando a equipa não melhora, regride. E é mais que os pontos, são os jogos, repetitivos, tristonhos, burocráticos.
Não ter um avançado goleador (não, não é Chermiti, que não tem ainda condições de o ser) apenas agrava o problema, não o explica. Não houvesse Marcus Edwards – joga tanto! - e cada nó seria ainda mais difícil de desatar. Amorim admite finalmente cansaço com o modo de jogar, estruturado sobre a eterna linha de cinco na defesa. Há muito que se nota. Aqui chegados, não há terceira via: ou Amorim muda este Sporting ou este Sporting vai mudar de treinador.
E já agora: claro que ganhar a Liga Europa salvaria a época, a do Sporting como a de outro clube qualquer.
O Barcelona mudou. Com dores de crescimento, algumas fortes, mas mudou. Xavi Hernández encontrou a porta do futuro resgatando o melhor das ideias do passado: Gavi e Pedri, émulos incríveis de Xavi e Iniesta, apoiados no futebol suave de De Jong e na geometria perfeita de mestre Busquets. Atrás tem agora defesas que são bons de pés e rápidos de pernas em simultâneo e na frente o génio orientador de Lewandovski, o Van Basten do século XXI.
O erro foi querer construir um outro estilo que era metade cruyjffiano-guardiolista e outra metade uma coisa indefinida, que acomodava tanto Rakitic, Arthur, Griezmann e o De Jong craque, como Arturo Vidal, Adama Traoré, Braithwaite e o De Jong matulão. Água e azeite dificilmente se misturam.
João Félix era água e azeite à vez, em Madrid, mais operário que artista por amarração tática, peixe fora de água quase sempre. Também ele deixou de persistir no erro de trabalhar com um treinador que até aprecia craques mas depois não sabe o que fazer com eles. Ou pior: tenta fazer deles outra coisa, quando os condena a um ostracismo distante da baliza adversária.
Um problema para Félix como antes para Cerci, Gaitán, Jackson, Morata, Lemar, também Correa, e agora até para Griezmann, que os anos lhe deram em compreensão do jogo o que lhe levaram de velocidade e para Simeone a segunda vale mais. Como jogador, Félix não cresceu com Simeone, apenas perdeu tempo.
Aos 23 anos está, todavia, a atingir a maturidade que lhe deve anular a intermitência. E está no campeonato que mais valoriza os artistas e o espetáculo, tem um treinador que aposta a sério nele e colegas que se espantam com o que é capaz de executar, nos treinos e nos jogos. Se as lesões o pouparem, só depende mesmo dele cumprir-se como o maior talento futebolístico nascido em Portugal D.C.. Depois de Cristiano, pois claro."

Carlos Daniel, in ZeroZero

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