Últimas indefectivações

domingo, 11 de maio de 2025

Sempre à espera que corra bem...


"Hoje, jogam Benfica e Sporting. Que 'approac' de qualidade ao dérbi tiveram Rui Costa e Frederico Varandas?

Lembro-me do terceiro anel. Da magia criada com a dimensão única de um estádio que ultrapassava fronteiras, pela capacidade e pelos feitos do dono da casa e da Seleção Nacional.
Lembro-me da construção da pala e da bancada central, momentos essenciais da personalidade de um estádio renovado e projetado para um público diferente e arrojado.
Falo-vos dos antigos estádios da Luz e de Alvalade, expoentes da melhor tradição clubística aliada à capacidade de prever o futuro próximo de Benfica e Sporting.
Chegamos aos dois emblemas essenciais do desporto em Lisboa, rivais absolutos na condição desportiva, mas, cada um a seu tempo, ânimo e agenda, contribuintes exímios para a ambição e revelação de cada um dos seus adeptos e simpatizantes.
Narrei, para a Antena 1, a final da Taça de Portugal, há 29 anos, e, no momento mais drástico, não me apercebi da gravidade e das consequências.
A nossa emissão, fruto do trabalho inefável dos repórteres de campo da estação, mostrou-o e demonstrou-o.
Muitos anos passaram e jamais Benfica e Sporting a disputaram. Mas muitos dos episódios entretanto surgidos entre verdes e brancos e encarnados tiveram como fator de intolerância essa final da Taça de Portugal.
Sejamos agora claros nas memórias, objetivos nas ideias e, talvez, brutos nas palavras: os que radicam nos jogos entre Benfica e Sporting a memória do que passou pararam no tempo. Os que pretendem continuar a rivalidade entre águias e leões ao exemplo de um caso isolado, e dele fazem grito maior e tentativa de exemplo, não podem continuar no desporto.
Benfica e Sporting jogam logo. Disputam uma liga portuguesa ao limite, fruto da competitividade e do profissionalismo de dois conjuntos que, em todos os casos, fazem o melhor possível.
Imensos analistas terão merecido o melhor dos seus dias a cogitar, momento por momento, basculação por basculação, transição por transição, o que, de tão simples, parece ficar tão complicado. A paixão pelo jogo, ainda que muito tática e por vezes incompreensível à luz do cidadão comum, é o que o motiva e atrai.
Escrevo nas Seychelles, arquipélago tão só e tão simples que perceberia perfeitamente esta dialética no futebol português. E com uma distância geográfica que ainda mais me confirma o diálogo transversal que tenho com as dinâmicas lusas. Por exemplo, com quem pretendeu (e pretende) incendiar um já de si muito frágil ecossistema com a ideia de árbitros estrangeiros para o Benfica-Sporting ou para outros jogos de relevo do campeonato português. Custa-me perceber a ideia, ainda que a pudesse aceitar num âmbito global de cooperação e de desenvolvimento global do futebol internacional.
Assim, gratuita e pela simples influência de uma rivalidade exacerbada, exatamente, por essas peregrinas derivações, parece-me sem substância. Mais ainda, provocatória e atentatória da qualidade intrínseca dos árbitros portugueses. Quem dera ao país (começando pelos jornalistas…) que a sua notoriedade e mérito fossem ao encontro do que, na arbitragem de futebol, sempre tem acontecido nos últimos anos…
Vamos hoje ter Benfica e Sporting a lutar diretamente (o que não sucedia há muitos anos), pelo título, num jogo.
O que sobra desta fantástica realidade? Pinturas, ameaças, mentalidades pequenas e básicas emprestadas ao fenómeno e ao jogo, incapacidade de acompanhamento positivo, por parte da generalidade dos media, voracidade de sangue e multiplicação das polémicas.
É isto que sobra. E que, ainda por cima, domina as narrativas. Enquanto assim for, enquanto os noticiários só abarcarem, nos seus alinhamentos, a componente desgraçada e negativa, a educação e o exercício pelo exemplo continuarão arredios e, apenas, imagens de boas intenções.
Tomemos como exemplo João Pinheiro, o melhor árbitro português da atualidade.
Ao invés de nos congratularmos pela nomeação para a segunda mão da meia-final de uma competição europeia, questionamos o facto de, menos de 48 horas volvidas, dirigir o dérbi lisboeta, numa designação lógica e expectável. Isto é, em vez de aplaudirmos o reconhecimento internacional e o reposicionamento gradual que o João (e outros juízes portugueses) protagonizam no panorama muito fechado e lobístico da arbitragem internacional, criticamos a nomeação e o respetivo modelo.
Este é um fator exemplar do quão errado está o raciocínio e, sobretudo, o modelo seguido para pensarmos o futebol português. Ao mais alto nível, está projetado por alguns elementos de imensa qualidade e renovado exemplo, mas basicamente olhado em setores determinantes para o seu desenvolvimento.
Hoje, jogam Benfica e Sporting. Que approach de qualidade ao dérbi tiveram Rui Costa e Frederico Varandas? Que iniciativas foram tomadas para a dignificação do jogo, pelos principais responsáveis, ao longo da semana?
Logo, na tribuna de honra do Estádio da Luz, todos estarão certamente em prece para que todo corra bem. A montante, na imensa responsabilidade que os caracteriza, pouco terão feito para evitar climas, frases e contextos que, infelizmente, só terão de novo parangonas se e quando se repetir o pior momento da tal final, há 29 anos.

Cartão branco
Nuno Mendes, Vitinha, João Neves, Gonçalo Ramos e Luís Campos.
Vale a pena falar neles e sublinhar o papel fundamental que cada um deles, à sua maneira, teve no apuramento do Paris Saint-Germain para a final da Uefa Champions League.
Jogando ou não como titulares, os quatro internacionais portugueses revelaram-se essenciais na estratégia de Luis Enrique, um nome também incontornável dos sucessos europeus do clube da cidade-luz.
Campos é a alma. A referência que prova que, muito provavelmente, no estrangeiro há um reconhecimento muito maior quando se trata de talento…

Cartão amarelo
Amigos dizem-me que o Benfica, na conferência de imprensa de projeção do jogo com o Sporting, não terá permitido quaisquer questões a jornalistas da Rádio Observador e da TSF.
Se isso se confirma, é evidentemente um momento (mais um) de uma espécie de ditadura comunicacional latente, embora nem sempre patente.
O problema, porém, é ainda maior: se isso sucedeu, que solidariedade jornalística é esta, ninguém tendo saído da sala? Porque é que ninguém assumiu uma atitude séria e a sério?…"

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