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sábado, 12 de março de 2022

Os 2 maiores mitos do SL Benfica


"Que mitos encarnados é que acrescentarias?

Tentámos compreender a mitologia encarnada. Saltaram-nos à vista dois dos mitos mais curiosos e basilares da História encarnada por razões diversas.
O primeiro pelo peso com que ainda hoje permanece junto do imaginário coletivo e com provas de que realmente afeta o rendimento das equipas dentro de campo, apesar das bases frágeis com que se originou.
O segundo por ser concepção perdida num passado que não é tão distante assim – mas que já praticamente só ouvimos de familiares mais experientes, os quais soltam a expressão quase inconscientemente quando é preciso um “murro na mesa” durante um jogo menos conseguido.

1. Maldição de Béla Guttmann
Que é uma construção de final dos anos 80 e que ficou sobretudo cimentada pela presença de Eusébio junto do túmulo do “Feiticeiro” antes da final do Prater, em 90 – numa tentativa de redenção. O King era muito supersticioso.
A frase que suporta a convicção desses, dos mais afetos à superstição – “ Nem daqui a 100 anos uma equipa portuguesa será bicampeã europeia e o SL Benfica jamais ganhará uma Taça dos Campeões sem mim” – foi desabafo que teimou, durante muito tempo, em descobrir-se-lhe a origem: mas em 2018, o jornal A Bola publicaria artigo que apontava para 1968, já o SL Benfica levava duas finais perdidas.
Alberto Miguéns, o maior especialista da História encarnada, denuncia incongruências na tradução dessa entrevista dada ao Sport-Illustrierte, revista em língua alemã, que invalidam a “maldição” e prossegue a desmistificação referindo peças do mesmo jornal: em 1963, logo após sair da Luz, Béla daria entrevista onde prenunciava que o SL Benfica voltaria «a ser campeão europeu».
Na realidade, a ligação emocional entre treinador e clube era tão forte que propiciou o regresso em 1965-66, embora sem grande sucesso; E em 1974, no final da carreira, nova entrevista – na qual chama a atenção para um emblema do SL Benfica que usaria incondicionalmente na lapela do casaco, feito de «pedras preciosas»!… – onde repete as boas intenções, afirmando que o Benfica poderia «ainda voltar a ser grande na Europa».
O mito da maldição cresceu envolto em histeria, utilizado maioritariamente pelos adversários e imprensa em espécie letal de “mind games”, sendo até utilizado nas finais da Liga Europa – quando o suposto desabafo inicial, destacado literalmente e sem olhar a contexto, apenas se referia à Taça dos Campeões Europeus, atual Liga dos Campeões.

2. 15 Minutos à Benfica
Uma readaptação do “quarto de hora à Belenenses”, instaurado na final do Campeonato de Lisboa de 1926 (5-4 ao SL Benfica) e também parte integrante no único campeonato nacional ganho pelos da Cruz de Cristo, em 1945-46, no jogo derradeiro em Elvas.
A versão benfiquista tem a sua origem disputada pelas circunstâncias do tempo e as reclamações geracionais de autoria; mas é comumente apontada ao jogo da 2ª mão dos Quartos de final da Taça dos Campeões de 71-72, aquando dos 5-1 ao Feyenoord a responder ao 1-0 da primeira mão.
Ernst Happel, lendário treinador austríaco, falava de um SL Benfica «provinciano» e que lutaria para não descer na Eredivisie, sendo «do nível de um Excelsior» – como campeão europeu e intercontinental dois anos antes, achava-se na mó de cima e intocável.
O SL Benfica entrou bem no jogo da Luz, fez cedo o 2-0 que arrumava a eliminatória. Van Hanegem reduz aos 75’, balde de água fria e que fez os holandeses acharem que estava tudo feito. Ora, a partir daí, uma das mais famosas versões dos ‘15 minutos à Benfica’ transforma 2-1 em 5-1, mostrando mais uma vez à Europa que o SL Benfica dominador da década de 60 continuava vivo.
Há outra versão – os “10 minutos à Benfica”, ou 20, como corrigiu Carlos Manuel – que ficou tradicional na Luz. Aos microfones de um podcast do projeto Benfica Independente, o antigo médio benfiquista explicou o contexto desta peculiaridade tradicional de antigas equipas do SL Benfica, que diferenciava dos 15 minutos enunciados antes por ser período frenético interpretado… no início das partidas.
«Cheguei a ouvir: “hoje é 20 minutos para acabar com isto que é para não corrermos muito…” ‘pá, mas aqueles 20 minutos tinham que ser a sério… e normalmente acontecia. Quando era essa a ordem, Jesus!…»
Já Mozer, aos mesmos microfones, dava a sua versão: «Foi a primeira coisa que me ensinaram, foi logo o Diamantino. A gente entrava pelo túnel e depois os jogadores mais velhos (o Shéu, o Veloso, o Carlos Manuel, o Diamantino, o Águas): “oh malta, 10 minutos, 10 minutos! E eu sem saber o que eram os dez minutos… Dez minutos à Benfica!”
Eu ficava pensando… aí eu perguntei no Diamantino que coisa era aquela dos 10 minutos, ele virou para mim e falou “Mozer, aqui aos 10 minutos temos que estar ganhando senão os índios (adeptos do Benfica) vão ficar doidos”.
Mas como? “Não importa como, podemos não ´tar jogando porra nenhuma mas tem que ´tar 1-0”. Mas Diamantino, o jogo não tem 90 minutos? “Não, Mozer, aqui não tem”.
Eu lembro-me que não jogávamos, atropelávamos todo o mundo só para chegar a esse resultado, esses primeiros minutos na Luz eram ensurdecedores, nunca vi uma coisa daquelas… Era um barulho tão grande, tão grande, que a gente não jogávamos nada – atropelávamos. Só conseguíamos jogar à bola como deve ser depois desse período. Era uma avalanche, uma pressão até conseguirmos fazer esse golzinho e aí sim, o público acalmava…»."

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