Últimas indefectivações

terça-feira, 12 de novembro de 2024

FC Porto foi fraco onde faz a sua força e o Benfica mais forte em tudo


"O que fica do clássico da Luz. Na realidade, os dragões não jogaram à-Porto, porém isso não teve que ver com entrega ou agressividade. Os encarnados foram superiores em todos os momentos, com bola e sem esta

Há uma razão para virar este clássico do avesso. Por muito mérito que tenha tido o Benfica, e teve, não me lembro de ver um FC Porto tão permeável como de ontem.
Os encarnados podiam ter chegado ao intervalo com vantagem esclarecedora, que traria, eventualmente, contornos ainda mais dramáticos para a segunda parte. Para comprovar a tese, basta antecipar como cenário o que se passou após o 2-1, mesmo que todos saibamos que o futebol não caminha por uma estrada única.
Há demasiadas encruzilhadas em 90 minutos. Algumas criadas até por supostamente quem quer bem à equipa que apoia, como as infantilidades que vieram das bancadas, que cortaram o ímpeto aos seus e até abriram caminho para o empate, praticamente caído do céu em simultâneo com Otamendi (mais um erro inexplicável). Até aí só um ou outro calafrio de Trubin, provocado de longe por Galeno.
No entanto, além do golo, da bola no poste e das várias aproximações à baliza de Diogo Costa, transpareceu a ideia de facilidade para os homens de Bruno Lage.
O jogo nunca pareceu complexo por aí além para o Benfica. Mérito dos encarnados, sim, mas óbvio demérito dos visitantes. Notou-se na forma como a equipa de Lage conseguiu iludir a pressão portista – grande jogo de Tomás Araújo, o melhor em campo – e, depois, encontrou abertura nos meios-espaços para o passe vertical. Em dois, três passes, as águias acercavam-se da área adversária. Visível também a exploração do canal interior entre central e lateral-esquerdo por Aursnes e Bah, com Di María a servir como catalisador ou referência, e que resultou na confirmação do triunfo.
Os dragões estiveram demasiado longe uns dos outros, sem coesão, muitas vezes desorganizados, e foram fortemente penalizados. Curiosamente, se os holofotes estão apontados para o eixo defensivo e até para os laterais, a falta de cobertura do duplo-pivot, formado por Varela e Eustáquio, são evidentes no segundo e terceiro golos dos encarnados.
Disse-o antes e continuo a acreditar que este FC Porto está num ano zero. E um ano zero não justifica (se é que algum justifica) descidas ao balneário para gritar com os jogadores ou protestos no Olival. Mesmo com a exigência que existe no Dragão.
Houve demasiadas mudanças e, por muito que o trabalho feito tenha conseguido camuflar mais uma quebra de qualidade no plantel – Vítor Bruno anda desde o verão à procura das duplas certas de centrais e médios defensivos – e todas as alterações feitas, e as fissuras iriam naturalmente aparecer um dia. O arranque na Liga tem sido exemplar à exceção do confronto com os rivais diretos e achar que o clube poderia sair de um estado financeiro comatoso para uma dimensão futebolística semelhante à dos outros candidatos seria sempre cenário demasiado otimista.
Claro que se pode falar da abordagem mais cautelosa do FC Porto, ainda que não ao nível do Benfica em Munique, mas ainda assim fora da sua natureza mais controladora. Algo que poderá ter a ver com a forma como o treinador sentiu a equipa depois da derrota de Roma, na Liga Europa. Ou terá sido apenas estratégia falhada.
Na primeira fase de construção também se notaram muitas dificuldades para ultrapassar a pressão dos encarnados, bem alta e agressiva, que se não roubava a bola obrigava a bater e assim a recuperava para mais um ataque.

De um Tomás Araújo brilhante à importância de Florentino
Já o Benfica voltou ao conforto do 4x3x3, que mais uma vez se mostrou competente em ambos os momentos – voltando a isolar, por oposição, o nonsense de Munique –, com bola e sem esta, que coincide com a qualidade de uma das suas principais figuras: Aursnes.
Os encarnados pressionaram bem e souberam sempre sair bem da pressão contrária, atraindo os jogadores de Vítor Bruno até ao limite. Depois, aproveitaram o espaço e souberam ferir. Carreras voltou a sublinhar crescimento, Di María mostrou o que ainda consegue fazer no momento da definição (espantosa a finalização no 2-1) e Florentino vincou a necessidade que todos os treinadores têm dele quando precisam de equilíbrio e que, num ou noutro momento, pode sair da casca, como na jogada do penálti sobre Otamendi, que valeu o penálti e o bis a Di María.
O Benfica sai melhor do clássico e vê, com a saída de Rúben Amorim de um Sporting em estado de êxtase, uma luz ao fundo do túnel na corrida ao título. No entanto, nem tudo está perfeito, como se viu diante do Farense.
As duas derrotas consecutivas colocam o FC Porto em estado de alerta. É verdade que ainda pode corrigir na segunda volta, no Dragão, o resultado com os rivais, mas há fissuras a aparecer, que precisam de ser tapadas quanto antes. A pausa terá de servir para isso."

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!